Os geniais Fructuoso Fernandes e Abraham Medina

Dois empreendedores à frente do seu tempo e a paixão comum por Miguel Pereira. Juntos fizeram a cidade que somos hoje.

 24/06/2016     Política Municipal   
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Amigos, motivado pelo entusiasmo e apoio que me foi dado pelo amigo Mauro Peixoto, para que relatasse alguns acontecimentos importantes do nosso município de Miguel Pereira, pelo fato de eu ter vivenciado estes acontecimentos logo no limiar de minha vida profissional e que dizem também a passagem pelo então prefeito, Fructuoso Fonseca Fernandes e seu secretario de Turismo Abraham Medina (gestão de 31 de janeiro de 1973 a 30 de janeiro de 1977). Como já foi relatado pelo nosso historiador prof. Sebastião Deister, que semanalmente publica neste jornal uma parte da história do município, a passagem do Sr. Fernandes foi muito relevante para todos nós até aos dias de hoje.

Naquela época Miguel Pereira encontrava-se em dificuldades para tudo que era necessário da infraestrutura básica a vida social. Estes dois cidadãos amantes do município, em conjunto com ilustres miguelenses, progressistas, que tinham uma visão diferenciada, futurista, propuseram-se a colaborar neste projeto de uma nova Miguel Pereira. Lembro-me de Zezinho Tertuliano, Dionísio Queiroz, Chico Bernardes, Aynaro Pereira Leitão, Guilherme Badolatti, Venturinha, Renato Moreira e outros tantos que me foge, no momento, à lembrança, estes através de esforço próprio resolveram tirar o município da estagnação em  que se encontrava a nossa região.

Já com a convivência adquirida na gestão anterior com o ex-prefeito Manoel Guilherme Barbosa (Nelzinho), Abraham Medina trouxe outro empresário vitorioso para empreitada, o Sr. Fructuoso Fonseca Fernandes, dono de uma renomada rede de lojas no Rio de Janeiro chamada Casas Fernandes, especializada em tapeçarias, e compuseram uma equipe para disputar as eleições municipais e assim foi feito. Foram vitoriosos como era de se esperar. A partir daí, colocaram em prática um plano ambicioso para toda a cidade.

Miguel Pereira era só Zona Rural

Naquela época, em Miguel Pereira praticamente não havia zona urbana, tudo era zona rural, e praticamente não havia arrecadação de IPTU, já que havia várias fazendas que pouco produziam em beneficio do município. Então, o Sr. Fernandes chamou estes fazendeiros e propôs a eles que fizessem vários loteamentos nestas áreas em favor do crescimento, desenvolvimento, geração de emprego e renda da região, e foi assim que se iniciou o desenvolvimento urbano da cidade, a geração de tributos, IPTU, imposto de transmissão, escrituras, ISS, venda de material de construção, etc. fazendo a economia girar. E foi assim que surgiram os loteamentos bem sucedidos, que hoje são os bairros do Alto da Boavista, São Roque, Remanso, Vila Suíça, Vila Margarida, Aleluia, Alegria, Pantanal e alguns outros também conhecidos. A partir daí, como era previsto, o município começou a se desenvolver, crescer e ter novos moradores. Com a rápida expansão da cidade, viu-se a necessidade de novas linhas telefônicas, e Fernandes, percebendo essa necessidade, buscou com seus contatos a ampliação da rede telefônica da cidade. Nesta ocasião, ninguém possuía telefone, que além de caro não tinha disponível para “comprar”. Quando a rede foi ampliada, foi uma febre pela compra destas linhas que eram disputadas “a tapa”.

Paralelo a essas ações administrativas, o Sr. Medina, dono das lojas de eletrodomésticos chamada “Rei da Voz” (o que hoje seria o Ponto Frio) patrocinava um dos programas mais vistos da televisão brasileira daquela época, chamado “Noite de Gala” que acontecia todos os  domingos (era o Fantástico de hoje) e cujo programa Medina era o âncora e de lá passou a colocar Miguel Pereira na mídia o tempo todo, e  sempre terminava o programa mandando um “abraço para Miguel Pereira”. Trouxe vários artistas para conhecerem a cidade e alguns deles ficaram por aqui até bem pouco tempo.

