Os Quilombos

Os Quilombos no estado do Rio, Vassouras, Piraí, Barra do Piraí, Pinheiral e o Quilombo de Manoel Congo, em Paty

 26/02/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 334
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Os quilombos, em sua grande maioria, eram constituídos por negros recém-chegados da África e montados em local agreste e alcantilado, distante das povoações do homem branco. Seus componentes eram, a princípio, conhecidos como canhambora, que, em tupi, indicava "aquele que costuma fugir", termo, mais tarde, corrompido para quilombola. Seu surgimento parece ter dependido, por um lado, do grande acúmulo de negros em determinados pontos do país, durante os períodos de maior intensidade do tráfico e, por outro, de situações de angústia, medo e dor causados pelo flagelo da escravidão em engenhos e fazendas. Os homens eram os primeiros a se internar nas antigas florestas e colinas, valendo-se do silêncio da noite, voltando depois para induzir as mulheres a segui-los. As terras ocupadas eram quase sempre virgens, e os quilombolas habitualmente impunham seus padrões africanos ancestrais, determinando sua organização social, sua religiosidade e seus costumes tradicionais. O mais importante e famoso quilombo foi o de Palmares, na Serra da Barriga, dentro da Capitania de Pernambuco, mas em terras de Alagoas, fundado por Ganga Zumba e posteriormente comandado por Zumbi. Ele se manteve por praticamente todo o século XVII, ocupando cerca de mil léguas quadradas e resistindo aos ataques de 17 expedições, sendo que a última - que, enfim, o dominou - compunha-se de 3 mil homens dirigidos pelo bandeirante Domingos Jorge Velho e pelo  capitão-mor Bernardo Vieira de Melo. Além dele, podemos lembrar os quilombos do Rio das Mortes, no Caminho do Ouro, em Minas Gerais; o de Carlota, em Mato Grosso, e o de Malunguinho, nas matas de Catucá, nas proximidades de Recife.

 

Os Quilombos no estado do Rio

 

No Sul Fluminense, podemos destacar a existência de quilombos em Valença, Vassouras, Arrozal, Barra do Piraí, Pinheiral e Paty do Alferes.

Quilombo São José da Serra, em Valença, existe há cerca de 150 anos, tendo sido criado por negros chegados à região em 1850. Após a Abolição, somaram-se à manutenção dos ritos africanos a luta constante pelo direito à terra. No dia 20 de novembro de 2009, os quilombolas conquistaram o título das terras da fazenda, porém a lentidão do Estado na garantia deste e de outros direitos constitucionais não possibilitou a posse efetiva das terras até o momento. O jongo na comunidade tem sido uma importante ferramenta na difusão e na afirmação da identidade afro-brasileira. A partir dele, os moradores têm feito palestras em escolas e recebido visitas de pesquisadores, jornalistas e historiadores como forma de reforçar a luta da comunidade negra pelos seus direitos.

 

Vassouras

 

Já o grupo Caxambu Renascer de Vassouras é fruto de um trabalho de fortalecimento da identidade afro-brasileira desenvolvida ao longo de anos na comunidade vassourense. Seus membros fundadores são descendentes de antigos jongueiros que viam seus pais e seus avós entoarem cânticos que falavam do cotidiano, da opressão, dos desafios da vida, da brincadeira e da alegria. Seu José Bolero e Dona Rosa Gama ensinaram aos filhos as cantigas e a dança do Caxambu ou Jongo, aprendida com antepassados mais distantes. Na década de 1990, os filhos do casal organizaram, no bairro Residência, uma série de festividades em que dançaram o jongo exatamente como seus avós e pais faziam.

 

Piraí

 

Por sua vez, o grupo de Jongo da Fazenda da Cachoeira de Arrozal (3º Distrito de Piraí) retomou oficialmente suas atividades em 2003. Esse resgate é um sonho do mestre e líder Edgard Camilo, que presenciou muitas rodas de jongo na sua infância e juventude, coisas que ficaram na sua memória e que, quando teve oportunidade e incentivo, colocou em prática. O grupo tem origem nas famílias descendentes dos antigos negros escravizados na fazenda Cachoeira, tendo como marca o ano de 1895. A partir dos jongueiros fundadores, a dança vem sendo passada de geração em geração até os dias de hoje. A composição atual do grupo é formada pelos seus netos e bisnetos.

 

Barra do Piraí

 

A Associação Cultural Sementes D'África, de Barra do Piraí, foi criada em setembro de 2007 e é formada por integrantes de dois antigos grupos de jongo da cidade, o Caxambu do Tio Juca (comunidade do bairro da Caixa D´água Velha) e o Filhos de Angola (comunidade do bairro da Boca do Mato). Tem como objetivo divulgar e preservar o jongo do município, com atividades voltadas à transmissão dos saberes e práticas da cultura jongueira e a valorização dessa dança como expressão cultural brasileira de matriz africana.

 

Pinheiral

 

O Grupo Jongo de Pinheiral, formado por moradores da comunidade, mantém viva esta expressão de origem africana deixada pelos negros escravizados da Fazenda São José dos Pinheiros, berço histórico de Pinheiral. Fundado em 1996 com o objetivo de preservar a dança de jongo e aprimorar a biblioteca cultural afro-brasileira na região, o CREASF (Centro de Referências e Estudos Afro do Sul Fluminense) integra a rede de Pontos de Cultura desenvolvendo atividades em escolas e articulando outros grupos de cultura popular da região.

 

Quilombo de Manoel Congo, em Paty

 

Por seu turno, o quilombo de Manoel Congo fez história em Paty do Alferes, graças à fuga de vários negros e negras fugidos do jugo do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, dono das fazendas Freguesia e Maravilha. A audaciosa fuga se deu em 1838, com os rebelados se homiziando em uma gruta na Serra de Santa Catarina (nos limites entre Paty e Petrópolis). Cerca de um ano depois (6 de setembro de 1839) Manoel Congo, que assumiu a responsabilidade pela revolta, foi enforcado em Vassouras. Os demais líderes (Miguel Crioulo, Belarmino Congo, Afonso Angola, João Angola, Adão Benguela, Epifânio Moçambique, Canuto Moçambique, Antônio Magro, Pedro Dias e Justino Benguela) foram condenados à pena de 650 açoites cada um, dados cinquenta por dia, na Forma da Lei, enquanto as principais mulheres rebeladas (Mariana Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Brígida Crioula, Joana Mofumbe, Josefa Angola, Emília Conga, Balbina Congo e Manoela Angola) foram absolvidas.

 

Na próxima edição: O Grande Armazém de Arcádia