Visconde de Araxá com honras de grandeza
Domiciano Leite Ribeiro foi agraciado com o título de visconde com honras de grandeza de Araxá por decreto de 15 de outubro de 1872
20/03/2020
Historiador Sebastião Deister
Edição 286
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Domiciano Leite Ribeiro foi agraciado com o título de visconde com honras
de grandeza de Araxá por decreto de 15 de outubro de 1872, tomando esta
designação da cidade homônima de Minas Gerais. Nascido em São João d'El Rei em
22 de abril de 1812, era filho natural do padre João Ferreira Leite e de Maria
Ifigênia da Costa, sendo ainda sobrinho paterno do barão de Ayuruóca (Custódio
Ferreira Leite) e da baronesa de Itambé (Francisca Bernardina do Sacramento
Leite Ribeiro).
Começou seus estudos na cidade natal, seguindo aos quinze anos de idade
para a cidade de São Paulo onde assistiu à inauguração festiva da Faculdade de
Direito em 1827, nela se matriculando em 1829 e recebendo seu bacharelado em
1833. Em tempo muito breve notabilizou-se na Província Fluminense como um
político atuante, além de respeitado magistrado, razão pela qual de pronto se
viu nomeado como juiz de direito da comarca de Rio das Mortes (hoje São João
d'El Rei), para onde regressara após a formatura, cidade em que alforriou por
sua conta o escravo que tinha sido seu pajem durante todo o curso de direito.
Em seguida, Domiciano dedicou-se à advocacia em Valença, Vassouras e Barra
Mansa. Militando pelo partido liberal, foi eleito deputado provincial por Minas
Gerais, exercendo tal cargo de 1835 a 1839. Em 1842 participou com o Dr.
Francisco de Assis Furquim de Almeida, e ao lado de outros rebelados, do
comando da cidade de São João D'El-Rei pelo partido chefiado por Teófilo
Ottoni, líder da Revolução Liberal. Foi também deputado geral entre 1864 e
1866, presidente da Província de São Paulo em 1848, ministro da agricultura, comércio
e obras públicas no gabinete Zacarias no ano de 1864 e conselheiro de Estado em
1866.
Em 1850 mudou-se para Vassouras, onde já residiam vários parentes seus.
Destacando-se nas atividades políticas daquela cidade, entre 1865-1866 passou a
exercer a presidência da Província do Rio de Janeiro, recebendo simultaneamente
a comenda de grande do império e cargos no conselho do Imperador e no conselho
de Estado. O visconde de Araxá foi o autor da redação do manifesto vassourense,
famoso texto divulgado em 1855 e que os partidos políticos de Vassouras
enviaram ao senado do Império contra a reforma judiciária proposta pelo
ministério do marquês de Paraná (Honório Hermeto Carneiro Leão), episódio de
grande relevância política e histórica que ficou registrado como Movimento de
Vassouras.
Colaborador de diversos jornais, mantinha uma coluna no Correio Mercantil
com o pseudônimo de poeta vassourense e no jornal vassourense O Município
sob o pseudônimo de O Macedônio,
anagrama do seu primeiro nome. Em 1862, escreveu um livro de 392 páginas
intitulado Trovas de um Quidam, que impediu de ser distribuído e que
caprichosamente escondeu, cujos exemplares, hoje raríssimos, só foram
descobertos após sua morte. Graças a amigos e parentes, outra obra sua,
intitulada Reminiscências e Fantasias, também só veio à luz após seu
falecimento, sendo publicada em Vassouras em 1883 com o prefácio escrito pelo
primo e amigo barão de São João Nepomuceno (Pedro Alcântara Cerqueira Leite).
Domiciano ainda era primo-irmão do barão de Vassouras (Francisco José
Teixeira Leite) e tornou-se seu cunhado quando este barão se casou com a irmã
do visconde Alexandrina Teixeira Leite. Por seu turno, Domiciano esposou a
prima Mariana Jacinta da Silva Guimarães (1825 - 1880), filha do major José
Bento Ferreira da Silva e de d. Mariana Carlota Almeida Leite, tendo com ela sete
filhos: Dr. Rodolfo (médico e morto solteiro); Dr. Alfredo (casado com a prima Ernestina
de Almeida Leite Ribeiro); Maria Eugênia (casada com o primo Eugênio Leite
Ribeiro); Olga (casada com o primo Dr. Agenor Teixeira Leite); Pedro (casado
com Paulina Pomeray); Domiciano Filho (falecido solteiro) e Maria Gabriela (casada
com seu primo Dr. José Fernandes).
Registre-se que Maria Gabriela e José Fernandes foram pais de Mariana
Olímpia Leite Ribeiro Fernandes (1844-1883), que se casou com o Dr. Manuel
Simões de Souza Pinto (1826-1899). Por seu turno, Mariana Olímpia e Manuel
Simões tiveram uma filha de nome Helena Pinto, que se casou com o Dr. Antônio
José Fernandes, irmão do Dr. Raul Fernandes, este uma das figuras públicas mais
cultas e respeitadas da História recente de Vassouras.
O visconde faleceu em 12 de junho de 1881 na localidade de Desengano
(hoje Barão de Juparanã), para onde se transferira a conselho do Dr. Rodolfo,
seu filho médico, em razão da epidemia de febre amarela que grassara em
Vassouras. Posteriormente, seus restos mortais foram então levados de Barão de
Juparanã para o cemitério de Nossa Senhora da Conceição, em Vassouras.