Várias outras benfeitorias foram realizadas a saber:

- Melhoraram a estrada de acesso ao município, atual RJ 125;

- Novas redes de alimentação de energia elétrica e abastecimento d’água para a cidade;

- A construção da atual sede do Miguel Pereira Atlético Clube;

- Posto telefônico, onde hoje funciona a agencia dos Correios;

- Criou-se o slogan “Cidade das Rosas” e margeando a linha férrea, foram plantadas de vários tipos em forma de cercas vivas;

- Calçamentos da várias vias, rede de esgotos sanitários e águas pluviais;

- Iluminação publica e redimensionamento das redes de alimentação de energia;

- Melhoria das condições de funcionamento do nosso hospital, inclusive com a doação de vários equipamentos e leitos;

- Novas escolas foram construídas;

Entre tantos feitos, um dos mais importantes desta administração foi o ginásio para abrigar a FENART. No inicio, existia uma tímida “feirinha” de artesanato que era realizada onde é hoje o “Cantão do Beco” (se chamava Mini Center). Já na gestão Fernandes/Medina ela foi para o Clube e Medina a transformou a insipiente “feirinha” na Feira Nacional do Artesanato (FENART). Sr. Fernandes mandou o servidor Renato Moreira para o nordeste convidar artesãos para a “Feira Nacional do Artesanato” que aconteceria em Miguel Pereira. Com essa urgência e inconformado com esta situação, o prefeito convocou à sua presença vários colaboradores de seu governo e dentre estes estava eu, como Secretario de Obras, com 26 anos e o nosso saudoso Zezinho Tertuliano, e nos disse: quero uma FENART melhor com mais destaque, notoriedade para desenvolver o turismo na cidade, e nos incumbiu de construirmos um pavilhão para este fim, em 60 dias, para que fosse inaugurado durante os festejos de aniversário do Município de Miguel Pereira, e assim foi feito, e este foi o começo da FENART que todos nós conhecemos hoje.

O Sr. Fernandes em muito contribuiu para que Miguel Pereira chegasse aonde chegou, sendo conhecida em todo Estado do Rio de Janeiro. Porém, nem tudo foram flores, o Sr. Fernandes terminou seus dias em Miguel Pereira, na casa de sua filha Cely. Sr. Fernandes morreu pobre, esquecido, tendo inclusive que seu funeral fosse custeado pelos amigos e pela Prefeitura Municipal. Um homem que foi empresário importante, rico e que muitas vezes colocou dinheiro de seu próprio bolso para realização das necessidades do município.

O Sr. Medina, desgostoso com as injustiças que sofreu após tanta dedicação e esforço, afastou-se do Município, apesar de manter sua casa, no Buraco dos Burros, com sua esposa dona Rachel até o fim. Seus filhos Rubens e Roberto Medina, o primeiro deputado federal por mais de 20 anos e Roberto dono do “Rock in Rio” nunca se interessaram pelo legado do pai, e consequentemente não fizeram sucessores, o que foi uma lástima para todos nós até hoje. Este foi em resumo o que me ocorreu no momento, mas deixo aqui esta singela homenagem a estes dois grandes empreendedores que deveriam ter uma estátua em praça pública. Eles foram miguelenses por adoção e opção.

Medina e Fernandes estavam avançados no tempo em pelo menos 40 anos, e de lá para cá não surgiu ninguém com a visão e o empreendedorismo desses dois miguelenses decoração.

Clóvis Magalhães Júnior é arquiteto, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU/RJ, foi secretário de Obras do prefeito “Zé Nabo”, e do prefeito Fructuoso da Fonseca Fernandes, na gestão de 31 de janeiro de 1973 a 30 de janeiro de 1977.