Argeu Abreu Pinheiro
Perspicaz e criativo, Argeu mandou imprimir cartões de visita com uma quadrinha que se tornou famosa na cidade e que acabou se transformando em seu carro-chefe: "Casa, terreno, sítio e granja? Com Argeu você arranja"
17/06/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 90
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Entre os séculos XVIII e XIX, o povoado de
Santa Tereza d'Ávila (hoje município de Rio das Flores) desfrutava de grande
prestígio em toda província fluminense graças às ricas atividades desenvolvidas
por alentadas fazendas de café distribuídas pelo seu vasto e fértil território.
Atrelado então ao município de Valença (do qual se emancipou em 1890), atraiu
para suas terras numerosos imigrantes à busca de oportunidades, entre eles o
português e mestre de obras Manoel dos Santos Pinheiro que veio a se casar com
D. Hilda de Abreu, natural de Vassouras. Desse casal nasceu Argeu Abreu
Pinheiro em 20 de julho de 1913 no distrito rio-florense de Taboas. Por algum
tempo a família viveu em Vassouras, terra de D. Hilda, e Argeu ainda era
criança quando todos se mudaram para Miguel Pereira, cidade em que o pai
construiu várias casas justamente quando a pequena cidade começava a receber
imigrantes e veranistas das mais diversas origens.
Argeu casou-se ainda muito jovem com Maria José
Figueiredo, gerando com ela os filhos José Mário (corretor de imóveis), Maria Hilda
(professora aposentada) e Antônio Paulo (já falecido). Tudo parecia caminhar
muito bem, até que pai e filhos se viram obrigados a atravessar momentos de dor
e a encarar imensos obstáculos impostos pelo destino. De fato, Maria José, com
apenas 27 anos, acabou falecendo em consequência de um surto de tifo. A 2ª
Grande Guerra Mundial conflagrava a Europa, e problemas e dificuldades de toda
ordem refletiam-se no Brasil e, principalmente, nas pequenas cidades do
interior fluminense, como a então incipiente Miguel Pereira. Num repente, Argeu
viu-se viúvo e também desempregado, justamente quando seus filhos necessitavam de
toda sua atenção, uma vez que José Mário tinha apenas 5 anos, Maria Hilda 3anos
e o caçula Antônio Paulo apenas 1 ano de idade.
De qualquer forma, ele não se deixou abater
pelos contratempos da vida. Conseguiu um emprego por algum tempo em uma base
aérea no Rio de Janeiro, trabalho que lhe deu algum fôlego para pensar no
futuro. Assim, em pouco tempo decidiu-se por voltar a Miguel Pereira, onde passou
a executar os mais variados tipos de serviço dirigindo um velho caminhão de
frete. Diversificando suas tarefas, arriscou-se na área de construção civil na
qualidade de pedreiro, e a despeito de possuir as habilidades necessárias ao
serviço, uma queda inesperada, que lhe causou uma séria lesão, obrigou-o a
abandonar precocemente tal profissão. Estudando outras oportunidades de
sobrevivência, optou então por trabalhar como taxista na cidade, e ao lado de Pedro
Vergnano, Alvanyr de Lima Ferreira, Manoel Guilherme Barbosa e Paulo Machado,
entre outros, compondo um pioneiro grupo de homens que entre as décadas de
cinquenta e setenta eram conhecidos pelo título de "motoristas de praça". De
acordo com suas filhas, Argeu primava pela elegância e bom gosto ao tempo em
que era taxista. Dentro ou fora do seu Ford 38 ele jamais deixou de envergar
uma camisa bege e uma gravata preta, pois considerava a aparência e a postura
de um profissional atributos indispensáveis ao serviço que executava e ao
atendimento aos passageiros que o procuravam. A título de curiosidade, um dos
seus mais assíduos fregueses foi Luiz Gonzaga, cuja amizade com Argeu perdurou
até o retorno do Rei do Baião a Pernambuco lá pelos idos dos anos sessenta.
Mesmo feliz com seu "carro de praça", Argeu resolveu
dedicar-se à corretagem de imóveis, atividade, a propósito, até hoje
desenvolvida pelo filho José Mário. Com efeito, Miguel Pereira oferecia boas
oportunidades nesse campo, até porque após sua emancipação os negócios de
compra, venda e aluguel de casas e sítios, tanto em Portela quanto em Javary e
na própria sede municipal, ganharam um incremento bastante significativo.
Perspicaz e criativo, Argeu mandou imprimir cartões de visita com uma quadrinha
que se tornou famosa na cidade e que acabou se transformando em seu
carro-chefe:
"Casa, terreno, sítio e granja?
Com Argeu você arranja"
Argeu contraiu segundas núpcias com sua
cunhada, Edina de Figueiredo Teixeira, que lhe deu os filhos Wanda, Jorge e
Cláudio, todos com o sobrenome Figueiredo Pinheiro. Registre-se que o filho de
Wanda veio a receber o nome do avô, mantendo assim na família a lembrança de um
homem solidário e alegre que deixou sua marca pessoal e profissional nos
serviços pioneiros que ajudaram a construir e divulgar a cidade de Miguel
Pereira.
Argeu faleceu em Miguel Pereira em 23 de
julho de 1992, três dias depois de completar 79 anos. Seu nome hoje batiza a
pequena servidão que conduz às casas de seus descendentes junto à Avenida César
Lattes, no centro de Miguel Pereira.
Na
próxima edição: José Mamede Calile, o Abraãozinho