Os primórdios da educação - a escola 13 de maio
Capítulo 31 - A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira
11/03/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 388
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Miguel Pereira viu-se aquinhoada com a criação do
Grupo Escolar Miguel Pereira através da publicação do Decreto Municipal nº 423,
inserido no Diário Oficial de 15 de maio de 1938 e assinado pelo então prefeito
de Vassouras Edmundo Peralta Bernardes. Por cerca de três anos, a escola
funcionou com tal titulação. Todavia, o aumento no número de matrículas, a
necessidade de novos recursos de ensino, a urgência de manutenção de suas
dependências e o fluxo maior de pressões políticas sobre a Prefeitura de
Vassouras levaram o novo prefeito, o capitão-tenente Henrique Sayão Alves
Branco, a baixar o Decreto nº 1.007, de 13 de março de 1941, que ampliava as
atribuições da escola e mudava seu nome para Grupo Escolar 13 de Maio,
denominação que acompanhou aquela unidade de ensino por cerca de quatro anos,
inclusive durante um breve período em que ela funcionou agregada ao Ambulatório
Joanna D´Arc.
De fato, 1941 entrou para a História como um ano
ímpar para o magistério de Miguel Pereira, pois além dos fatos citados o
destino encarregou-se de trazer para nossa cidade a figura inesquecível da
mestra Jandira Telles Leme Pragana. A afável professora e a cidade de Miguel
Pereira de pronto identificaram-se num caso de amor à primeira vista, fato que
se transformou num símbolo profissional para todas as demais equipes de
professores que circulariam por nossas escolas. Jandira foi a vara de condão
que atiçou a imaginação e estimulou o trabalho de dezenas de outras profissionais
miguelenses, fazendo com que o Grupo Escolar 13 de Maio experimentasse um
rápido surto de crescimento e especialização.
Os anos abarcados pela década de quarenta e pelo
menos os meses iniciais de 1950 caracterizaram-se pela precariedade das
instalações escolares, pela falta de material didático mais apropriado e pelas
dificuldades normais arrostadas por duas vilas pobres e envolvidas por um
custoso processo de autoafirmação. Tais fatores, embora ocasionalmente
desestimulassem os professores, não constituíram empecilho para aquelas audazes
figuras, pois seu amor pelo trabalho e sua obstinação em vencer superavam
qualquer problema técnico ou financeiro. A qualidade de suas aulas, a dedicação
que demonstravam à profissão, o carinho e a compreensão que dispensavam às
crianças e a certeza de seu pioneirismo, faziam com que aqueles homens austeros
e aquelas mulheres elegantes e tranquilas enfrentassem todo e qualquer tipo de
obstáculo para levar a termo a sua missão maravilhosa.
No período inicial de sua existência - a partir de
1942 - o Grupo Escolar 13 de Maio refletia bem as condições humildes em que se
desenvolvia a cidade de Miguel Pereira. Instalada num enrugado casarão, a
escola possuía apenas três salas de aula, um sanitário em parcas condições de
uso e uma pequena cozinha onde as próprias professoras diariamente preparavam
uma sopa de massas e carne - quando recebiam tais doações - para oferecer aos
alunos mais carentes. Mostrava-se aflitiva a falta de livros e demais materiais
didáticos, e em épocas de chuva as goteiras perturbavam alunos e mestres,
escorrendo pelo quadro-negro e por vezes provocando borrões nos cadernos e
cartilhas encapados com todo esmero. Tais inconvenientes eram habilmente
contornados por todos, mas agravaram-se bastante com o passar do tempo, já que
a estrutura física da escola encontrava-se visivelmente comprometida em face da
idade provecta do prédio. Essa inquietação atingiu também os governantes
municipais instalados em Vassouras, tanto que, em julho de 1946, o prefeito do município,
Rodolpho Carvalho Junior, enviou um ofício urgente à Direção da Estrada de
Ferro Central do Brasil, solicitando a transferência da escola para um dos
amplos solares da ferrovia, localizado ao lado da estação, providência que foi
tomada apenas onze anos depois, quando, em princípios de 1957, o combalido
prédio da Escola 13 de Maio desabou de maneira humilhante em meio ao fragor
empoeirado das paredes de pau-a-pique e do seu telhado quase centenário. Já o
grande casarão da ferrovia, hoje totalmente reformado, abriga a Secretaria de Turismo
de Miguel Pereira.
