A Fazenda Sacco Velho e o Sítio Lírio do Brejo
Episódios Especiais do Passado de Miguel Pereira
20/10/2023
Historiador Sebastião Deister
Edição 471
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No ano de
1840, o agrimensor Urbano de Saldanha Marinho chegava do Rio de Janeiro para
medir oficialmente a Fazenda Sacco Velho, cujas terras interessavam a alguns
membros da família Werneck, descendentes diretos do seu primeiro administrador,
o Capitão Inácio de Souza Werneck, oriundo da Fazenda Nossa Senhora da Piedade
de Vera Cruz. Por essa época, já existiam na área pretendida algumas
florescentes propriedades sob a administração de Francisco da Rocha Chaves, as
quais se limitavam com a pioneira Fazenda Monte Alegre, de Francisco das Chagas
Werneck, tio do 2º barão de Paty do Alferes (Francisco Peixoto de Lacerda
Werneck). Além de serem vizinhas à rica Monte Alegre, as terras de Francisco também
beijavam a fazenda de D. Antônia Maria, ao norte, e a propriedade de Felix de
Azevedo Ramos, pelo sul. Para a direção oeste, Sacco Velho alcançava as atuais
terras do centro de Miguel Pereira, exatamente onde agora se localiza a sua antiga
estação ferroviária, estabelecendo linhas de contato com a Fazenda da Estiva,
de Antônio da Silva Machado (o Machadinho).
A família
Werneck tinha por norma sempre ampliar seu patrimônio territorial. Assim,
Francisco das Chagas Werneck mostrou-se disposto a comprar a Fazenda do Sacco
para, agregando-a a Monte Alegre, dominar uma imensa área que vinha desde a
Fazenda da Manga Larga, em Paty, até o centro de Barreiros (atual Miguel
Pereira), com isso criando um notável latifúndio que consolidaria ainda mais o
prestígio e a riqueza dos Werneck no alto da Serra do Couto. Francisco era o
sexto filho de Inácio de Souza Werneck e, em
1846, senhor absoluto da Fazenda Monte Alegre, propriedade que, aliás, venderia
a seu sobrinho, o 2º barão de Paty do Alferes, no ano de 1853.
Incansável
negociante, Francisco comprou, em 1846, 750 x 900 braças da Fazenda do Sacco (cerca de 150.000 m2) para fazer
testada, como já mencionado, com a área de D. Antônia Maria e fundos com os
terrenos de Felix de Azevedo Ramos. Não satisfeito, nos últimos meses daquele
mesmo ano adquiriu mais 250 x 700 braças (ou 38.000 m2) pertencentes
a Francisco de Oliveira Duarte, ampliando seu patrimônio e ganhando como
vizinhos João René de Jesus, pelos fundos, e Antônio Ribeiro Gomes Junior, pelo
oeste.
Por seu
turno, João René de Jesus, logo em seguida, vendeu a Francisco outro sítio
vizinho ao Sacco, chamado Buraco Fundo. Com isso, os Werneck aumentaram
sensivelmente a testada de sua fazenda e, anexando-a de imediato a Monte
Alegre, colocaram-se na consistente posição de donos de praticamente metade do
incipiente povoado de Barreiros.
Em 1847,
o restante de Sacco Velho foi desmembrado. As glebas resultantes de tal
retalhamento passaram a conhecer novos proprietários que, administrando seus
diversos sítios, estenderam um processo de ocupação que acabou por cobrir um
considerável território ligado aos terrenos que atualmente compõem o bairro
Parque Guararapes. Com efeito, em 1847 o fazendeiro Manoel Sebastião de Almeida
e sua mulher venderam a Manoel Corrêa de Mattos um sítio denominado Palacete,
localizado dentro das terras do Sacco Velho. Por sua vez, em 1858 Francisco da
Silveira Duarte e sua mulher, D. Fortunata Maria da Conceição, negociaram com o
barão de Paty parte de uma área no Sacco, o que ampliou, por conseguinte, os
domínios dos Werneck no lugar.
Já em 1872,
o Dr. Joaquim Teixeira de Castro, visconde de Arcozelo (genro do barão de Paty),
comprou de Manoel Corrêa de Mattos parte do chamado Sítio Palacete, dentro dos
limites do Sacco, porém uma grande extensão de tal propriedade permaneceu em
mãos de Manoel Corrêa de Mattos que, por herança, transferiu-a para a filha, d.
Astréia de Mattos. Na segunda metade do século XX, tais terras, rebatizadas
como Sítio Lírio de Brejo, foram administradas por d. Astréia, que ali
implantou algumas criações de animais. Dinâmica e trabalhadora, d. Astréia
somente revenderia a propriedade nos anos 1980 para a família do senhor Durval
Amaral (filho do general Antônio Ferreira do Amaral).
Muitas
outras negociações, envolvendo as chamadas "terras do Sacco", ocorreram ao
longo dos tempos. Os que as escrituras não citam, mas podemos inferir, é que a
Fazenda do Sacco não constituiu simplesmente uma propriedade dentro da qual se
inseriu o Sítio Lírio do Brejo. É possível, assim, imaginar uma vasta área
fracionada em várias chácaras diminutas, mas tal situação não se mostrava
verdadeira. Julgando-se todos os contratos de compra e venda da época, podemos
confirmar, através de registros cartoriais, que a Fazenda do Sacco limitava-se
com Monte Alegre a leste e com Pantanal a oeste, compreendendo em sua área
diversas propriedades menores para o norte, enquanto para o sul, na direção das
bandas da serra do Tinguá, apresentava linhas divisórias junto à Fazenda de
Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz (também da família Werneck), isto é:
embora assentada em terras do povoado de Barreiros, a Fazenda do Sacco estendia
seus domínios pelas colinas circundantes, o que nos dá uma ideia mais clara de
suas notáveis dimensões e de sua importância na ocupação demográfica da Serra
do Couto. De qualquer forma, depois de muito tempo compondo a paisagem de
Miguel Pereira, o Sítio Lírio do Brejo atualmente está em processo de
urbanização por parte da Prefeitura Municipal, que objetiva construir no local
um grande centro de convenções.
IMAGEM: D. Astréia de Mattos ao lado
de seus agregados no Sítio Lírio do Brejo
Na próxima edição:
Histórico do Sistema Bancário em Miguel Pereira