Fazenda Igapira
Além da Casa da Hera, famosa propriedade ligada aos Teixeira Leite, de Vassouras, localiza-se em terras de Miguel Pereira, em bom estado de conservação, outra fazenda pertencente a descendentes daquela família
16/09/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 103
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Além da
Casa da Hera, famosa propriedade ligada aos Teixeira Leite, de Vassouras,
localiza-se em terras de Miguel Pereira, ainda em bom estado de conservação,
outra fazenda pertencente a descendentes daquela família. Com área aproximada
de 250 alqueires (cerca de 1.200 hectares), a Igapira localiza-se a 17 quilômetros
do centro urbano de Miguel Pereira, distando de Petrópolis cerca de 50
quilômetros por um caminho vicinal procedente da Estrada do Imperador. Sua
altitude geográfica atinge 750 metros, superior à de Miguel Pereira, que é de
618 metros, e em suas proximidades encontramos as límpidas nascentes do rio
Santana. Grande parte do território abarcado pela propriedade encontra-se
revestida por ótima cobertura vegetal primitiva, componente natural proporcionado
pela Mata Atlântica que reveste de verde as serranias circundantes.
Uma vez
que se encontra em considerável altitude, bem aos pés da Reserva Biológica do Tinguá
(REBIO), e em função de seus abundantes veios de água, a fazenda vê-se
contemplada no verão com temperaturas amenas que oscilam entre 15ºC e 26ºC. Já
no inverno, os termômetros variam de 7ºC a 12ºC, havendo ocasiões em que eles
se aproximam de 0ºC. Historicamente, a Igapira resultou da fusão das fazendas
Boa Vista e Bella Vista, terras que compunham dois latifúndios na região
montanhosa de Vera Cruz em meados do século XIX. Embora as origens de tais
propriedades ainda se encontrem um pouco obscuras - a despeito de sabermos que
elas derivaram de desmembramentos de terras alocadas no interior da Sesmaria de
Marcos da Costa - temos como certo que o barão de Vassouras (Francisco José
Teixeira Leite) teria recebido aquelas terras como acerto de contas prestadas
pelos seus primeiros donos em função de dívidas contraídas junto às casas
comissionarias administradas pelos Teixeira Leite no Rio de Janeiro, conforme
nos garante Stanley Stein em Vassouras:
um Município Brasileiro - 1850-1900:
"Em 1839, Tomás Rufino da Silva
Franco contraiu uma dívida com Joaquim José Teixeira Leire, irmão do barão de
Vassouras e pai de Eufrásia Teixeira Leite, para comprar 12 novos escravos
recém=chegados da África, aos quais acrescentou mais 19 por meio de novos
empréstimos. Os escravos, porém, estavam doentes quando comprados, como veio a
descobrir quando, pouco tempo depois, 15 deles morreram, deixando-o sem
recursos para saldar a dívida contraída. Algumas prestações da mesma foram
pagas com café consignado a uma casa comissionaria do Rio de Janeiro, pertencente
a um cunhado de Joaquim José - Luciano Leite Ribeiro - que reembolsou o
prestamista com o produto da venda do café. Em 1844, não obstante tal solução -
julgando a dívida insuficientemente garantida, sendo contraída de maneira
leviana - Joaquim José propôs então a Silva Franco efetuar a hipoteca de sua
fazenda. O devedor aquiesceu, embora surgissem na região críticas violentas à hipoteca
por se julgar a avaliação baixa demais em vista da desvalorização devida à alta
do preço dos escravos, do progresso e da melhoria dos métodos de cultivo da
fazenda verificada entre 1814 e 1844. Em um caso posterior (1859), a fazenda de
Evaristo da Silva Franco, talvez filho de Tomás Rufino, achava-se onerada com
uma dívida de vinte e três contos de réis a favor do cunhado de Francisco
Teixeira Leite e Souza, por sua vez, cunhado de Francisco José Teixeira Leite,
o barão de Vassouras, e mais um débito de dez contos a favor do comissário Caetano
Furquim de Almeida, genro do barão".
Não
podemos garantir de que forma tais propriedades passaram de Joaquim José para o
irmão Francisco José. Acredita-se que as fazendas caíram em mãos do barão após
a morte de Joaquim em 1872. Sabe-se que Francisco José poucas vezes teria ido
àquelas longínquas paragens de Vera Cruz, até porque, de acordo com D. Olga
Teixeira Leite, neta do nobre vassourense, os descendentes dos antigos escravos
e parentes diretos de outros trabalhadores da região afirmavam com convicção
que Francisco José jamais visitara as fazendas Bella Vista e Boa Vista. De
qualquer forma, tais latifúndios acabaram sendo herdados pelo Dr. Leopoldo Teixeira
Leite, filho do barão, que por sua vez os deixou em mãos de um de seus filhos,
o Dr. Edgar Teixeira Leite, este o verdadeiro criador do nome Igapira, ou seja,
"Nascente
do Rio" em linguagem tupi-guarani, designação utilizada por ele pelo
fato de a fazenda aninhar-se bem ao lado das cabeceiras do rio Santana.
A Igapira
já abrigou uma excelente produção de palmito Juçara, mas tal atividade agrícola
encontra-se desativada. Como curiosidade, podemos registrar que a fazenda
possui belíssimos móveis de quarto em estilo manuelino-rococó, mandados vir da
Europa pelo barão de Vassouras, e uma escrivaninha que teria pertencido a
Joaquim Nabuco, o homem que, segundo a História, foi o grande amor de Eufrásia
Teixeira Leite. Hoje, a fazenda é administrada por D. Maria Ignez Teixeira Leite
Rocha Santos, bisneta do barão de Vassouras, ao lado dos filhos Cristina, Carlos
Augusto, Carlos Fernando e Carlos Eduardo.
Na próxima edição:
Fazenda Cabral