Recuemos, entretanto, para alguns anos antes dessa
tragédia e lembremos que, em abril de 1946, a Câmara de Vassouras baixava um
Decreto Legislativo mudando o nome da escola de Miguel Pereira para Grupo
Escolar Dr. Antônio Fernandes em homenagem
àquele ilustre vassourense, titulação mantida até hoje. Uma vez corroborado tal
Decreto pelo prefeito Alves Branco - que depois de alguns anos retornava ao
comando do município - a Prefeitura de Vassouras providenciou o envio de um
grande retrato de Antônio Fernandes para Miguel Pereira, cuja entronização na
Escola foi realizada em 15 de outubro daquele mesmo ano. Nessa época, baseada
num decreto ainda mais antigo baixado em 28 de janeiro de 1939 - que autorizava
as escolas do Estado do Rio a criar suas caixas escolares sem maiores trâmites
junto ao Governo Estadual - a dinâmica professora Zenayde Macedo de Almeida
mobilizou pais e mães, professoras e alguns respeitáveis comerciantes de Miguel
Pereira e com eles fundou aquela entidade geradora de recursos, ligando-a, é
claro, à direção da Escola.
A seriedade que pautava a administração dessa Caixa
Escolar paulatinamente permitiu a mobilização de dezenas de outras expressivas
figuras públicas da cidade. Por vários anos esse órgão representou um ponto de
apoio fundamental para o perfeito funcionamento da Escola. Por consequência, no
transcorrer dos anos seguintes a Caixa Escolar incluiu em seus quadros
representantes de quase todas as classes sociais de Miguel Pereira, desde
inspetores de ensino e professoras a comerciantes, donas-de-casa, ferroviários,
agricultores e pecuaristas, tais como o saudoso Inspetor José Antônio Maia
Vinagre, Esther Botelho Côrtes, Ary C. Barbosa, Francisco de Nonno, Ana Fadul
Werneck dos Santos, Déa de Faria Barros, Ruth de Faria Barros, Maria José Souto
Soares, Michel Farah, Alice Costa Tavares, Irineu Pinto, Amália Dau, Conceição
de Ávila Pinto, Luís Ramos da Costa, Hilda Deister, Nísia Peçanha de Armando, Ivo
Pontes, Ismael Pereira Soares, Elisa Pereira Leitão e outros. Para termos uma
precisa ideia de como o ensino era encarado com seriedade em Miguel Pereira,
acrescentemos aos colaboradores citados outro grupo de devotados moradores do
lugar, entre os quais se destacaram Venícius Ferreira Gomes, Zélia Pontes Moreira,
Oswaldo Duarte dos Santos, Maurita Queiroz Monteiro, Nilda Leal Machado, Yedda
Brügger da Fraga, Gercilga Saraiva, Darcy Jacob de Mattos, Calmério Rodrigues
Ferreira, Anita Werneck, Dr. João Plínio Werneck, Dr. Arthur da Senna Wangler,
Diva Fraga e - claro! - Jandira Telles Leme Pragana. Graças às múltiplas
tarefas que coordenavam, os associados da Caixa Escolar amealhavam um pouco
mais de dinheiro e o canalizavam para introduzir outras benfeitorias na escola,
trabalho este coroado com a formação da primeira Biblioteca Escolar de Miguel
Pereira.
Próxima edição O Grupo Escolar Dr. Antônio
Fernandes