Fazenda Santa Eufrásia
...aos fundos, erguiam-se o engenho, a tulha e a senzala, local tipicamente demarcado por um pequeno trecho em pedra.
10/01/2020
Historiador Sebastião Deister
Edição 276
Compartilhe:
Implantada em uma área
de farta e rica vegetação formada por árvores seculares de grande porte que contornam
um belo açude, a fazenda apresenta acesso junto à Rodovia Lúcio Meira (BR-393),
entre Vassouras e Barra do Piraí, tendo sido construída provavelmente em finais
do século XVIII. Seu requintado mobiliário ainda ostenta uma bela conservação,
nele se destacando mesas, cadeiras, marquesas e vários objetos do século XIX.
A casa-sede da Fazenda Santa Eufrásia é circundada por um gramado e por
vegetação exuberante com árvores centenárias, mantendo também um açude. Pode-se
perceber que a área fronteira à casa e o açude compunham os antigos terreiros
de café da fazenda. A posição da edificação demonstra preocupação de relação
com o entorno, pois o casarão localiza-se num local estratégico. Assim, à sua
frente o terreno sofre uma declinação suave até o açude, enquanto na lateral
esquerda há um aclive (na verdade, um desnível maior) onde viceja uma plantação
de café. Próxima, encontra-se a atual casa do caseiro, e aos fundos, paralela à
construção principal, parte da antiga casa grande hoje usada como depósito,
separando-as um pátio e um muro de pedra coberto por vegetação. Ali ainda
existe um pequeno aclive com algumas edificações pequenas, como estábulo, caixa
d'água e uma canaleta em pedra.
Tombada pelo IPHAN, Santa Eufrásia compreende um exemplar valioso da
arquitetura rural do Vale do Paraíba, porém bem mais singela se comparada com
outras históricas propriedades da região. A casa térrea originalmente formava
um U, o que pode ser verificado através de imagens e características da
cobertura / telhado compondo um pátio interno que interligava os diferentes
setores da casa.
Atualmente, existem a casa principal (escritório, cozinha, banheiros,
quartos e salas de jantar, de música e de estar) e um anexo paralelo (garagem e
depósito). A casa possui inúmeros cômodos, sendo que os da ala esquerda tiveram
suas dimensões modificadas. Na fachada principal, encontramos uma espécie de
alpendre e um deck de pedras - espécie
de piçarra - sem cobertura. Além disso, há uma sequência de seis janelas de
guilhotina e almofadadas e quatro portas, sendo três duplas, isto é, as
internas almofadadas e as externas em caixilharia envidraçada com duas folhas.
Na fachada posterior, também se verifica a mesma tipologia de janelas e, nas
fachadas laterais, uma variação de janelas de guilhotina e janelas duplas,
algumas com as dimensões modificadas.
Existe nos beirais da fachada frontal um forro em madeira pintado de
branco, porém nas demais fachadas o madeiramento é aparente. Tal aspecto permite
visualizar a secção de algumas peças da estrutura do telhado.
O anexo paralelo está dividido em duas alas. No eixo encontra-se uma
espécie de átrio, visto que esta edificação, por suas características formais e
de localização, funcionava como ala de serviço. Na ala esquerda há quatro
cômodos e na ala direita cinco cômodos. As fachadas principal e posterior
apresentam janelas de dois tipos, em madeiras tabuada (enrelhada) de dimensões
similares à da casa-sede e algumas em madeira envidraçada de dimensões maiores
e horizontais, estas demonstrando preocupação com a iluminação interna dos
espaços. Há também diferenciação nas portas, algumas para o fluxo das pessoas e
outras para a entrada de materiais, equipamentos, máquinas e mesmo veículos.
Sabe-se que, aos fundos, erguiam-se o engenho, a tulha e a senzala,
local tipicamente demarcado por um pequeno trecho em pedra. No interior, aparece
importante acervo composto por mobiliário, louças e objetos comuns a uma casa
do século XIX, entre eles destacando-se uma liteira e as carruagens. O acervo
tombado inclui o bosque e a represa, essa criada para mover a roda d'água do
antigo engenho. O bosque abriga árvores centenárias.
Vários são os aspectos a serem abordados relativos ao sistema
construtivo que se originou no século XVIII e que ainda mantém as técnicas
características de tal época continuadas nos anos oitocentos. Lá estão a alvenaria
de pedra argamassada e de pedra seca, o adobe e o pau-a-pique, as paredes de
tijolos maciços e furados, o forro em estuque e em madeira encabeirado. Na
casa-sede, verificou-se embasamento em pedra e nas paredes, pau-a-pique, tanto
nas externas quanto nas internas. Algumas paredes internas foram substituídas
por alvenaria de tijolo furado, descaracterizando divisões internas. As
esquadrias externas possuem vergas e ombreiras retas e algumas portas internas
sofreram a influência do neoclássico, através da inserção de bandeiras.
Nas áreas da cozinha e banheiro há elementos modificados como pisos e
louças, mas na cozinha permanece um exemplar de pia, muito interessante e
bastante antigo, porém sem precisão de data. Na sala de jantar surge o forro em
estuque, com alguns elementos ornamentais, e nos demais compartimentos existe forro
encabeirado em madeira, com pequenas variações nos encaixes e desenhos.
Na edificação anexa, nas paredes mestras em adobe e nas paredes internas
em pau-a-pique, o embasamento é em cantaria aparente, bem como os cunhais,
variando com junta seca e argamassada. O piso externo da área, que não é
vedada, bem como os degraus existentes, também são em grandes peças de cantaria
encaixada. Alguns trechos das alvenarias foram substituídos por tijolos maciços
e algumas janelas, que seguiam a modernidade da arquitetura colonial, sofreram
alterações e ganharam uma nova forma alongada, recebendo envidraçamento. Outro
aspecto importante encontrado é o calçamento e a canaleta de escoamento em
pedra que existem ao redor das edificações.
Fonte Principal:
Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba