Fazenda Pantanal - Antigas Fazendas de Miguel Pereira - Cap. X
A Fazenda Pantanal foi um dos mais expressivos polos irradiadores de progresso em terras miguelenses na última década do século XIX
09/09/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 102
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A Fazenda Pantanal foi um dos mais expressivos polos
irradiadores de progresso em terras miguelenses na última década do século XIX.
Construída ao lado de uma das ramificações da estrada que vinha da Fazenda São
José das Rolinhas, Pantanal permitia conexões para a Estiva e ainda para a Vila
de São Sebastião dos Ferreiros, e graças a essa estratégica posição viu-se
bastante beneficiada em seus negócios, já que quase todos os viajantes da época
precisavam, necessariamente, cruzar aquelas terras quando de suas jornadas para
Vassouras ou Paty.
A princípio, as terra formadoras da Pantanal
pertenceram a D. Thereza Maria de Jesus, esposa de Manoel Pinheiro de Souza.
Por volta de 1849, essa rica fazendeira negociou parte de sua propriedade com
Manoel Rodrigues Ferreira, que também possuía na área uma extensa data de
terras. Com tal compra, Rodrigues Ferreira ampliou seus domínios em Barreiros,
levando os limites de seu latifúndio até as linhas divisórias das propriedades
de Luiz Quirino da Rocha, para leste, e José Werneck de Souza, um pouco mais a
oeste.
Temos razões para crer que esse Luiz Quirino da
Rocha fosse o filho primogênito do 1º barão de Palmeiras (Francisco Quirino da
Rocha). O barão era casado com D. Luiza Maria de Jesus de Souza, sendo esta
filha de Manoel Pinheiro de Souza e de D. Thereza Maria de Jesus. Logo, D.
Thereza - assim investida como primeira proprietária da Fazenda Pantanal -
vinha a ser sogra do barão de Palmeiras e avó de Luiz Quirino, cujas terras faziam
divisa com a própria área da Pantanal.
Quanto a José Werneck de Souza, somos obrigados a
discutir algumas hipóteses. A julgar pela data de venda (1849), é crível que
esse proprietário fosse o 12º filho de Inácio de Souza Werneck, de Vera Cruz.
De fato, nascido em 11 de julho de 1792, José Werneck de Souza teria, na
ocasião do negócio, cerca de 57 anos. Entretanto, precisamos alertar aqui para
dois detalhes: em primeiro lugar, José tinha um filho com nome idêntico ao seu
- na época contando aproximadamente 35 anos - e é possível que o fazendeiro
mencionado nos documentos cartoriais seja este, e não o pai. O segundo problema
remete-se ao nome, já que nos registros da família Werneck consta José de Souza
Werneck tanto para o pai quanto para o filho, e não José Werneck de Souza, como
se observa nas cópias da escritura de desmembramentos da Fazenda Pantanal. De qualquer
forma, é fato comprovado que Manoel Rodrigues Ferreira passou a ser vizinho de
José e Luiz, e a inversão do sobrenome do primeiro talvez deva ser creditada à
distração de algum sonolento escrivão daqueles tempos.
Manoel Rodrigues Ferreira administrou suas terras
por apenas um par de anos, logo repassando-as para Antônio Ferreira Moura e
determinando os limites geográficos dessa venda na linha de separação existente
em relação à Fazenda dos Monsores. Ora, sabendo-se que Monsores ficava em área
muito próxima de Sacra Família do Tinguá, junto à qual atualmente floresce um
pequeno bairro miguelense denominado Cilândia, pode-se hoje avaliar quão eram
extensas as terras da Fazenda Pantanal. Por outro lado, Manoel Rodrigues
Ferreira desfez-se do restante de suas terras somente em 1858, quando fechou
negócio com o Dr. Luiz Gomes de Souza Telles, agricultor e pecuarista que vinha
a ser trineto de Inácio de Souza Werneck, pois descendia diretamente de D.
Maria do Carmo Werneck (a primeira filha de Inácio) e do Tenente José Pinheiro
de Souza.
A partir de 1882, realizaram-se vários
desmembramentos na área ainda íntegra do Pantanal, e para termos ideia de como
tal loteamento influenciou o crescimento de Barreiros, convém ressaltar, mais
uma vez, as amplas dimensões dessa propriedade. Com efeito, sua área de
abrangência era extraordinária. A Pantanal alcançava terras que dobravam as
colinas em direção ao povoado de Ferreiros, infletia também em direção à
Freguesia de Sacra Família e vinha fazer limites, mais a sudeste, com as
fazendas da Estiva e do Sacco em glebas que hoje abrigam o centro de Miguel
Pereira. Portanto, bairros miguelenses contemporâneos como Vila Margarida, Vila
Suíça, Ramada, Plante Café, Summerville e Buraco dos Burros eram parte
integrante dessa fazenda. Por conseguinte, cremos ser possível assegurar, sem
medo de erro, que aquela magnífica propriedade interferiu diretamente em todo o
processo de urbanização das terras centrais de Barreiros no interregno
1849-1894. Nesse último ano, a fazenda passaria às mãos do Dr. Antônio Botelho
Peralta e com ele ganharia dimensões sociais ainda mais expressivas. Lembremos
que o Dr. Botelho Peralta foi casado com a princesa francesa Marie Adelaide de
Burgos Chapuset Vilet, deixando em Miguel Pereira uma vasta prole que até hoje
carrega consigo o histórico sobrenome Peralta.
Ao longo de dez anos - entre 1882 e 1892 - o povoado
de Barreiros acolheu outros pioneiros que, aos poucos, ergueram seus sítios
pelas várzeas irrigadas pelo córrego do Sacco. Entre eles, destacaram-se
Viriato Felipe Figueira e D. Gertrudes Marianna de Lacerda. Essa senhora, então
proprietária do Sítio Alegria, deixaria suas terras como legado para Francisco
José Fernandes que, em 1892, trocou-as com Viriato Felipe por uma data de terrenos
situada na Pantanal, contígua às terras do Dr. Luiz Gomes de Souza Telles.
Recebendo o Sítio Alegria, Viriato explorou-o de maneira bastante racional e
promoveu o desenvolvimento daquela pequena área mais ao sul de Barreiros,
facilitando, por conseguinte, o desbravamento das glebas que atualmente formam
o bairro Retiro das Palmeiras. Essas terras abrigaram, depois da iniciativa de
Viriato, a Fazenda do Retiro e a Fazenda Venda Velha, cujas atividades
permitiram um contato mais rápido com o então embrionário logradouro de
Francisco Fragoso, através de uma variante que conectava Javary a Vera Cruz.
Em 1894, D. Joanna Maria de São João (D. Joanica),
então vizinha do Dr. Antônio Botelho Peralta, vendeu-lhe uma data de terras que
confrontava, por um lado, com a Estrada dos Ferreiros, por outro lado pelo
caminho que seguia para o povoado de Barreiros, por outro com terrenos dos
herdeiros de Antônio Francisco Appolinário e por mais outro com o Dr. Luiz
Gomes de Souza Telles e a Fazenda do Plante Café, negociações que colocaram a
Fazenda do Pantanal no centro de um vasto latifúndio, hoje abrigando os bairros
da Ramada, Pantanal, Vila Margarida, Vila Suíça e parte do Plante Café, além de
um longo trecho da estrada que segue para São Sebastião dos Ferreiros.
Atualmente, a propriedade encontra-se em mãos dos herdeiros do Dr. Gil de Souza
Ramos, seu último administrador.
Na próxima edição:
Fazenda Igapira