Frei Marciano José Kropf
Em janeiro de 1962, o Capítulo da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Sul determinou a transferência de Frei Marciano José Kropf (Ordem dos Franciscanos Menores) para Miguel Pereira, deslocando-o do Convento de Santo Antônio do Jari
13/05/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 85
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Em janeiro de 1962, o Capítulo da Província
Franciscana da Imaculada Conceição do Sul do Brasil determinou a transferência de
Frei Marciano José Kropf (Ordem dos Franciscanos Menores) para Miguel Pereira, deslocando-o
do Convento de Santo Antônio do Jari (SP).
Lembremos que José Kropf nasceu em Colônia,
Alemanha, em 8 de fevereiro de 1920, sendo filho de Josef Kropf e Maria Sibila
Therikartz, e tendo como irmãos Antonete e Käthe, sendo batizado sete dias
depois na Maternidade Köln-Lindenthal. Seus estudos iniciais foram feitos na
Escola Pública de Köln-Loshnerstrana, de onde saiu para cursar o Ginásio em
Köln-Nippes e o Curso Secundário Clássico no Seminário Franciscano de
Garnstock, na Bélgica. Daí transferiu-se para o Brasil objetivando cursar as
cadeiras deste Curso no Seminário Franciscano em Rio Negro (Paraná) em novembro
de 1938, Posteriormente, concluiu a Profissão Simples de Franciscano em Rodeio,
também naquele estado, ali se habilitando no dia 10 de dezembro de 1939. José
Kropf ainda fez dois anos de Filosofia e um ano de Teologia, no período de 1941
a 1945, em Curitiba, partindo dessa cidade para Petrópolis, onde se qualificou
com mais quatro períodos de estudos em Teologia (entre 1945 e início de 1948).
Finalmente, ainda no Paraná, viu-se ordenado como Padre em 30 de novembro de
1945, recebendo assim autorização para exercer suas atividades sacerdotais a
partir de tal referendo eclesiástico.
Dispondo de suas ordens sacras, Frei José ocupou uma
Paróquia em Forquilinha (Santa Catarina), no Município de Crisciúma, apenas
como Padre Coadjutor. Dessa localidade, saiu para trabalhar dentro desta mesma
categoria religiosa na Paróquia de Blumenau, cidade em que passou a exercer o
cargo de professor do Colégio Santo Antônio. Algum tempo depois, partiu para
Sorocaba, e atuando na Paróquia de Santa Rita adquiriu maior experiência como
Padre Coadjutor do Vigário local. Posteriormente, foi levado para São Paulo,
capital, onde, além do cargo de assistente direto da Paróquia de Santo Antônio
do Pari, desempenhou as funções de Diretor do Externato São José para crianças
pobres. Finalmente, desembarcou em Miguel Pereira no dia 1 de fevereiro de 1962
para substituir o pároco Frei Estêvão Baxmann. Vinha, então, acompanhado do Coadjutor
Frei Avelino Schmitz.
Após vinte anos de trabalhos - ao longo dos quais
desenvolveu importantes serviços comunitários e eclesiásticos por quase todos
os quadrantes do município -, Frei José enfim deu-se conta de que a tradicional
Igreja de Santo Antônio não mais acolhia com conforto e tranquilidade os
numerosos devotos que para ela afluíam durante as missas e ladainhas quase
diárias. Na verdade, desde os finais da década de setenta que se notava um
visível crescimento populacional em Miguel Pereira e, por conseguinte, inúmeros
contingentes de religiosos comprimiam-se nos modestos e calorentos espaços
oferecidos pelo pequenino templo miguelense. Refletindo com sensatez sobre os
novos tempos que se avizinhavam na serra, o pároco deslanchou uma enérgica
campanha em todo o município na louvável tentativa de reunir capital suficiente
para erguer em Miguel Pereira uma nova Matriz que viesse condizer com o notável
crescimento da cidade.
Frei José organizou rapidamente uma comissão de alto
nível e credibilidade entre os representantes de todas as camadas sociais da
cidade e mesmo de outros logradouros municipais mais periféricos, vindo esta a
se responsabilizar pelas venda de carnês mensais e rifas periódicas, pela
pronta efetivação de várias festas populares e bingos e, principalmente, pelo
recolhimento de doações junto às famílias mais abastadas de moradores e
veranistas, cujo apoio financeiro e cujas relações com outros habitantes do município
seriam fundamentais para a concretização dos primeiros passos direcionados para
aquela inolvidável empreitada.
Todo esse penoso processo de arrecadação de recursos
- suplementado por contribuições enviadas pela Arquidiocese de Colônia através
do seu Departamento "Weltkirche/Weltmission" - e por familiares de Frei José
arrastou-se por um tempo razoável, e a edificação do novo templo mostrou-se
custosa, lenta e sacrificada, porém revelou-se firme, incessante e prenhe do
mais forte otimismo. Nenhum empecilho demovia o vigário de seus propósitos, e
sua perseverança fez surgir em Miguel Pereira aquilo que grande parte da
população classificava como uma obra megalomaníaca e inexequível: uma igreja
suntuosa, de avultados espaços e linhas arrojadas, senhoriais e modernas, cuja
arquitetura robusta e simétrica causou de imediato enorme impacto visual na
cidade. A Nova Matriz foi solenemente consagrada no dia 16 de abril de 1989, em
meio a inéditos e imponentes festejos populares e litúrgicos, inclusive com a
presença dos familiares de Frei José que se deslocaram da Alemanha
especialmente para conhecer e prestigiar a obra de seu parente mais ilustre.
A Matriz é dotada de dois grandes pavimentos Na
parte central do primeiro piso aninha-se a Capela de Nossa Senhora da Paz. Ao
lado dela, funcionam a Secretaria Geral da Matriz e uma saleta destinada à
venda de lembranças e peças religiosas, como livretos, Bíblias, caderno de
orações, catecismos, terços, santinhos e algumas lembranças da Matriz, como
chaveiros e fotos do inigualável vitral de Nossa Senhora.
Por sua vez, a nave principal localiza-se no segundo
pavimento. Em sua concepção, os projetistas optaram pela não inclusão de uma
abside tradicional, criando assim em Miguel Pereira uma Igreja que é
basicamente constituída por um imenso salão onde seu altar-mor é representado
simplesmente por uma área recuada na parte posterior da nave. Ali, então,
levantou-se ligeiramente o piso de mármore, a fim de que este sustentasse um
altar despojado e se mantivesse um pouco a cavaleiro dos fiéis.
Após seu profícuo vicariato, Frei José Kropf faleceu
em 4 de junho de 2011, estando agora repousando no jazigo dos franciscanos
erguido no interior do cemitério de Paty do Alferes.
Na próxima edição: Dr. Osvaldo de Araújo Lima