Famílias Pioneiras : Família Bernardes
Em Paty e Miguel Pereira, tivemos a participação importante dos Bernardes. Em Paty, o coronel da Guarda Nacional Manoel Francisco Bernardes, e em Miguel Pereira Manoel Francisco Bernardes Sobrinho (apelidado Manduca)
26/03/2021
Historiador Sebastião Deister
Edição 338
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Bernardes é um sobrenome de
origem portuguesa, considerado como sendo o patronímico de Bernardo, ou seja, com
significado filho de Bernardo. Por
este motivo, existem diversas famílias usando o mesmo sobrenome sem que haja
laços de consanguinidade entre elas. Por sua vez, trata-se de uma palavra de
origem germânica que, no alemão arcaico, dava a entender forte como um urso, pela junção dos elementos ber, significando urso, e
hart, remetendo-se a forte. Foi adotado pelos judeus para
substituir o nome Baruch pelo fato de começar com a mesma letra. A forma
Bernard foi introduzida na Inglaterra durante a conquista normanda, e o sobrenome
se popularizou devido a São Bernardo, que viveu entre os séculos XI e XII. Por
outro lado, também apareceu em Portugal por volta do século XVII, primeiro através
do diminutivo Bernardino, depois com a grafia Bernardim e, finalmente, como Bernardo. Há ainda variações deste
sobrenome, a saber Bernárdez, em
espanhol, e Bernardi, em italiano,
que apesar de semelhantes não têm relação entre si, a não ser pelo seu
significado.
Apesar desse patronímico ser
pouco utilizado, em Portugal há algumas famílias Bernardes e, dentre elas,
conhece-se uma que se fixou em Ponte de Lima e que veio a aliar-se
matrimonialmente com inúmeras famílias da melhor nobreza do Minho, sendo que
para essas foi concedido o Brasão de Armas dos Bernardes.
Em Guimarães, também houve uma
importante família Ribeiro Bernardes entre as centúrias XVII e XIX, cujos ramos
se ilustraram na governança e na vida social e cultural da cidade. Desse clã
procedeu a varonia (filhos homens) da Casa de Minotes, assim como também os
Condes de Margaride e o arqueólogo Francisco Martins Sarmento (1833-1899).
No Brasil, numerosas famílias de
várias partes do país passaram a adotar tal sobrenome. Entretanto, não é crível
considerar que todos os Bernardes existentes no Brasil, mesmo aqueles que
vieram de Portugal, tenham parentesco entre si. Entre os grupos de Bernardes
mais antigos estabelecidos em nosso território, sabemos que no Rio de Janeiro,
em 1567, já aparecia uma família com inúmeros membros, além de pelo menos mais
oito estirpes entre os séculos XVI e XVII que povoaram a capital com numerosa
descendência. No Rio Grande do Sul, entre outras, no início do século XIX havia
a de Francisco Joaquim Bernardes, pai de uma vasta prole. Em Minas Gerais, é
digno de registro a importante família de Antônio da Silva Bernardes, pai do
ex-presidente Artur da Silva Bernardes. Há, também, o registro de muitos escravos
africanos e seus descendentes que passaram a usar tal sobrenome sob autorização
documental de seus senhores.
Nos tempos dos reis portugueses
Dom Afonso V de Portugal e de seu filho e herdeiro Dom João II, já existia uma
família nobre, antiga e de muitas posses alcunhada Bernardes. Residiam em Ponte
de Lima, onde existia a Quinta dos Bernardes, e por sua importância e nobreza
dominavam grande parte da província portuguesa do Minho.
Desta família, grande parcela
derivou da nobreza minhota, e de um ramo de Bernardes oriundo da vila
portuguesa de Óbidos surgiu o militar Heitor Bernardes Botado, filho de Manuel
Botado e de sua primeira mulher Maria Bernardes, neto materno de Heitor
Bernardes, dos Bernardes de Óbidos. Segundo notas do genealogista Jacinto
Leitão Manso de Lima, Heitor era um homem de muito valor e de espírito elevado,
desfrutando de grande prestígio e respeito em Portugal, tanto que acabou sendo
nomeado pelo Rei para a embaixada na corte do Monarca Dom Carlos I de Espanha
e, ainda, adido junto ao Imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico,
sendo de imediato indicado para exercer as funções de General de Campo das
Tropas Imperiais.
De volta a Portugal, Heitor
casou-se com Aldonça Gorjão, com a qual deixou uma descendência que passou à
História como Família Gorjão Henriques da Cunha Coimbra Botado e Serra. Heitor
foi, ainda, Moço da Câmara do Infante D. Luís de Portugal e Duque de Beja, depois
honrado como Escudeiro Fidalgo e Cavaleiro Fidalgo. Teve o foro de Cavaleiro da
Casa de D. João III de Portugal e o de Cavaleiro de Esporas Douradas concedido
por D. Carlos I. Encontra-se sepultado na Igreja do Turcifal, em sepultura com
o Brasão de Armas concedido pelo Rei-Imperador, e na qual consta a data de seu
falecimento: 22 de novembro de 1578.
Pelas inúmeras batalhas de que
participou, o Imperador fez mercê a Heitor de honrarias e glórias, concedendo-lhe
então o Brasão de Armas, acrescentando-lhe, em seguida, Armas Novas. Este
brasão foi confirmado em terras portuguesas pelo rei Dom João III, em 1542.
Brasão
de Armas da Família Bernardes
É importante registrar que o Imperador
Carlos V pode ter acrescentado as armas que foram concedidas a Heitor estendendo-as
à sua família, como afirmou Anselmo Braamcamp Freire, que, ao referir-se às
armas de Heitor Bernardes Botado, disse serem divididas entre Bernardes e de
Botado, explicando o seguinte escudo: de azul, com três bicas de chafariz de
prata, postas em faixa, dispostas em roquete (em rotação) e botando água,
também de prata. TIMBRE (peça colocada sobre o escudo): desconhecido. Entretanto,
estudos heráldicos atuais garantem serem tais Armas exclusivas dos Botado e não
diretamente dos Bernardes.
Já o investigador Rogério de
Figueiroa Rego, seguindo uma informação de Jorge Alberto Hofacker de Moser,
insere em seu estudo a transcrição do registo da Concessão do Rei-Imperador, da
qual se desconhece confirmação portuguesa. Neste registo o escudo acha-se
esquartelado (cortado em quatro), o 1.º e o 4.º de Bernardes, de ouro com duas
águias afrontadas de negro, o 2.º e o 3.º de Botado, em campo azul, com um
aqueduto de três ordens de prata. TIMBRE: águia nascente de negro, pingada de
ouro.
Conforme a versão mais aceita,
com destaque para a cor de ouro, o brasão oficial da família Bernardes possui
duas águias batalhantes em preto e em seu timbre uma águia negra nascente com
pingos de ouro. Uma versão mais completa consta ainda com um elmo prata,
aberto, enfeitado de ouro e paquife (mantos ou folhagens) nas cores ouro e
preto.
Em Paty e Miguel Pereira
Nas áreas de Paty e Miguel
Pereira, tivemos a participação importante dos Bernardes. Em Paty, o coronel da
Guarda Nacional Manoel Francisco Bernardes, e em Miguel Pereira Manoel
Francisco Bernardes Sobrinho (apelidado Manduca), ambos com numerosa
descendência. Ressalte-se que hoje governa Paty do Alferes Eurico Pinheiro
Bernardes Neto, tataraneto do Coronel Manoel Francisco Bernardes.
Na próxima edição:
Família Pereira