Os imigrantes em Miguel Pereira

Episódios Especiais do Passado de Miguel Pereira

 08/12/2023     Historiador Sebastião Deister      Edição 478
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A imigração constitui o processo de entrada de um indivíduo ou de famílias inteiras em um território diferente de sua terra de origem, porém o termo é mais comumente empregado para definir as migrações internacionais. Variados motivos determinam tais deslocamentos humanos, como, por exemplo, a busca por trabalho, uma melhor colocação profissional, melhores condições de vida, desastres naturais, situações climáticas extremas, crises políticas e socioeconômicas, perseguições étnicas e religiosas etc.

Nesse sentido, é importante ressaltar que a população que imigra tem como objetivo a fixação em outra localidade, isto é, não se trata de um processo de curta duração como é o turismo, por exemplo. Em geral, os países desenvolvidos são aqueles que recebem o maior número de imigrantes. No Brasil, os fluxos mais antigos derivaram, em sua maioria, de países latino-americanos, africanos, asiáticos e, em especial, de nações da Europa Central cujos habitantes procuravam fugir da primeira e da segunda guerras.

O processo de imigração envolve comumente dois países distintos, ou seja, aquele de onde vem o indivíduo e aquele que o recebe. Por essa razão, tanto em livros didáticos quanto em documentos oficiais, tal deslocamento pode aparecer referido como migração internacional, migração externa ou migração transnacional. De acordo com a ONU, o mundo conta hoje com mais de 280 milhões de imigrantes.

Em alguns casos, o movimento de pessoas verificado dentro das fronteiras de um mesmo país, ou de um estado a outro, é chamado também de imigração. No entanto, o emprego desse termo é mais comum para se referir aos deslocamentos internacionais, especialmente entre duas nações. Para as mudanças em um mesmo território, utilizamos a expressão migração interna.

A composição do território nacional e a história brasileira se deram a partir de uma sequência de ciclos de imigração que se iniciaram no século XVI com a chegada dos colonizadores europeus e, logo na sequência, com a vinda forçada de africanos escravizados para o trabalho nas lavouras canavieiras e cafeeiras. Além disso, devemos lembrar que, no decorrer do tempo, sobretudo a partir do início do século XIX, uma grande corrente migratória oriunda de países europeus, como Alemanha, Itália, Polônia, Ucrânia, Hungria, além do Japão e da Coreia, passou a compor a população de imigrantes que vivia no Brasil, colaborando decisivamente para o desenvolvimento urbano e demográfico do país.

Miguel Pereira

Tanto Miguel Pereira quanto Governador Portela (e por extensão o Vale do Paraíba) viram-se bastante beneficiadas com os múltiplos trabalhos executados por dezenas de imigrantes desembarcados entre as décadas de vinte e trinta da centúria anterior. Com efeito, famílias radicadas na serra dedicaram-se, em grande maioria, ao comércio em geral (lojas de roupas e tecidos, bares, armarinhos, empórios, padarias etc.), mas exerceram também serviços na construção civil, no campo da hotelaria e nos ramos da agropecuária e da corretagem de imóveis.

É importante ressaltar que na maior parte dos casos uma família de imigrantes procedia de outra cidade brasileira, mas trazia consigo os costumes e a cultura de seu país de origem, ou seja, poucos dispunham de cidadania brasileira, porém sua presença e seu trabalho serviram de base para o desenvolvimento social, econômico, comercial, cultural e político de Miguel Pereira.

Em uma lista resumida, lembraremos alguns nomes importantes para nosso município. É fundamental ressaltar que ficam contemplados aqui personagens oriundos de outros países (e em alguns casos um primogênito que se deslocou para Miguel Pereira) e não aqueles que migraram de outras regiões do Brasil (como, especificamente, o Dr. Miguel Pereira, vindo de terras paulistas). Por outro lado, é possível que haja omissão de um nome, o que é compreensível em um universo tão vasto de homens e mulheres que fizeram, de fato, nossa terra crescer e se consolidar no estado do Rio de Janeiro.

 

01. Abdon Gedeon, libanês (comerciante). Instalou-se em Governador Portela, onde constituiu família e fundou uma loja de tecidos e artigos para o lar em funcionamento até hoje.

