Fazenda Três Saltos

Fazendas de Café do Vale do Paraíba Fluminense - 37

 22/11/2019     Historiador Sebastião Deister      Edição 269
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Esta propriedade foi a primeira fazenda produtiva da família do barão de Pirai (José Gonçalves de Moraes). Pelo fato de ser cabeça de sesmaria, tornou-se logo uma das mais importantes construções rurais da área irrigada pelo rio Piraí, fato que talvez explique a simplicidade de suas linhas de frontaria. Por outro lado, sua capela apresenta não apenas grande beleza, como também uma decoração em relevo dourado nas colunatas laterais do altar, obra concluída graças aos amplos recursos financeiros do barão. Segundo Fernando Tasso Fragoso Pires, outra de suas peculiaridades é a presença de um porão perfeitamente habitável, já que ele se encontra limitado ao flanco da colina em que se apoia a construção.

A família Gonçalves de Moraes foi pioneira na região de São João Marcos, nas proximidades de Piraí, onde nasceu, em 1776, seu filho mais ilustre, José Gonçalves de Moraes. Nas terras de Piraí, doadas por seu pai Antônio Gonçalves de Moraes, seu irmão, o padre Joaquim José Gonçalves de Moraes, fundou um engenho inédito na região. Tem-se conhecimento que, já em 30 de junho de 1818, padre Joaquim mandou demarcar e benzer o cemitério de Três Saltos, levando para aquela área seu irmão José como sócio e administrador da fazenda. Em testamento datado de 1828, o padre Joaquim lega sua parte na fazenda para o irmão, que, alguns anos mais tarde, passou a ser o único dono da propriedade. Os irmãos fizeram construir a casa de vivenda próxima às três quedas de um riacho que atravessa a fazenda, daí derivando o título da vasta propriedade.

Ali José se casou com Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves, irmã do Rei do Café (Joaquim José de Souza Breves), onde então se estabeleceu e criou sua prole de dez filhos. Em 18 de julho de 1841, José recebeu o título de barão de Piraí, com grandeza. Já nessa data era reconhecido como um dos maiores benfeitores da Freguesia de Santana de Piraí. Além de ter se empenhado na emancipação da freguesia ao lado de outros fazendeiros da região, organizava reuniões na Fazenda dos Três Saltos e arrecadava verbas para a construção da matriz de Santana de Piraí e dos prédios da Câmara, da Cadeia e do Júri. Através dos dotes concedidos às suas filhas, surgiram diversas e importantes fazendas de café na região, como é o caso da Fazenda Bela Alliança, doada à sua filha Anna Clara quando esta se casou com o comendador Silvino José da Costa, ou o da Fazenda Três Poços, passada para uma filha também batizada Cecília, casada com o comendador Lucas Antônio Monteiro de Barros, ou ainda das terras da Fazenda da Vargem Alegre, recebida pela filha Joaquina Clara, que se casou com Mathias Gonçalves de Oliveira Roxo, o primeiro barão, com grandeza, de Vargem Alegre.

Proprietário de diversas fazendas, além de Três Saltos - entre elas Fortaleza, Santa Rita do Bracuhy, Passa Três, Confiança e Poço de Espuma - José também possuía dois vapores ancorados no Rio de Janeiro de nomes Pirahy e Cecília, certamente em homenagem aos dois grandes amores de sua vida, sua cidade e sua esposa.

José Gonçalves de Moraes veio a falecer em 11 de outubro de 1859, aos 83 anos, deixando uma fortuna que contava com dez fazendas e 1.343 escravos. A Fazenda de Três Saltos ficou para a viúva, que morreu em 16 de junho de 1866. A partir de então, todas as terras ficaram em posse dos herdeiros até o início do século XX, quando provavelmente foram adquiridas por Manoel Gonçalves Vieira que, em 1928, repassou-as a um de seus herdeiros, o coronel Olívio Gonçalves Vieira. Desde então, a fazenda teve vários proprietários.

A propriedade está localizada no distrito de Três Saltos, no km 15 da estrada Pinheiral - Piraí, apresentando piso em terra com trechos asfaltados, distando aproximadamente 9 quilômetros do centro do município de Pinheiral e 13 quilômetros da rodovia Presidente Dutra. O nome da fazenda tem origem na cachoeira dos Três Saltos, que possui 3 quedas sucessivas com cerca de 10 metros de altura. No entorno da fazenda, a paisagem é dominada por morros baixos de vegetação secundária da Mata Atlântica. Já o acesso direto é feito por uma estrada de terra e, a partir do portão principal, percorre-se cerca de 2 quilômetros até a área principal da fazenda. Logo no início desta estrada existem as primeiras construções da propriedade, como alguns silos e uma edificação que serve de depósito e moradia de serviço, com cercados e pequenas coberturas para criação e proteção de equinos. Logo após esse primeiro entorno construído, chega-se ao núcleo bem cuidado da fazenda, cuja arquitetura interessante apresenta a inserção de edificações contemporâneas e um projeto paisagístico que envolve a casa-grande.

A sede fica situada num platô mais elevado, limitado por uma grande mureta de pedra que se prolonga à esquerda e à direita da construção. No baixio à frente desta edificação localizavam-se três terreiros de secagem de café, em cuja área hoje estão implantadas duas edificações novas, consubstanciadas em anexos para sauna e academia de ginástica. Além disso, há uma cisterna contemporânea junto à casa dotada de uma escada lavrada em pedra para acesso à parte inferior do reservatório. Na lateral esquerda do casarão levantou-se uma quadra polivalente, ao passo que à direita foram construídas três obras destinadas a acolher garagem, casa de funcionários, depósito, canil e viveiros. Segundo Isabel Rocha (representante do IPHAN no Vale), o engenho e a tulha situavam-se em área mais afastada deste núcleo, o que se confirmou pelos remanescentes de tal espaço antigo encontrados no caminho para o cemitério situado numa colina e datado de 1818. Pouco mais além, encontra-se a cachoeira dos Três Saltos, na lateral do riacho que corta a propriedade, onde também repousa um velho terreiro de café calçado com lajes de pedra.

Em Três Saltos não houve a formatação de um quadrilátero funcional, isto é, as edificações não contornavam o pátio de secagem do café. Por conseguinte, a implantação configura-se aberta com as construções locadas em linha. Há, entretanto, uma peculiaridade na disposição das palmeiras imperiais que, ao invés de formarem uma aleia delimitando e indicando o acesso ao grande casarão, na verdade compõem um quadrilátero fronteiro à casa principal. O entorno da casa-sede recebeu projeto paisagístico de Burle Marx, datado de 1980, trabalho que agregou grande valor à fazenda.

 

Fonte Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba