Escolas, Mestres & Mestras em Governador Portela

Capítulo 35. A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira

 01/04/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 391
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As primeiras notícias referentes às atividades de ensino regular em Governador Portela remetem-se aos anos de 1925 e 1927, quando o casal de professores Estevão Suzano Fasciotti e Albertina Fasciotti ali implantava os embriões de sua primeira escola primária, utilizando as salas de um velho casarão localizado no coração da localidade, na atual rua Dr. Osório de Almeida.

Num belo dia de janeiro de 1927, o professor Fasciotti recebeu em sua improvisada sala de aula uma menina tímida e educada que, com apenas cinco anos de idade e muita simpatia, surpreenderia o mestre pelo otimismo, pela inteligência e pela firme determinação que trazia em sua alma: Aristolina Queiroz, recém-chegada de Sacra Família - onde nascera em 22 de setembro de 1922 - revelava a seus futuros educadores o desejo de também ser professora, e com o passar dos anos provou que tal decisão não era um simples arroubo de infância, mas sim fruto de uma vocação inata, irresistível e profundamente arraigada em seu íntimo. Em finais de 1937, passou a trabalhar ao lado de Carmelita de Luca e Rita de Cássia Batista na chamada Escola Masculina de 2º Grau de Governador Portela sob a direção do professor Estevão Fasciotti.

Já em finais do ano seguinte, a Escola passava a se chamar mais adequadamente de Escola Mista nº 26, agregando alunos de ambos os sexos. Junto a Aristolina, Carmelita de Luca e Rita de Cássia vinha trabalhar também a professora Amaryllis Soares de Almeida. Ainda em 1938, em face do apoio da mestra Maria do Carmo Fadul, o Governo do Estado do Rio decretou a mudança do nome da Escola, denominando-a, a partir daquele ano, de Escola Mista de 2º Grau. Já em 13 de maio de 1939, através do Decreto 423, a Escola Mista de Portela mudava de nome, vindo a ser denominada Escola Elementar de 2º Grau e sendo então aquinhoada com os cargos fixos de Diretora (oferecido a Maria do Carmo Fadul) e Suplente de Direção (ocupado por Carmelita de Luca Andreiolo).

Com apenas 19 anos, Aristolina viu surgir em Portela os pilares daquele que, cerca de dois anos depois, seria o Colégio Estadual Dr. Álvaro Alvim, um centro de formação de eminentes professores e eméritas figuras portelenses, autorizado a funcionar pelo Diário Oficial de 20 de dezembro de 1941 assinado pelo então Interventor do Estado do Rio de Janeiro Ernâni do Amaral Peixoto.

Naturalmente, Aristolina, Carmelita, Maria do Carmo e Rita de Cássia receberam ainda a ajuda fundamental de outras importantes e aplicadas professoras durante aquele difícil processo de implantação do ensino regular em Portela. É preciso ressaltar também a colaboração de outra mestra de peso na época, D. Conceição Costa Pinto, cujos serviços no prédio pioneiro do colégio formaram a base didática de todo o progresso posterior daquela unidade de ensino. Mulher extremamente dinâmica e voltada de corpo e alma para o magistério, Conceição limpava as salas, varria os assoalhos, arrumava as carteiras, orientava as colegas, pedia ajuda de pais e amigos e por essa razão em pouco tempo transformou-se não apenas num exemplo de professora, mas principalmente numa mulher que mantinha as dependências da "sua" escola num primor de limpeza e aconchego, oferecendo aos alunos e colegas as mais confortáveis e completas condições de estudo e bem-estar. Sua dedicação, seu carinho ao que fazia e sua constante preocupação com a escola só encontraram uma rival de peso em outra personagem extraordinária que militava em Miguel Pereira: a professora Jandira Telles Leme Pragana.

O Colégio Dr. Álvaro Alvim, sempre funcionando em prédios emprestados, finalmente foi presenteado com total autonomia em 15 de novembro de 1957, com a inauguração de suas instalações definitivas à rua Dr. Osório de Almeida, um sonho de Portela concretizado durante o primeiro mandato do prefeito Frederico Wängler. A titulação da escola foi escolha da prefeitura de Vassouras, uma vez que o médico radiologista Álvaro Freire de Villalba Alvim nascera naquela cidade dia 16 de abril de 1863. Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1887, seguiu, em 1896, para a França, onde se especializou em Física Médica e trabalhou na equipe de Marie Curie, considerada pioneira nos estudos dos Raios-X. De volta ao Brasil, instalou um consultório de fisioterapia no Rio de Janeiro, com os modernos aparelhos que trouxera da Europa, e tornou-se um dos pioneiros da fisioterapia no Brasil. Fundou e dirigiu a Assistência às Crianças Pobres, o Instituto de Eletricidade e o Instituto de Eletrologia e Radiologia. Casou-se com Laura Paglia Agostini Alvim, tendo com ela três filhos. Comprou vários terrenos na região, e construiu sua residência onde hoje funciona a Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, cidade do Rio de Janeiro, nome de sua filha mais nova, apaixonada pelas artes. Membro titular da Academia Nacional de Medicina, foi o grande pioneiro da eletroterapia, da radiologia e da radioterapia no Brasil. A ele se deve a aplicação prática, no país, das descobertas de Roentgen e processos e equipamentos desenvolvidos com Madame Curie. Foi o primeiro a radiografar caso de xipófagas no mundo em 1897 que foram separadas pelo cirurgião Eduardo Chapot Prévost. Suas pesquisas com materiais radiativos fizeram com que se contaminasse e adoecesse. Perdeu os dedos, um a um, em ambas as mãos em virtude de lesões ocasionadas pelos raios-X e o rádio. Pouco antes de falecer, já com uma mão amputada, foi condecorado com a Medalha Humanitária, pelo presidente Artur Bernardes. Álvaro faleceu no Rio de Janeiro em 21 de maio de 1928, aos 65 anos.

É preciso fazer justiça e relembrar nomes que circularam pelas dependências escolares de Governador Portela, tanto no Colégio Estadual Álvaro Alvim quanto, posteriormente, na Escola Normal Professora Adalice Soares, fruto do sonho de Adalmar Corrêa, e centro de excelência na formação de dezenas de mestres em nosso município. Talvez o tempo tenha obliterado os nomes de personagens fundamentais no ensino em nossa terra, porém a História jamais os apagará da memória daqueles (e daquelas) que alimentaram suas mentes com o conhecimento e a cultura repassados por seres inteiramente dedicados à formação de cidadãos plenos e decentes. Por esse razão, registremos o incansável trabalho de Rita de Cássia Batista Pereira, Maria Juvelina Abreu, Maria José Souto Soares, Maria Celeste Ferreira, Almeidina Ferreira Laport, Maria do Carmo Bastos Silveira, Nildéa Portela de Ávila, Olga de Mello Sobral Calile, Maria Lúcia Trajano, Dircéa Barreiros Botelho, Vânia Maria Pires Vieira, Aliette Maria Sobral Monteiro, Arlete Duarte dos Santos, Adalmar Corrêa da Silva, Alcebíades Balthar, Nelsino do Valle e Adalice Soares.        

 

Na próxima edição: O Ginásio Governador Portela