A Fazenda da Estiva - Antigas Fazendas de Miguel Pereira - VII
As primeiras notícias a respeito dessa fazenda datam de 1864, quando Joaquim Pinheiro de Souza vendeu parte de suas terras a Antônio Francisco Apolinnário, o mesmo latifundiário que iria comprar glebas da Pantanal alguns anos depois
19/08/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 99
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As primeiras notícias a respeito dessa fazenda
datam de 1864, quando Joaquim Pinheiro de Souza vendeu parte de suas terras a
Antônio Francisco Apolinnário, o mesmo latifundiário que iria comprar glebas da
Pantanal alguns anos depois. Embora o Livro nº 4, às folhas 53, do Registro de
Imóveis de Paty do Alferes não cite as características do vendedor, acreditamos
que esse Joaquim fosse o primeiro filho do Tenente José Pinheiro de Souza,
casado em segundas núpcias com D. Maria do Carmo Werneck, a filha primogênita
de Inácio de Souza Wernec, de Vera Cruz.
A importância da Fazenda da Estiva para o
aparecimento de Miguel Pereira é inquestionável, mas pairam inúmeras dúvidas
sobre suas origens e sua localização exata. De fato, não existem mais quaisquer
marcos, pontos de referência ou documentos confiáveis que nos permitam
assegurar os limites de seus verdadeiros domínios. Segundo análises em
cartórios de Vassouras e Paty do Alferes, a Fazenda da Estiva devia
localizar-se em terras centrais de Barreiros, limitando-se a leste com a
Fazenda do Sacco, a norte com a Pantanal, a oeste com a Sacco (Javary) e ao sul
com a Fazenda do Retiro. Tais especulações são bem aceitáveis quando se leva em
consideração que a Estiva situava-se às margens da estrada para Paty, isto é, o
caminho que atualmente corresponde às avenidas Roberto Silveira e César Lattes,
estas hoje estabelecendo conexão com o logradouro de Pedras Ruivas, onde se
situa a Fazenda Monte Alegre. Esse traçado é referendado no Livro nº 9, folhas
8 e verso, que registra o seguinte:
"Venda que fazem
Joaquim Coelho de Carvalho e sua mulher a José Mariano Luiz de uma porção de
terras desmembradas do SÍTIO DAS PEDRAS BRANCAS, na ESTIVA, confrontando do
seguinte modo: principia num bueiro na ESTRADA NOVA DE PATY, onde já existe uma
cerca, e segue numa reta até o CAMINHO VELHO (rumo de João da Silva Machado),
acompanha a dita ESTRADA NOVA DE PATY, terminando na divisa com terras dos
herdeiros de Antônio Francisco Apolinnário, no BARREIROS."
Cumpre agora atentarmos para um importante detalhe:
à época da transação citada (1864), o lugarejo ainda se chamava Barreiros,
embora no local já existisse a Fazenda da Estiva. Esta denominação, portanto,
somente seria incorporada ao povoado tempos depois, tanto pela existência das
estivas de passagem na região quanto por influência da própria fazenda e pela
estação ferroviária que ali seria inaugurada com essa titulação no ano de 1898.
Importante informar que o termo estiva significava
o conjunto de grandes pranchões de madeira destinado a sustentar a travessia
dos alagadiços formados nas colinas. Com efeito, o chamado povoado de Barreiros
inundava-se com facilidade quando das fortes chuvas de verão na serra. Para
cruzar os atoleiros, os tropeiros improvisavam estrados com troncos de árvore ou
largas tábuas firmemente amarrados com cordas e os dispunham por sobre o
lodaçal, possibilitando dessa maneira a travessia de mulas, cavalos e homens.
Aceito pelos colonizadores do lugar e logo incorporado ao lugar, o termo Estiva
então de pronto substituiu o título Barreiros em finais do século XIX.
Quanto a essa mudança, há que se registrar que no
ano de 1893, quando a Companhia Melhoramentos do Brasil, dirigida por Paulo de
Frontin, mapeava os trechos centrais do povoado de Barreiros objetivando a
construção da estrada de ferro, foram necessárias várias negociações com
Antônio da Silva Machado (Machadinho), proprietário das terras pretendidas pela
empresa. Lembre-se que Machadinho seria o construtor, em 1897, da primeira
capela de Santo Antônio da Estiva. O livro 14, às folhas 283, sob guarda da
Cartório de Paty de Alferes, cita que
"(...) Antônio
da Silva Machado e sua mulher venderam apenas uma faixa de terras de 20 metros
de largura em toda a extensão da futura linha férrea até os limites da vizinha Fazenda
Monte Alegre, e mais uma área de 300 metros também por 20m de largo, ao longo
da citada linha, para ali estabelecer pousada (estação) e suas dependências,
terras confrontando com áreas de Genoveva Appolinário, por um lado, e por outro
com os herdeiros de Antônio Botelho Peralta, da fazenda Pantanal."
Ficou acordado ainda, entre as partes, que Antônio
da Silva Machado somente faria a venda de terras caso a Companhia Melhoramentos
batizasse a futura estação como Estiva, titulação que já ganhava corpo no
povoado. De fato, tal designação logo encobriria o topônimo Barreiros e assim,
a partir dos últimos anos do século XIX, começava a despontar na Serra do Couto
a vila que se transmutaria na cidade de Miguel Pereira.
NOTA: À falta de uma imagem da fazenda, ilustra este
texto a foto da Estação da Estiva inaugurada pela ferrovia em 29 de março de
1898.
Na
próxima edição: Fazenda do Retiro