E daí?
É um drible na responsabilidade.
01/05/2020
Saúde
Edição 292
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O "e daí" é um drible na responsabilidade. Dito em
outras palavras é um "eu não tenho nada a ver com isso".
O "e daí" é uma certa modalidade de gozo. É o gozo que
advém do sofrimento alheio. Óbvio que não é consciente, até porque diante do público
existe uma postura de desmentir. Contudo, existe um gozo "sob saias",
escondido, velado, camuflado, portanto, repetido. O "e daí" é
aquele que fica a vontade no "camarote" gozando, enquanto,
milhares morrem.
O "e daí" é uma recusa diante de fatos incontestáveis.
Enquanto o vento sopra em uma direção e o "e daí" insisti em tomar
uma direção oposta. E, assim faz, a revelia da sensatez, do debate de ideias,
do diálogo respeitoso. O "e daí" é a opinião mor(daz) sem
interferências.
O "e daí" é uma pueril encenação ou um faz de conta. Como se
fosse "o fantástico mundo de Bob". Uma dramatização de 5ª categoria
ao público, onde apenas o autor acredita na verdade encenada. Aliás, o "e
daí" funciona como verdade inexorável sem que se possa ser questionada. Em
outras palavras, no famoso bordão esportivo, "vocês vão ter que me
engolir".
O "e daí" é o desejo escondido que o pior aconteça.
"Quanto pior, melhor" é a premissa do perverso. Óbvio, isto
não acontece sob a tutela da concordância consciente. Contudo, há um verniz que
recobre este escondido, é o lugar messiânico, daquele que é o salvador, o
incorruptível, o "bom moço" da moral e dos bons
costumes". Retira-se o verniz e aparece cupins e larvas, o caos que é
teimosamente tentado esconder.
O "e daí" é uma confissão pública de transgressão da ordem
natural. É uma perturbação da norma social. O "e daí' é inadequado, totalmente
descabido, fora de tom e tempo. O "e daí" é a falência da sensatez.
Psicólogo André
Esteves, pós-graduado em Psicologia Clínica - PUC/RJ
(24) 98125-2500