A Guarda Mirim de Miguel Pereira: Sonho e frustração

A proposta de criação de uma Guarda Mirim em Miguel Pereira partiu da professora Grécia Marques Lopes, uma das fundadoras da Escola do CEPE (Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais) ao lado da educadora Cândida Peralta.

 14/07/2023     Historiador Sebastião Deister      Edição 458
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Nos anos entrantes da década de setenta, um grupo de professores mostrava-se interessado em criar em Miguel Pereira uma organização social voltada para educação multidisciplinar de dezenas de jovens que, após seus horários escolares regulares, por vezes perambulavam pelas ruas da cidade carentes de oportunidades sociais e trabalhistas relevantes. À época, o município ganhava contornos turísticos de monta graças a dois acontecimentos públicos bastante expressivos. Um deles remetia-se à intensa propaganda levada a efeito pelo empresário Abraham Medina que, nomeado secretário de Turismo e Divulgação durante o governo de Manoel Guilherme Barbosa (Nelzinho) entre 1967 e 1970, tivera a brilhante ideia de cultivar roseiras ao longo da ferrovia que conectava Barão de Javary a Miguel Pereira, criando assim o dístico Cidade das Rosas que, durante longo tempo, serviu de atração para turistas, curiosos e demais visitantes da cidade.

Por outro lado, com o governo de Aristolina Queiroz de Almeida (1971-1973) veio à tona um extraordinário conhecimento do município por vários quadrantes do Brasil. De fato, até jornais estrangeiros deslocaram-se para Miguel Pereira objetivando entrevistar a primeira mulher eleita prefeita no Estado do Rio de Janeiro e a segunda no Brasil. Com manchetes tipo "(...) em Miguel Pereira o mando é das mulheres (...)" - até porque muitos cargos públicos eram, de fato, ocupados por mulheres - a cidade tornou-se uma referência social e cultural e o turismo consolidou-se de vez no município.

A proposta de criação de uma Guarda Mirim em Miguel Pereira partiu da professora Grécia Marques Lopes, uma das fundadoras da Escola do CEPE (Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais) ao lado da educadora Cândida Peralta. A princípio, Grécia divulgou sua intenção entre colegas de profissão e amigos, mas a ideia ganhou corpo e de pronto um grupo pioneiro sugeriu a data de 9 de agosto de 1973 para uma primeira reunião entre os interessados na sede do Miguel Pereira Atlético Clube.

Esse inédito encontro tinha como pauta a fundação propriamente dita da Guarda Mirim e a criação oficial de sua Entidade Mantenedora, além da apresentação e eventual aprovação de seus estatutos previamente elaborados por um grupo especial de trabalho. Reuniram-se, na ocasião, cidadãos expressivos da sociedade miguelense, entre eles Paulo César de Souza Vieira, professora Grécia Marques Lopes, Dr. Marcus Calmon de Pin e Almeida, professor Otávio Cavalcante Durão (Tiao), Roberto Francisco Tavares (Betinho), José Tertuliano Gomes, professor Sebastião Deister, professora Regina Marques Lopes, Aynaro Pereira Leitão, professora Maria Lúcia Lomelino, Ady Alves de Moraes, Lila Léa Coutinho da Silva, professora Luzia Langoni Ribeiro, José Basileu Ribeiro Filho, João Henrique Moreira da Silva, Raquel Leal Amaral, Fructuoso da Fonseca Fernandes, professora Nilcéa Pereira Deister, Mary Lúcia Trivisol, Cely Machado Velho Calmon Du Pin e Almeida, Benício de Oliveira Mesquita, Aluízio Ferraz de Araújo, Rafael Sanção e Antônio Carlos Vilela.

Por unanimidade, foi indicado para presidir a reunião o Dr. Marcus Calmon de Pin e Almeida, tendo a secretariá-lo Paulo César de Souza Vieira. De início, Paulo César proferiu um breve relato de como fora implementada a criação da Guarda Mirim, tecendo comentários a respeito da importância social de tal organização e o quanto ela poderia trazer de benefícios humanos e culturais para seus futuros componentes.

