Moreira Franco, explica os problemas que levaram à abertura do impeachment

O político mais ligado ao vice-presidente da República, Michel Temer

 16/04/2016     Política Nacional   
Compartilhe:       

Por que ser a favor ou contra o impeachment da presidente Dilma?

MF - O grande problema do Brasil, o primeiro problema do Brasil é a economia; o segundo é a economia; e o terceiro é a economia. As pessoas estão perdendo o emprego, perdendo conquistas sociais obtidas nos últimos anos. A inflação cresce, o governo continua com a gastança desenfreada comprometendo as contas publicas. Todos os setores da economia brasileira estão desorganizados. O estado do Rio de Janeiro, a questão da Lava Jato e a roubalheira na Petrobras fizeram com que toda a cadeia de óleo e gás fosse comprometida, gerando desemprego em cidades como Itaboraí, Macaé e no próprio município de Campos. Em outros estados do Brasil, a mesma coisa: as contas dos estados foram prejudicadas, ou seja, a economia brasileira está em um estado de falência total, os municípios quebrados, estados quebrados e a união atrasando, inclusive, cortando os programas sociais que garantem a vida, a sobrevivência de milhões de brasileiros por falta de recursos financeiros. Nessas circunstâncias, não há outro caminho a não ser o de se ter uma visão com uma avaliação rigorosa dos erros cometidos pelo governo, também quanto ao desrespeito à responsabilidade fiscal. Quando o governo resolveu gastar demais e comprometeu os bancos públicos como fez, mascarando as contas públicas, adiou o problema para continuar fazendo a gastança e foi isso que gerou este quadro de desacerto econômico em que nós vivemos. Hoje nós temos a Dilma contra o Brasil, e o Brasil está nas ruas pedindo o impeachment da presidente.

Como a aprovação do relatório da Comissão do Impeachment por 38 a 27 votos, pode influenciar a votação no Plenário da Câmara dos Deputados?

MF - Uma vitória, uma vitória em uma Comissão que foi dita pelo governo como dela, montada por ela, com regras que foram avaliadas pelo governo capazes de beneficiar o governo. Eles sempre viram ali um fórum para afirmar a vitória e saíram perdidos, derrotados, e para que se ali, na Comissão, a posição favorável ao impeachment obtivesse dois terços dos integrantes, faltavam só quatro votos. Foi uma grande derrota do governo.

O senhor acredita que o mesmo fenômeno que houve na época das votações das Diretas Já, em que as ausências comprometeram a aprovação da Emenda Constitucional, pode ocorrer desta vez e prejudicar a votação?

MF - O governo vai jogar todas as forças como está jogando e, evidentemente, a oposição, brasileiros, sobretudo cidadãos brasileiros, eleitores brasileiros vão estar atentos aos seus deputados.

E em relação ao Senado, o senhor enxerga que o impeachment passa por lá, apesar do presidente Renan Calheiros ser um aliado da Dilma?

MF - Acho que sim, que o Senado, passando na Câmara, não vai barrar.

E se a Dilma ficar, como é que ela vai governar diante de uma base parlamentar pequena e ao mesmo tempo tantos brasileiros desempregados?

MF - Acrescento mais: há nove pedidos de impeachment para serem decididos na Câmara dos Deputados e uma determinação do Supremo Tribunal Federal em que o presidente da Câmara é obrigado a colocar os pedidos de impeachment em pauta e formar as comissões. Nós vamos ficar esse tempo todo a cuidar, a ver a Câmara discutindo impeachment da presidente Dilma.

E em um eventual governo Temer, como enfrentar a oposição do PT e dos movimentos sociais?

MF - Ainda não existe governo Temer, então prefiro trabalhar com fatos e não com hipóteses.

E em relação ao TSE, que ainda pode caçar a chapa Dilma-Temer, pode gerar ainda consequências... O senhor avalia que esse processo deve ser julgado nos próximos meses?

MF - Não sei  quando vai ser julgado, mas agora, do ponto de vista legal, a chapa não praticou ilícito. O ilícito praticado nas contas, ou está em uma campanha ou está em outra campanha ou ainda pode estar até nas duas, mas uma não contamina a outra por consequência. O crime que se procura é por origem de dinheiro decorrente da corrupção, ou seja, lavagem de dinheiro com doação formal. A equipe financeira da campanha do presidente é diferente da equipe financeira da campanha do vice- presidente. As contas são prestadas autonomamente, e eventualmente, vai haver uma avaliação para ver se houve recursos de origem ilícitas da campanha da presidente, que tenham sido repassados para a do vice. Pelas informações que temos aqui, não houve. As doações dadas ao tesoureiro da campanha do vice-presidente foram  absolutamente legais.

Na América do Sul tem acontecido fenômenos em que a esquerda tem perdido espaço. Isso é o que tem gerado o fim do "lulupetismo" no Brasil?

MF - Não, eu acho que é um problema local, decorrente de uma realidade local, de uma crise econômica, que foi provocada por uma crise de erros internos num ambiente externo hostil. Mas os erros foram cometidos aqui; são problemas que o governo criou e que não está conseguindo resolver. O povo viu que o governo praticou atentado à determinadas regras legais, além de uma gestão temerária e muito fraca na economia.