Visconde de Arcozelo - Dr. Joaquim Teixeira de Castro

O destino acabou por trazê-lo para a região conhecida como Roça do Paty do Alferes

 06/03/2020     Historiador Sebastião Deister      Edição 284
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Joaquim Teixeira de Castro nasceu no dia 14 de fevereiro de 1825 na pequena Vila de Arcozelo (daí seu título no Brasil), em Portugal, sendo filho de João Teixeira, rico proprietário de terras, e de D. Ana Joaquina Coelho de Castro. Formado em medicina, decidiu emigrar para o Brasil, e o destino acabou por trazê-lo para a região conhecida como Roça do Paty do Alferes. De fato, os ricos proprietários do vale do Paraíba por vezes iam à Corte no Rio de Janeiro, e lá contratavam, a peso de ouro, os médicos e outros profissionais especializados para que eles viessem prestar seus serviços com exclusividade em suas terras. Em obediência a tal costume, o barão de Paty contratou para suas fazendas o jovem e esperançoso médico português que mal desembarcara no país em busca de sucesso e fortuna, vindo prontamente colocar-se à disposição da família do barão na fazenda da Piedade, em Vera Cruz.

Paralelamente ao tratamento médico que dispensava à família do barão e a seus colonos e escravos, Joaquim interessou-se pela jovem Maria Isabel de Lacerda Werneck, a filha mais jovem do barão que, nascida em Paty em 26 de março de 1840, era exatamente 15 anos mais jovem que o médico. O casamento entre eles cobriu diversos interesses. Para o barão, era motivo de grande alegria entregar sua filha em núpcias a um homem que aos poucos se tornava um profissional competente e respeitável. Já para Joaquim, o enlace significava desfrutar das riquezas e do convívio de um sogro amigo e generoso, e, simultaneamente, praticar sua profissão com tranquilidade e conforto.

Com o barão, Joaquim aprendeu a usar a terra e a lidar com os negros escravizados. Assim, após a morte do barão em 22 de novembro de 1861, não lhe causou admiração o fato de receber como herança, por cabeça de sua mulher, parte significativa do patrimônio do sogro, como, por exemplo, grandes extensões de terras nas fazendas Monte Alegre, Manga Larga e Palmeiras, num montante de Rs. 362:510$990 (trezentos e sessenta e dois contos, quinhentos e dez mil e novecentos e noventa réis). Cinco anos depois, Joaquim comprou do cunhado Luiz Peixoto a fazenda da Piedade, em Vera Cruz, onde pretendia completar várias obras deixadas em aberto pelo barão.

Paulatinamente, Joaquim alargava seus domínios, e por volta de 1876 (já detendo o título de visconde, recebido do Reino de Portugal em 7 de maio de 1874), tomou posse da fazenda da Freguesia, então propriedade dos descendentes do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Consta, a propósito, que a família teria perdido a fazenda para o visconde numa mesa de jogo, mas não existem documentos que corroborem tal versão. De qualquer maneira, ao adquirir a propriedade, o visconde mudou-lhe o nome para fazenda de Arcozelo, hoje um patrimônio conhecido como Aldeia de Arcozelo, ali introduzindo melhoramentos nos prédios, ampliando as instalações das senzalas e multiplicando o número de escravos nas plantações.

Inquieto com os rumos indefinidos da economia brasileira, Joaquim Teixeira de Castro estendeu seus empreendimentos ao Rio de Janeiro, comprando nessa cidade diversos imóveis e construindo alguns outros prédios na antiga rua da Relação (atualmente o trecho entre a avenida Henrique Valadares e rua do Lavradio, na Lapa), passando, inclusive, a comercializar café como sócio da firma Teixeira & Braga & Cia.

Os filhos do visconde (todos com o sobrenome Werneck Teixeira de Castro) foram batizados como Ernesto (casado com D. Maria Paula Passos); Silvino; Francisco (casado com D. Alzira Helena); João; Joaquim; Luiz (casado com D. Maria dos Anjos Avelar Albuquerque); Maria; Mário (casado com D. Luiza de Melo Matos) e Raul (casado com D. Carolina Vieira).

Vitimado pela febre amarela, o visconde de Arcozelo faleceu em 1 de maio de 1891. O termo de seu falecimento e a declaração de herdeiros foram registrados no cartório de Vassouras (1º Ofício), com sua esposa sendo a inventariante. O segundo volume do inventário é quase todo formado por promissórias passadas à firma Teixeira & Braga & Cia., do Rio de Janeiro.

Os documentos determinavam como herdeiros, além da viscondessa, apenas cinco dos nove filhos (Ernesto, com 34 anos; Francisco, com 30 anos; Luiz, com 25 anos; Mário, com 14 anos e Raul, com 11 anos), não se fazendo nenhuma ressalva sobre o motivo da omissão dos outros quatro descendentes. Curiosamente, a única filha do visconde - Maria Werneck Teixeira de Castro - faleceu solteira. Por outro lado, todos seus irmãos ajudaram a perpetuar o sobrenome Teixeira de Castro e Werneck de Castro pelo Brasil, mantendo viva a estirpe de um português visionário que colaborou decisivamente para a prosperidade da Vila de Paty do Alferes e especialmente para a notoriedade da histórica fazenda da Freguesia, em Arcozelo.

 

BRASÃO DE ARMAS: Escudo partido, tendo à direita as Armas dos Teixeira: em campo azul uma cruz potentea, vazia de campo, e à esquerda as Armas dos Castros de Monsanto, de Cascaes, Unhão, Senhores de Penella e Penedono; em campo de prata seis arruelas de azul em duas palas. Brasão concedido por Alvará de outubro de 1876 ao 1º visconde e registrado no Cartório da Nobreza do Reino de Portugal.

TIMBRE: o dos Teixeiras: um unicórnio da sua cor armado de ouro, nascente, e por diferença uma brica de prata com um farpão verde.