Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz, atual Fazenda Santa Cecília - Antigas Fazendas de Miguel Pereira - II
Sua sede foi levantada em 1770 pelo casal Manoel de Azevedo Matos/Antônia Ribeiro do Pilar Werneck
15/07/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 94
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Sua
primeira moradia, junto à margem direita do Rio Santana em terras então pertencentes
à Freguesia de Paty do Alferes de Serra Acima, foi levantada em 1770 pelo casal
Manoel de Azevedo Matos/Antônia Ribeiro do Pilar Werneck ao lado de seus três
filhos (Inácio de Souza Werneck, Ana de Jesus Werneck e Manoel de Azevedo
Ramos) com a designação de Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz. Em função do
casamento dos filhos e com a chegada de numerosos netos, sua sede tornou-se
exígua, e assim a família construiu outra propriedade à margem esquerda do rio,
ampliando-a ainda mais em 1778 e conferindo-lhe um típico estilo neocolonial
português. Ao longo do século XIX, a propriedade abrigou numerosos escravos e
fez das plantações de café e da produção de aguardente o mote de seu notável
crescimento, constituindo, inclusive, o embrião do nascimento do povoado de
Barreiros, origem da cidade de Miguel Pereira. De fato, foi dali que o caçula
Manoel de Azevedo Ramos subiu as montanhas para administrar a Fazenda do Sacco,
junto ao Lago de Javary, e o irmão Inácio criou a chamada Sacco Velho, a meio
caminho para Paty do Alferes, enquanto a irmã Ana de Jesus responsabilizava-se
pela Fazenda dos Monsores, nas proximidades de Sacra Família do Tinguá.
Com a
morte do patriarca Manoel de Azevedo Matos, a Piedade passou por herança para
Inácio, então casado com Francisca das Chagas. O casal gerou doze filhos que, espalhando-se
pelo Vale do Paraíba, levaram o sobrenome Werneck para todos os quadrantes da
Província do Rio de Janeiro. Da união de Ana Matilde Werneck (5ª filha de
Inácio) com o capitão português Francisco Peixoto de Lacerda, nasceria apenas
um filho em 6 de fevereiro de 1795, batizado como Francisco Peixoto de Lacerda
Werneck. Em 1822, com o falecimento de Inácio, a fazenda foi deixada para Ana
Matilde que, por sua vez, legou-a para o filho Francisco, titulado como 2°
barão de Paty do Alferes em 15 de novembro de 1832.
Ao
longo dos anos oitocentos, a fazenda permaneceu em mãos da família Werneck,
porém várias crises surgidas na cafeicultura fluminense já a colocavam diante
de graves problemas financeiros e estruturais, apesar dos esforços tanto do
barão de Paty quanto de sua esposa Maria Isabel Assunção Ribeiro de Avelar
Peixoto de Lacerda Werneck, que a herdou após a morte de Francisco em 22 de
novembro em 1861, Nas décadas finais do século XIX, a propriedade foi entregue
ao visconde de Arcozelo (Dr. Joaquim Teixeira de Castro), casado com Maria
Isabel Lacerda de Werneck, filha e herdeira do barão de Paty. Os grandes
problemas advindos da Abolição da Escravatura, a falta de mão de obra especializada
e as doenças dos cafezais já estavam levando a Piedade a um declínio
irreversível. Apesar das tentativas do visconde de recuperá-la, sua morte em 1
de maio de 1891 abreviou um inevitável processo de decadência. Por conseguinte,
não restou ao filho e herdeiro, o Major Luís Werneck de Castro, outra solução
senão hipotecá-la ao coronel Joaquim Ribeiro de Avelar, proprietário da fazenda
Pau Grande. Como as dívidas hipotecárias não foram saldadas, Joaquim então
vendeu a fazenda para o casal Francisco Santoro e Gema Storino Santoro, que,
por sua vez, não logrou recuperá-la. Posteriormente, a Piedade foi negociada
com o senhor Júlio Florentino Lebre, que apesar de múltiplos trabalhos na área,
também se viu forçado a vendê-la na metade do século XX para a francesa Charlotte
Dublineau, cuja intenção era transformar a casa grande no Hotel Guaíra. Para tanto,
aliou-se a um empresário alemão, porém a sociedade não obteve sucesso e a
Piedade foi simplesmente abandonada pelos donos. Daí em diante, a sede, as
casas em anexo, o pátio e as plantações caíram em solidão e ruínas. Todo o
conjunto, então, foi comprado pelo industrial Cecil Davis, mas sua permanência
no lugar foi efêmera, até que chegou ao local o embaixador José Aparecido de
Oliveira, que reformou todo o complexo arquitetural e fazendário, trazendo de
novo à serra a imagem da bela Nossa Senhora da Piedade, hoje rebatizada Santa
Cecília em homenagem à atual proprietária e administradora, a senhora Maria
Cecília Aparecido de Oliveira, filha do embaixador.