Em seguida, leu os principais pontos do estatuto que fora elaborado por um grupo de adeptos e professores. Todos os artigos foram aprovados sem restrições ou adendos. Ato contínuo, procedeu-se à eleição da primeira diretoria da entidade para o biênio 73-75 através de indicação nominal, a qual ficou assim constituída: Presidente: Grécia Marques Lopes; Vice-presidente: Dr. Marcus Calmon de Pin e Almeida; 1º secretário: Lila Léa Coutinho da Silva; 2º secretário: Mary Lúcia Trivisol; 1º tesoureiro: Otávio Cavalcante Durão; 2º tesoureiro: João Henrique Moreira da Silva; Diretor de esportes: Paulo César de Souza Vieira; Diretores culturais: Sebastião Deister e Maria Lúcia Lomelino; Diretores artísticos: Ady Alves de Moraes e Luzia Langoni Ribeiro

Chefe administrativo: José Basileu Ribeiro Filho Após a aprovação do primeiro quadro diretor, o encontro foi encerrado, determinando-se a data de 18 de agosto para uma segunda reunião a ser realizada na sede do Estrela Futebol Clube. Esta serviu para acolher as primeiras 40 crianças interessadas no projeto, todas ligadas às escolas do município. Entre elas, encontravam-se estudantes do Grupo Escolar Dr. Álvaro Alvim, de Portela, capitaneadas pela sua diretora Amaryllis Queiroz de Almeida; alunos do Grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes e do Ginásio Dr. Miguel Couto, de Miguel Pereira, acompanhando os professores Sebastião Deister e Otávio Cavalcante Durão e um grupo da Escola da Praça da Ponte conduzido pela diretora Rosa Maria Randig Resende. Além de toda a diretoria do Projeto Guarda Mirim, o encontro também contou com a presença do professor José Sylvio Gomes, então Diretor de Educação e Cultura da Prefeitura de Miguel Pereira. Durante a reunião, foram discutidos vários assuntos importantes, entre os quais, a prioridade de um uniforme para as crianças, planejamento da campanha de propaganda do projeto, escolha do material tipográfico devidamente timbrado a ser usado pela associação (papel ofício, proposta de formulário para futuros associados, recibo de contribuição e de eventuais doações, fichas de identificação da garotada e de esboço de sua carteira funcional).

Reuniões subsequentes em agosto e setembro serviram para estabelecer o cronograma de atividades que incluía o preenchimento de fichas dos guardas e, principalmente, aulas de primeiros socorros ministradas pela enfermeira Margarida Betim Paes Leme Borges da Silva (Magui), noções de trânsito pelo policial militar João Jacopinelli (Jacó) Filho e aulas de Moral e Cívica ministradas pelas professoras Neusa de Oliveira Moraes e Maria Lúcia Lomelino, sempre nas espaçosas dependência do Cine Miguel Pereira. Enfim, todas as providências para qualificar a garotada cujos serviços na cidade seriam, em especial, orientar motoristas e turistas. Infelizmente, ficou no sonho e na expectativa. Alguns pais não se mostraram satisfeitos com os horários impostos aos meninos, alegando prejuízos em sua frequência escolar, o poder público se eximiu de um apoio financeiro efetivo, o número de associados decresceu, muitos responsáveis não cumpriram com suas seus compromissos anteriores e lentamente a entidade perdeu força e interesse social, enfrentou a desistência de dezenas de adolescentes e a Guarda Mirim durou tão-somente um ano, mais uma enorme frustração entre tantas que já aconteceram em nosso município, como, por exemplo, a belíssima Banda Marcial.

 

IMAGEM: Margarida Paes Leme Borges, responsável pelas aulas de primeiros socorros da Guarda Mirim

 

Na próxima edição: Apogeu e Queda da Cia. Força e Luz Vera Cruz - Parte 1