Condessa (e Viscondessa) do Rio Novo Mariana Claudina Barroso Pereira de Carvalho

Um exame de DNA vai definir onde realmente a condessa está enterrada, mas Cinara diz preferir que a história não passe de um mal entendido.

 10/10/2025     Historiador Sebastião Deister      Edição 525
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Filha dos barões de Entre-Rios (Antônio Barroso Pereira e Claudina Venâncio de Jesus), nasceu em 1817 em Paraíba do Sul, e em 1831, com apenas 15 anos, casou-se com seu primo Antônio Barroso de Carvalho, que viria a ser titulado como visconde do Rio Novo. 

Interessante registar que Antônio nasceu em 14 de fevereiro de 1816 no arraial de Sebollas (hoje Inconfidência, em Paraíba do Sul), sendo sobrinho do barão de Entre-Rios (Antônio Barroso Pereira). Foi titulado como barão em 1856 e como visconde em 27 de março de 1867. Era Dignatário da Imperial Ordem da Rosa e Comendador da Imperial Ordem de Cristo. Já era proprietário da fazenda Boa União quando se casou com D. Mariana Claudina, filha do seu tio, o barão de Entre-Rios. Por sua vez, o visconde colaborou bastante com o Governo Imperial repassando-lhe muitos dos gastos relativos à Guerra do Paraguai e com os movimentos destinados a trazer a ferrovia para a área de Três Rios. Político talentoso, Antônio foi vereador por várias vezes em Paraíba do Sul e em Petrópolis, chegando nessa última cidade a ser Presidente da Câmara Municipal.

O visconde faleceu no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1869, sem deixar descendentes. Por conta disso, torna-se relevante lembrar que Antônio Barroso não figura na História de Três Rios como conde, isto porque faleceu antes que tal título lhe fosse concedido. Por essa razão, apenas sua esposa Mariana Claudina veio a ser nobilitada como condessa, uma vez que ela assim foi agraciada quando já estava viúva em 1880.

Ao lado do marido, Mariana Claudina foi nobilitada como baronesa em 1856 e viscondessa em 1867. Depois de viúva, Claudina recebeu o título de condessa do Rio Novo em 16 de outubro de 1880, vindo então desempenhar papel de relevância na área atualmente ocupada pelo município de Três Rios, inclusive com a doação de centenas de contos de réis para as Casas de Caridade de São João d'El Rei e de Paraíba do Sul, esta especialmente destinada a acolher pessoas pobres e cuidar de meninas órfãs e de pessoas doentes. 
Com a morte de sua mãe, a baronesa de Entre Rios herdou a Fazenda Cantagalo, propriedade que destinou para a expansão da cidade de Três Rios, razão pela qual é considerada até hoje como a verdadeira fundadora daquela cidade. Por outro lado, a condessa, em testamento, deixou uma recomendação para que todos os seus escravos fossem libertados após sua morte. Com isso, foi uma das pioneiras da abolição da escravatura no Brasil, pois seus escravizados foram, de fato, alforriados após seu falecimento em Londres no dia 5 de junho de 1882, oito anos antes, portanto, da Lei Áurea.

A origem do atual bairro Vila Izabel em Três Rios

Também preocupada com o futuro dos negros livres, Mariana deixou em testamento a exigência que todos recebessem terras para exercer atividades que lhes proporcionassem meios seguros de subsistência. Nessas terras, ela desejava ver criada uma colônia de ex-escravos, e o espaço acabou originando o atual bairro Vila Izabel em Três Rios. 

Em Três Rios aceita-se o fato de que os restos mortais de Claudina hoje repousam no mausoléu da família no interior da capela Nossa Senhora da Piedade, à entrada da cidade, único vestígio das extensas terras formadoras da fazenda Cantagalo.

Contudo, mais de um século depois de sua morte surgiu um questionamento sobre o local de sepultamento da condessa do Rio Novo. De acordo com a história contada na cidade, o corpo foi trazido para a Capela Nossa Senhora da Piedade anos depois de seu falecimento. No entanto, a dúvida sobre o local de sepultamento surgiu após a pesquisadora Cinara Jorge descobrir uma notícia de jornal do século XIX que asseverava:

"(...) Quando foram feitas as cerimônias finais para o enterro, alguém resolveu abrir o caixão, isso cinco anos depois do falecimento dela, em 1887. Quando abriram, só havia um esqueleto sem cabelo e sem dentes", 

A partir daí, Cinara resolveu se aprofundar no assunto, passando a contar com a ajuda do Colégio Brasileiro de Genealogia e mergulhando em outras pesquisas.
"Alguns amigos se envolveram nessa busca, até que um deles foi a diversos cemitérios de Londres. Em um deles, ele encontrou, em uma catacumba no subsolo, um nicho quadrado com o caixão da condessa. O caixão está lá, intocado. O próprio cemitério me mandou um e-mail declarando que 'a condessa repousa em paz naquele cemitério".

Um exame de DNA vai definir onde realmente a condessa está enterrada, mas Cinara diz preferir que a história não passe de um mal entendido. Segundo ela "(...) É muito triste você se sentir ludibriada durante 130 anos".