Os bastidores da pornografia

Industria bilionária. Parte cruel da indústria pornográfica. Mulheres. Objetificação das mulheres. Sugestão.

 02/04/2021     Sexóloga Clarissa Huguet      Edição 339
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É de conhecimento público e notório que a maior parte dos homens tem seu primeiro contato com a sexualidade através da pornografia. Antigamente, o contato se dava através de revistas como Playboy "subtraídas" dos armários dos progenitores. Com o advento da internet, isso mudou e atualmente todos têm acesso gratuito e ilimitado a qualquer tipo de conteúdo pornô. Para se ter uma ideia, o Pornhub, maior plataforma de conteúdo pornográfico do mundo, passou de 120 milhões de acessos diários para 150 milhões durante o isolamento da pandemia no ano passado. A plataforma "boazinha", inclusive, liberou acesso gratuito por um período de tempo para 'ajudar as pessoas a ficarem em casa'.

 

Industria bilionária

 

Esta indústria bilionária reproduz a lógica do sistema e ainda ajuda a ferrar com o movimento pela equiparação salarial; o Brasileirinhas paga cerca de R$ 500,00 a hora para atores pornô, enquanto as atrizes suam, literalmente, para receber cerca de R$ 3.000,00 por semana. Este panorama serve apenas para situar o leitor sobre a magnitude do que estamos abordando aqui.

 

Parte cruel da indústria pornográfica

 

Além desta parte cruel da indústria pornográfica citada acima, diversos estudos mostram que a exposição à pornografia pode começar a dessensibilizar os telespectadores para a violência contra as mulheres e os influenciar a acreditar que é aceitável e até positivo repetir o que viram na tela. A noção de realidade passa a ser o que garotos na pré-adolescência consomem incessantemente nas telas de smartphones e TVs.

 

Mulheres

 

Não é à toa que um sem número de mulheres não consegue ter orgasmo com penetração e relata que seus parceiros sequer esperam até que elas estejam lubrificadas para introduzir o pênis em suas vaginas, fazendo a manobra sem qualquer tipo de cuidado com a parceira.

 

O consumo

 

O consumo de pornografia alimenta uma cadeia de exploração que vitimiza essencialmente as mulheres. As engrenagens deste mercado são alimentadas às custas de opressão, violência, frustração e traumas psicológicos. Grande parte das atrizes pornô já tentaram o suicídio. É na realidade um sistema desumano de exploração de corpos e de mensagens falsas sobre desejo e prazer.

 

Objetificação das mulheres

 

Esta objetificação das mulheres e a maneira como as atrizes são tratadas nas relações sexuais nos filmes, acaba tendo efeitos nefastos quando estes meninos, na fase adulta, vão se relacionar com mulheres. Não é segredo que a pornografia tende a ignorar o prazer da mulher e se concentra estritamente no que agrada ao homem. E essa máxima acaba sendo replicada na vida real. Como resultado; uma legião de mulheres insatisfeitas sexualmente, acreditando que há algo de errado com elas.

Além disso, quando vivenciamos situações prazerosas em nossas vidas, uma parte do nosso cérebro é acionada, e o neurotransmissor dopamina é produzido. É isso que acontece quando homens acessam conteúdo pornográfico. Estamos nos referindo aqui ao sistema de recompensa: pouco esforço para uma recompensa bastante prazerosa. Assista a alguns vídeos e sem grandes esforços, tenha um orgasmo. O problema é que nosso cérebro se acostuma com aquele estímulo e vai querer mais e mais. Até o momento em que nada na vida real será suficiente. Já imaginaram isso? Pois esta já é uma realidade alarmante.

 

Sugestão

 

Finalizando, deixo como sugestão o TedX: The great porn experiment (Gary Wilson), ele explica de forma fácil e didática o que acontece com o cérebro humano nesta compulsão que acomete tantos homens e também, algumas mulheres.

- Clarissa Huguet é bacharel em Direito, mestre em Direito Internacional pela Universidade de Utrecht, pós-graduada em Educação Sexual pela UNISAL e idealizadora do perfil @sexualize_se no Instagram.