Histórico do sistema bancário em Miguel Pereira
Episódios Especiais do Passado de Miguel Pereira
04/11/2023
Historiador Sebastião Deister
Edição 473
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Nas décadas
iniciais do século XX, as atividades financeiras em Miguel Pereira envolviam
tão simplesmente transações diretas entre as primevas (pioneiras) casas
comerciais que lenta, mas firmemente, começavam a se estabelecer nas ruas
centrais mais próximas da estação ferroviária, Não havia, então, bancos ou
outras instituições semelhantes destinados a receber depósitos ou criar linhas de
crédito para atender empresários locais ou mesmo clientes individuais.
Banco
Fluminense de Produção S.A.
De fato, a primeira
casa monetária a surgir na cidade foi o Banco Fluminense de Produção S.A., centro bancário fundado e sediado em Petrópolis em 21 de junho de 1941. Infelizmente, no ano de 1948 o Conselho da Superintendência da
Moeda e do Crédito da época (Sumoc) recomendou que o Banco Fluminense da Produção pedisse sua
liquidação, na forma da Lei, pois a instituição não mais apresentava condições
de continuar operando. Tido como importante instrumento de crédito aos
lavradores, comerciantes e industriais, a concordata do banco fez com que suas
operações de crédito fossem paralisadas. Ato contínuo, sua falência judicial
foi decretada em 26 de
dezembro de 1950, com sérios prejuízos aos seus credores e
cerca de trinta e sete mil depositantes. Em Miguel Pereira, o banco atuou entre
7 de julho de 1947 e 18 de dezembro de 1949.
Banco Mandaro
Em suas instalações (localizadas na chamada
Rua da Igreja, hoje Calçadão do Viô) surgiu então o Banco Mandaro, uma
instituição desconhecida e sem renome que não despertou interesse e muito menos
confiança na população. A agência teve duração efêmera, e em vista de não
cooptar os clientes necessários, foi desativada menos de um ano após aparecer
em Miguel Pereira.
Credireal
Os trabalhos bancários no município ganharam
realce nos anos 1950 com a inauguração da agência do Credireal oriundo de Minas
Gerais. Lembre-se que o Banco de Crédito
Real de Minas Gerais fora fundado em 1889 por Bernardo Mascarenhas, Francisco Batista de Oliveira e Marcelino de Brito Ferreira de
Andrade. Até a década de 1920, foi o único banco da Zona da Mata Mineira. Surgiu como um empreendimento financiado
basicamente pelo capital agrário local, liderado por importantes fazendeiros da
região. Já em 1891, assumiu as funções de "banco misto",
reunindo operações de longo e curto prazos. O controle acionário foi assumido
pelo Estado em 1911 que, em 1919, realizou sua encampação efetiva,
transformando o Credireal em uma instituição oficial. Em sua sede, em Juiz de
Fora, funciona atualmente
o Museu do Crédito Real. Sua insolvência aconteceu em 1997.
Em Miguel Pereira, sua
sede foi aberta quase ao final da rua General Ferreira do Amaral em meados de
1954. Pouco tempo depois, em vista da
exigência de maiores espaços por conta do grande fluxo de clientes, mudou-se
para o início da mesma rua, onde então foi construída uma agência confortável
com um segundo pavimento destinado ao seu gerente. No local, hoje, funciona uma
loja de variados artigos de vestuário.
Unibanco
Pouco tempo depois do
aparecimento do Credireal, surgiu na cidade o Unibanco, fundado em 1924 na
cidade de Poços de
Caldas, Minas
Gerais pelo comerciante João Moreira Salles como Seção Bancária da Casa Moreira Salles.
Em 1933, Walther Moreira Salles, filho mais velho, então com 21 anos,
assumiu o comando da Casa
Bancária Moreira Salles. Posteriormente, Walther Moreira Salles viria a
ser embaixador do Brasil em Washington e o banco uma das instituições
brasileiras que mais cresceram na década de 1990. Em 15 de Julho de 1940, a
instituição passou a chamar-se Banco Moreira Salles. Em 2007, o banco continuava sob
controle familiar (família Moreira Salles), sendo presidido pelo neto do
fundador, Pedro Moreira Salles. Com a crise de 2008, foi o único
grande banco brasileiro que teve rumores de problemas de liquidez, porém nada
além de especulações. Em 3 de novembro de 2008, Itaú e
Unibanco anunciaram a fusão das operações financeiras, formando o Itaú Unibanco Banco Múltiplo, a maior holding financeira do hemisfério sul, e entre as vinte
maiores do mundo. Inicialmente, a agência funcionou junto ao Largo Machadinho,
bem no início da Avenida Roberto Silveira, mudando-se posteriormente para a
esquina das ruas Luiz Pamplona e Áurea Pinheiro, local agora ocupado pelo Banco
Santander.
BEG, BERJ e Banerj
Em
sequência, Miguel Pereira recebeu o Banerj alocado junto à Rua General Ferreira
do Amaral ao lado das instalações da Coletaria Estadual. Os antecedentes do banco remontam ao Banco da Prefeitura do Distrito Federal S.A., criado em 1945. A instituição, posteriormente, teve sua denominação alterada
para Banco do Estado da Guanabara
(BEG), sendo incorporado ao
antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro (BERJ) em
decorrência da fusão daqueles estados, mantendo o nome do antigo banco
fluminense, porém com o acrônimo Banerj.
Tornou-se uma instituição presente em todas as cidades do Rio de Janeiro e
manteve filiais em todas as capitais brasileiras. Chegou a contar com 250
agências. O Banerj era responsável pela arrecadação de todas as taxas e
tributos estaduais, pagamento dos funcionários públicos e dos benefícios de
aposentados e pensionistas estaduais, além da administração da folha de
pagamento dos servidores estaduais. Em 20 de fevereiro de 1987, o Banco Central decretou
intervenção no Banerj, colocando-o sob Regime de Administração Especial
Temporária. No dia 26 de junho de 1997,
na Bolsa de
Valores do Rio de Janeiro,
o Banerj foi leiloado. O patrimônio líquido do banco na data 6*do leilão era de
R$ 181 milhões, sendo vendido 99,97% do seu capital social por R$ 311 milhões.
O grupo Itaú, único a apresentar proposta, arrematou as 190 agências e cerca de
1,7 milhão de clientes.
Com
o incremento do comércio e do turismo no município e as volumosas operações
financeiras advindas dos múltiplos e rentáveis trabalhos agrícolas e pecuários
implantados em Miguel Pereira e também na vizinha Paty do Alferes, a região
passou a conhecer uma apreciável circulação de bens de capital e,
principalmente, de dinheiro vivo, fatores que determinaram um progressivo
acréscimo nos depósitos bancários, atraindo, naturalmente, os olhares e o
interesse de outras instituições bancárias. Por conseguinte, inauguraram-se na
cidade agências da Caixa Econômica Federal, do Bradesco e do Santander e mais
recentemente uma filial do SICREDI e algumas lojas dedicadas aos serviços de
empréstimos consignados.
IMAGEM:
Agência do banco Credireal em Miguel Pereira com seus funcionários nos anos
setenta.
Na próxima edição: Os Antigos
Empórios de Miguel Pereira