Sacra Família do Tinguá - Km 127,883

O Ramal Ferroviário Governador Portela - Vassouras - IV

 12/01/2018     Historiador Sebastião Deister      Edição 172
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Em 18 de julho de 1750, uma pequena povoação conhecida apenas como Sacra Família viu-se agraciada com a designação de Freguesia de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá. Tinha como objetivo principal sediar a capela existente na Fazenda do Provedor do Reino, além de atender a uma pequena ermida que fora erigida no Sítio das Palmeiras pelos desbravadores da região e logo frequentada pelo humilde povo local.

À época da criação do ramal ferroviário, Sacra Família (hoje agregada ao município de Engenheiro Paulo de Frontin) já oferecia aos católicos uma bela Igreja dedicada à Nossa Senhora da Conceição e também as obras de um grande hotel fronteiriço ao templo. Por conseguinte, a chegada regular de trens pela localidade ajudou-a a ganhar progresso e notoriedade na área que ainda abrigava a estação de Morro Azul localizada três quilômetros e meio antes. Logo após sua plataforma, transpunha-se um pontilhão de 4,00 metros, após o qual a linha tomava a direção noroeste, dirigindo-se sempre em declive, à procura das águas do ribeirão do mesmo nome. Quem percorria esse trecho, especialmente nos quilômetros 131 e 132, admirava-se com a naturalidade com que a linha se desenvolvia por entre a série ininterrupta de outeiros que por aquele trecho se multiplicavam de maneira quase ininterrupta, levando todos a imaginar como os engenheiros da ferrovia haviam conseguido implantar em tal área tão acidentada uma passagem ferroviária extremamente firme e segura. De Sacra Família, então, o trem buscava a parada de Palmital para, logo após, alcançar Palmas (Barão do Amparo).

    

Palmas (Barão do Amparo) - Km 133,188

 

À esquerda da linha ainda existe a Fazenda Palmas (foto da entrada da fazenda) que transmitiu, inicialmente, o nome à estação. Seria interessante lembrar que Palmas, propriedade com admiráveis 650 alqueires de área, pertenceu, primeiramente, ao senhor Antônio Felix de Oliveira Braga. Posteriormente, foi adquirida por Henrique G. Lahmeyer, genro do Dr. Caetano Furquim de Almeida, marido de Ambrosina Augusta Teixeira Leite, filha do barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite). Tempos depois, Lahmeyer negociou-a com a Companhia Agrícola e Colonizadora de Vassouras. Uma vez dissolvida essa empresa, Palmas foi então comprada pelo 2° barão do Amparo (Joaquim Gomes Leite de Carvalho), filho de 1° barão do Amparo (Manoel Gomes de Carvalho) e de Francisca Bernardina Teixeira Leite de Carvalho (prima-irmã do barão de Vassouras) e irmão do barão do Rio Negro (Manuel Gomes Leite de Carvalho) e do visconde de Barra Mansa (João Gomes Leite de Carvalho). O 2° barão do Amparo casou-se com sua sobrinha Eugênia Teixeira Leite. Ao lado do pai e dos irmãos foi um dos fundadores da cidade de Barra Mansa. Ao comprar Palmas, e tendo em vista a criação do ramal ferroviário para Vassouras, o barão resolveu fundar nas proximidades da fazenda uma pequena estação, inaugurada em 30 de maio de 1914, sete anos antes de sua morte, ocorrida em 30 de abril de 1921.

Todavia, um pouco antes, à altura do km 132,014, também foi implantada uma parada com o nome de Palmital, da qual não resta mais qualquer vestígio. No ano de 2007, a parada de Barão do Amparo tornou-se um subposto municipal de saúde ligado à Prefeitura de Engenheiro Paulo de Frontin homenageando o vereador José Lavinas Eiras. Com o passar do tempo, a modesta estação foi reformada e pintada, mas totalmente descaracterizada. Atualmente, funcionam junto a ela a Escola Municipal Barão do Amparo e a capela em honra de Nossa Senhora Aparecida. 

As litorinas, a partir dessa parada, tomavam a direção noroeste (o que seria sua orientação até alcançar Vassouras) atingindo, em seguida, os limites da Estação Alberto Furtado no km 208,923. Desse ponto, o trem subia um vale irrigado por um afluente do Rio Sacra Família, passava pela Fazenda Triunfo (à esquerda) e chegava à parada Triunfo.

 

Triunfo - Km 138,628

 

Nome da fazenda que pertenceu ao Dr. Lafayette de Freitas. Logo após a parada, a linha tocava as terras contíguas à Fazenda da Cachoeira, administrada pelo Dr. Samuel das Neves, cuja casa de moradia, à direita, podia ser avistada através do capoeirão que a separava do leito férreo. Por um trecho bem curto, a litorina tomava o rumo nordeste, e após infletir para noroeste, marchava diretamente para Vassouras por um flanco da montanha. No km 142,850, uma estrada de rodagem era então atravessada, já em nível bem inferior, por sobre um pontilhão de 3,00 metros. Depois de cruzar um pequeno riacho, o trem cruzava a passagem superior da Rua Visconde de Araxá, alcançando enfim a estação de Vassouras. Tempos depois, a parada teve sua titulação trocada para Engenheiro Nóbrega. Posteriormente, acabou sendo demolida em razão de problemas estruturais.

Em 24 de março de 1939, o jornal O Estado de São Paulo abria espaço para noticiar um grave acidente ocorrido na Linha da Central do Brasil que conectava Portela a Vassouras. Segundo a noticia, um trem de lastro (ou seja, uma composição que transportava apenas equipamentos e operários) tombou à altura do quilômetro 137, entre as estações de Palmas e Engenheiro Nóbrega, provocando ferimentos em quatro funcionários que foram, de pronto, levados para o Hospital de Vassouras, sendo que somente o maquinista encontrava-se em estado muito grave. Por este motivo, o tráfego pelo ramal ficou interrompido por cerca de dois dias.

 

A partir da próxima edição: As Escolas Municipais de Miguel Pereira e Seus Patronos