02. Antero Nogueira, português (comerciante). Fundador da Casa Aurora, posteriormente administrada pelo genro Luís, também português.

03. Ângelo Lagrotta, italiano (engenheiro). Fundador da Companhia Força e Luz Vera Cruz, em 1927, ao lado de Edmundo Peralta Bernardes, pioneira no fornecimento de eletricidade para toda a região serrana.

04. Antônio Botelho Peralta, português (médico), proprietário da fazenda Pantanal, casado com a princesa francesa Marie Adelaide de Burgos Chapuzet Vilet. Patriarca da família Peralta.

05. Bruno Lucci, italiano (hoteleiro). Fundador do conhecido Hotel Summerville, cuja rua de acesso leva seu nome.

06. Conrado Zeck, alemão (engenheiro). Nasceu na cidade de Gebweller, na Renânia-Palatinado, em 15 de março de 1901. Fixou-se na região do Lago das Lontras.

07. Ernest Haymann, alemão (serviços agrícolas). Fundador de uma escola municipal na área de Vera Cruz chamada Cruz das Almas.

08. Eugênio Badolati, italiano (serviços de sapataria). Casou-se com Maria Badolati, deixando numerosos descendentes na cidade.

09. Frederico Augusto da Senna Wängler, alemão (hotelaria). Anteriormente vereador em Vassouras, teve a primazia de ser o 1º prefeito de Miguel Pereira.

10. Fructuoso da Fonseca Fernandes, português (comerciante e político). Exerceu o cargo de prefeito em Miguel Pereira e deixou na cidade uma Colônia de Férias hoje transformada em hotel (Hotel Montanhês).

11. George Dau, árabe (armarinho e tecidos). Fundou na cidade uma loja de variedadee e artigos de cama e mesa.

12. Giuseppe Chimento, italiano (comerciante). Filho de Pasquale Chimento e Maria Tereza Mazzei, nasceu em Fuscaldo, Província de Cosenza Regio Calabaria. Chegou em 1905 no vapor Rio Amazonas de bandeira italiana.

13. Hiroshi Watanabe, japonês (agricultura). Nascido em 1927, aos cinco anos veio com a família para o Brasil e, em 1939, estabeleceu-se na área da Vargem do Manejo, dedicando-se à lavoura.

14. João Alberto Masô, suíço (engenharia e construção civil). Um dos responsáveis pela construção do Viaduto Ferroviário Paulo de Frontin em Vera Cruz.

15. Jorge João Dodsworth, escocês (político). Titulado barão de Javary, tornou-se dono da fazenda às margens do lago de Javary, hoje um hotel-pousada.

16. José Barile, italiano (empresário). Gerou em Conrado o filho Aurélio Barile, comerciante.

17. José Kropf, alemão (sacerdote). Militou anos em Miguel Pereira, sendo o resposável pela construção da nova matriz de Santo Antônio.

18. José Mamede Calile, libanês (comerciante e político). Mais conhecido como Abraãozinho, deixou descendentes em Portela e foi também vice-prefeito municipal.

19. Miguel Levy, árabe (loja de tecidos e aviamentos). Dono da loja Casa Nova, era concunhado do cantor Francisco Alves.

20. Nagib Ahouge, libanês (comerciante). Administrou por anos o seu bar junto à estação ferroviária de Miguel Pereira.

21. Nicolau Salerno, italiano (empresário). Fixou-se na localidade de Sertão (hoje Conrado). Trouxe à luz o filho Carlos, eternizado no lugar pelo apelido de Santinho.

22. Otto von Sinnastascke, polonês (hotelaria). Assumiu por tempos o Hotel Summerville deixado por Bruno Lucci.

23. Rigoletto Cristófaro, italiano (empresário). Pai de Fantina Cristófaro, casada com o comerciante Wlson Moraes (Nenco).

24. Wilhelm Ludwig Raban von Mentzingen, alemão (agricultor). Conhecido como barão de Mentzingen, cultivou café na área de Arcádia, em cujo cemitério está inumado.

 

IMAGEM: Setembro de 1930 - Desembarque de imigrantes na Estação de Sertão (Conrado)

 

Na próxima edição: Memórias de Paty do Alferes