Padre Leonardo Felipe Fortunato, o 1º Vigário da Estiva - Estudo biográfico nº 1

No dia 13 de junho de 1897, uma sexta-feira de muito sol e alegria, a Vila da Estiva (futura Miguel Pereira) experimentou a incontida satisfação de ver sua capela incorporada à Jurisdição Eclesiástica

 28/08/2015     Historiador Sebastião Deister      Edição 48
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No dia 13 de junho de 1897, uma sexta-feira de muito sol e alegria, a Vila da Estiva (futura Miguel Pereira) experimentou a incontida satisfação de ver sua capela incorporada à Jurisdição Eclesiástica da Paróquia de Paty do Alferes, administrada na ocasião pelo Reverendíssimo Pároco Leonardo Felipe Fortunato (ver imagem), um padre secular congregado à Diocese de Valença.

 

Fortunato nascera na Itália em 26 de maio de 1852, vindo fazer seus estudos teológicos no Seminário de Porto Alegre no ano de 1870, no qual foi ordenado Padre, em 1 de abril de 1877. No ano seguinte, recebeu a Provisão de Vigário da Freguesia de São Gabriel, também no Rio Grande do Sul, permanecendo nessa Paróquia entre os anos de 1878 e 1891. Deixando essa cidade, o Padre Fortunato viajou até a Itália, a fim de visitar sua família, de lá regressando em 1893. Dois anos depois, foi provisionado para a Paróquia de Paty do Alferes, ocupando tal cargo até 1937. Como naquela época Paty responsabilizava-se também pela área da Estiva, o Padre Fortunato tornou-se o primeiro Patrono Eclesiástico da pequena Capela de Santo Antônio, consagrando-a com uma primeira missa no dia dedicado ao santo, ou seja, em 13 de junho de 1897, cerimônia inédita durante a qual, certamente, a capela deve se ter mostrado exígua para a população que para lá acorreu envolvida por um misto de felicidade e curiosidade. Tal dia, então, veio a ser considerado como data da fundação oficial da cidade de Miguel Pereira.

Depois de sua oficialização e plena consagração pelo padre Fortunato, a Capela de Santo Antônio da Estiva passou a receber a graça de uma missa mensal e os louvores de ladainhas noturnas ao longo da semana, estas sempre à luz de candeeiros e velas, em função da não existência de energia elétrica na região. Já em 1901, os moradores da vila e sua comunidade religiosa trataram de promover a primeira grande festa junina em honra do seu Padroeiro.

Essa comemoração, tão surpreendente quanto original, transformou-se em um extraordinário acontecimento para aquele povoado até ali desprovido de qualquer espécie de lazer. Com bandeirinhas obtidas pelo recorte de papel colorido, o povo ornamentou as esburacadas ruelas próximas do outeiro consagrado ao Santo e decorou a capela e sua pracinha fronteiriça. Lampiões de querosene ou carbureto por certo iluminavam o interior sereno do singelo templo, em cujo despretensioso altar de madeira rústica e pedras graníticas agasalhava-se, em rendas e fitas, o santo Padroeiro, realçado em sua quietude pela claridade de velas votivas e esperançosas. Lá fora, no pátio empoeirado, crepitava uma convidativa fogueira destinada a amenizar o frio implacável do inverno serrano e tostavam-se batatas e milho naquelas labaredas reconfortantes, destinadas também a exorcizar para bem longe o impenetrável escuro da gélida noite de junho.

Pelas barraquinhas assimétricas, armadas com o bambu que medrava pelas colinas do povoado, comercializava-se de tudo um pouco, desde aguardente de cana, quentão, pamonhas, bolinhos de mandioca, pastéis e bolos até cocadas, chouriço e linguiça, enquanto no coreto da pracinha leiloavam-se novilhas doadas pelos fazendeiros que já faziam da Estiva um ponto de referência para os seus negócios.  Dessa forma espontânea e original, a pioneira população da vila instituía para sempre as festividades do Dia do Padroeiro Santo Antônio e consolidava um evento comunitário e religioso mantido de maneira ininterrupta em nossa cidade, há exatamente cento e quatro anos.

Professor Sebastião Deister - deisterprof@hotmail.com