Paróquia agregada de Nossa Senhora da Glória em Governador Portela
Em homenagem à santa, a comunidade portelense, no dia 15 de agosto, realiza uma grandiosa festa popular que ocupa todos os espaços fronteiriços à Praça da Matriz e ruas adjacentes
18/08/2023
Historiador Sebastião Deister
Edição 463
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O 2º Distrito do
Município de Miguel Pereira - Governador Portela - tem em Nossa Senhora da
Glória a sua padroeira oficial. Entretanto, durante um longo período a igreja
desta cidade esteve sob a jurisdição eclesiástica de São Sebastião dos
Ferreiros, que perdeu tal condição de domínio quando Vassouras se tornou um
município independente e passou a ter, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
o centro de direção religiosa do lugar.
Embora seja hoje uma
célula territorial miguelense, Portela não tem seu templo dirigido pela
Paróquia de Santo Antônio da Estiva, em função de as Dioceses Católicas
seguirem uma divisão patrimonial e administrativa diferenciada daquela adotada e
administrada pelos governos municipais brasileiros.
Assim, quando em 1953
Miguel Pereira desmembrou-se eclesiasticamente de Paty do Alferes, ganhando a
Paróquia de Santo Antônio da Estiva, a mesma decisão emanada pela Diocese de
Valença não abarcou Portela, que, por conseguinte, permaneceu sob a alçada
religiosa de Paty, tendo suas atividades litúrgicas totalmente independentes de
Miguel Pereira. Isso explica a razão pela qual os padres que atendem aquela
Igreja até hoje serem enviados diretamente pela Paróquia de Nossa Senhora da
Conceição de Paty do Alferes e não pela de Santo Antônio da Estiva.
A Igreja de Nossa da
Glória não apresenta um estilo arquitetônico sofisticado ou pelo menos bem
definido, fugindo, assim, das linhas coloniais tão em voga pelo Vale do
Paraíba, por conta da influência religiosa portuguesa. Em função de várias ampliações
laterais, especialmente para a melhoria de seu Consistório, e outras
restaurações ali efetuadas nos últimos anos, o prédio viu-se contemplado com um
aspecto mais moderno e absolutamente diferente dos demais templos da região
serrana, perfil de maneirismo arquitetônico que define as linhas estruturais
seguidas por engenheiros e projetistas na metade dos anos de 1930, ou seja, uma
nave de linhas pós-clássicas, mais modernizantes e destituídas de colunas e
arquitraves centrais.
Seu espaço de
acolhimento dos religiosos, em vista da multiplicação do número de fiéis na
cidade, infelizmente já se mostra muito modesto em dias de cultos mais
expressivos, embora continue razoavelmente confortável. De fato, sua ambiência
é bastante agradável e tranquila, até porque permite ao fiel postar-se bem
junto à abside em arco que abriga a imagem da padroeira Nossa Senhora da
Glória.
O acervo iconográfico
não é numeroso, mas todas suas imagens apresentam-se em excelente estado de
conservação e muito bem distribuídas pelas paredes da Igreja, em arranjos
decorativos, aliás, muito bem equacionados pelos seus administradores.
A frontaria do templo
ostenta uma pequena varanda de acesso, surgindo sobre ela um óculo em forma de
rosácea. Do teto desse alpendre ergue-se a torre de sustentação do sino, sobre
a qual se destaca a Cruz que caracteriza todas as igrejas católicas. Por sua
vez, a abside que resguarda o trono da Santa Padroeira também não exibe luxos
ou grandiosidades excessivas. Com efeito, a beleza rústica do altar de pedras e
dos ícones que escoltam a padroeira compensa, de maneira satisfatória, a
ausência de maior riqueza material, detalhe que longe de ser considerado sinal
de indigência da igreja, torna-se desprezível se levarmos em consideração que o
mais importante fator de fé pode ser encontrado na Matriz de Governador
Portela: paz absoluta e grande riqueza espiritual.
Em homenagem à santa, a
comunidade portelense, no dia 15 de agosto, realiza uma grandiosa festa popular
que ocupa todos os espaços fronteiriços à Praça da Matriz e ruas adjacentes,
ocasiões em que as mais típicas atrações gastronômicas do interior são
comercializadas nas barraquinhas coloridas e decoradas com uma profusão de
bandeirinhas: churrasquinhos, cocadas, quebra-queixos, quentão, caldo verde,
churros, empadas e outras guloseimas, além de atraentes espetáculos musicais
dos mais variados estilos.
É ainda digno de
registro que tanto a construção da Igreja de Portela quanto as várias reformas
e ampliações nela introduzidas ao longo dos anos surgiram por conta da
generosidade e do profundo senso religioso de inúmeras famílias do lugar, que
sempre colaboraram ativamente com os padres que ali paroquiaram, jamais
dependendo das benesses de autoridades constituídas ou de verbas mais
substanciais enviadas pela Diocese por ela responsável.
Importante lembrar que
as obras de ampliação da primeira capela portelense tiveram início em finais da
década de dez do século XX, estendendo-se pelos anos seguintes até serem
concluídas no início dos anos trinta. Delas participaram, tanto como
trabalhadores quanto como patrocinadores, importantes e conhecidas famílias de
Governador Portela, como Ávila, Monsores, Almeida, Aguiar, Leal, Vieira da
Rosa, Portela, Amaral, Silva, Queiroz, Bitencourt, Valente, Soares Dias e muitas
outras.
Imagem 1: Diante da igreja em obras, a família Amaral comemora um casamento
Imagem 2: Frontaria da Igreja