Cheguei em casa decidida

Eu ia me tocar e ia ter um orgasmo intenso. A sessão de terapia havia sido profunda e dura. Fui confrontada com minha maior dor: não me sentir desejada pelo meu parceiro há bastante tempo.

 24/12/2021     Sexóloga Clarissa Huguet      Edição 377
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Eu ia me tocar e ia ter um orgasmo intenso. A sessão de terapia havia sido profunda e dura. Fui confrontada com minha maior dor: não me sentir desejada pelo meu parceiro há bastante tempo.

Mais cedo, durante a sessão, a sexóloga seguiu me questionando, perguntou se eu tinha orgasmos. Eu respondi com um riso nervoso e uma voz fraca que "sim". Eu sabia que era mentira e ela, provavelmente, também.

Não me recordo da última vez que gozei. Nem com meu parceiro e nem sozinha. Não sei há quanto tempo não me toco.

Perdi a intimidade comigo mesma, perdi os momentos de risada solta sozinha em meu quarto quando me proporcionava muito prazer sem me preocupar com o outro ou com a necessidade de performar para ser boa de cama.

Mas me lembro bem, já houve um tempo em que eu me masturbava, atingia o clímax e depois morria de culpa e vergonha. O autojulgamento me acompanhava, transformando este ato revolucionário e sublime quase em uma penitência.

Com informação, leitura e bastante prática, consegui me libertar dessa culpa que mais parecia uma graxa grudada no meu corpo e mente e me deleitava. Porém, estes tempos ficaram pra trás.

Casei e passei a me tocar cada vez menos. Acreditava que, com um parceiro fixo, a masturbação havia perdido o sentido. Que bobagem.

E hoje, não fazemos mais nada. Pergunto-me quando permiti que os problemas do dia a dia, as questões dos nossos filhos e as tantas contas para pagar passassem a ditar as regras da nossa relação. Quando dormir cada um para um lado, após um estalinho tímido, passou a ser o normal na nossa cama.

Quando nos tornamos apenas bons amigos vivendo debaixo do mesmo teto e dividindo a criação dos filhos?

Como isso aniquilou o apetite voraz que já tivemos um pelo outro?

Como isso me transformou em uma mulher sexualmente apática? Não tenho estas respostas, mas hoje cheguei em casa disposta a me tocar novamente. Fechei as cortinas do quarto e deitei na minha cama.

Não consegui. Me senti ridícula. Não me autorizei.

Vocês conhecem alguma mulher que passou por situação semelhante?

Clarissa Huguet é bacharel em Direito, mestre em Direito Internacional pela Universidade Utrecht, pós-graduada em Educação Sexual pela Unisal e idealizadora do perfil no Instagram @sexualize_se - Contato (21) 99701-7225

Foto by @aaronmcpolin