Inflação, preços e renda

Existe uma discussão nada pontual que envolve a relação entre inflação, preço e lucro. Quais os principais componentes que formam um índice inflacionário? Qual impacto sobre a renda? Quem realmente ganha ou perde com a inflação?

 06/05/2016     Opinião      Edição 84
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Existe uma discussão nada pontual que envolve a relação entre inflação, preço e lucro. Quais os principais componentes que formam um índice inflacionário? Qual impacto sobre a renda? Quem realmente ganha ou perde com a inflação? 

Algumas respostas são possíveis. Vamos partir da chamada inflação de alimentos.  O Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo, mas convive com uma inflação, que em parte é ocasionada pela alta dos preços desses produtos. O aumento de preços foi acima de 100% em uma década, entre os anos de 2005 e 2015, muito acima da inflação no período.

Quem perde com isso são os trabalhadores. Com todas as conquistas obtidas neste mesmo período, o aumento do salário mínimo não acompanhou a variação no preço dos alimentos. O salário mínimo saiu de R$ 465,50 (2005) para R$ 788,00 (2015). A queda nos índices de renda e emprego, verificada nos anos de 2014 e 2015, mostra claramente a dura realidade salarial do trabalhador. Em um momento de ameaças reais de perda de emprego e dos direitos adquiridos, entre eles o reajuste do salário mínimo vinculados às performances do PIB (Produto Interno Bruto) e da inflação, o quadro tende a se agravar.

Todos perdem com a inflação? Um olhar superficial atesta que sim. Porém, até que ponto os grandes monopólios também são atingidos?

O bom senso popular diz que, em um período de compressão da renda e do consumo, deveria haver uma queda nos preços, o suficiente para equilibrar a oferta e a demanda. Porém, isso não se verifica no caso das grandes empresas do setor de alimentos. Ao contrário. Há um acúmulo extraordinário do lucro, capaz de financiar verdadeiros prejuízos em épocas de crise, sem impacto "para baixo" nos produtos ofertados.

O exemplo do Grupo Pão de Açúcar é pedagógico. Entre 2012 e 2014, seu resultado líquido (lucro) saiu de R$ 1,15 bilhão para R$ 1,76 bilhão, o que daria para cobrir o saldo negativo de 314 milhões, apresentado em 2015. Algo mais a comentar sobre quem perde e quem ganha com a inflação.

*presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro