Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá

O povoado de Sacra Família do Caminho Novo do Tínguá foi elevado à Freguesia em 18 de julho de 1750, embora em 1715 já possuísse uma pequena igreja erguida pelos próprios moradores em louvor à Nossa Senhora da Conceição.

 23/12/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 117
Compartilhe:       

     O povoado de Sacra Família do Caminho Novo do Tínguá foi elevado à Freguesia em 18 de julho de 1750, embora em 1715 já possuísse uma pequena igreja erguida pelos próprios moradores em louvor à Nossa Senhora da Conceição.

     Em meados do século XVIII, a Freguesia de Sacra Família abrigava interessantes processos de colonização em virtude de numerosas concessões de sesmarias, titulação dada às terras incultas ou abandonadas no país. A légua da sesmaria era de 3.000 braças ou 6.600 metros e os sesmeiros eram sempre grandes proprietários de terras, membros do clero católico, nobres militares de altas patentes ou homens com sólidas ligações políticas com o Reino. O desenvolvimento de Sacra Família do Tinguá propiciou o aparecimento de vários povoados e dezenas de arraiais às margens do pioneiro Caminho Novo do Tinguá, até porque em 1704 já estava pronta a trilha na serra que conectava a Baía da Guanabara a Borda do Campo, em Minas Gerais, ou seja, o pioneiro Caminho Novo de Minas aberto pelo bandeirante Garcia Rodrigues Paes, eixo de fundamental importância no desbravamento da zona central do Sul Fluminense.

     Próspero e já bastante conhecido, em 18 de julho de 1750 o povoado viu-se agraciado com a designação de Freguesia de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá, cujo objetivo seria sediar a capela existente na Fazenda do Provedor do Reino, além de atender a uma pequena ermida que se erigira no Sítio das Palmeiras pelos desbravadores da região e logo frequentada pelo humilde povo local.                                                

     Como a capela construída em 1715 já mostrava preocupante estado de deterioração em função de seu madeiramento de má qualidade, tornou-se necessária a ereção de um novo templo. A princípio, tratava-se apenas de um altar portátil alocado na casa de Joaquim Ferreira Varela, conhecida na época como Sítio da Rocinha, mais tarde rebatizada como Fazenda do Provedor, demarcando-se, na mesma época, o terreno destinado ao cemitério local. Em 1757, foi enfim erguida a Segunda Igreja em terras da fazenda dos sócios Domingos Marques Correia e João Henrique Barata. Mais tarde, contudo, surgiu a urgência de se construir uma terceira Igreja devido à queda do segundo templo.

      De fato, com a perda da igrejinha original, o Exmo. Sr. Bispo Diocesano Dom Frei Antônio do Desterro determinou, através de uma Provisão Extraordinária, que a Matriz de Sacra Família fosse transferida para Vassouras. Essa decisão, como não poderia deixar de ser, agastou bastante os moradores de Sacra Família que rapidamente trataram de edificar sua nova Igreja numa área do Sítio das Palmeiras defronte do cemitério, nela empregando grossos esteios de madeira em cujos vãos ergueram paredes reforçadas de pau-a-pique e estuque. Para tanto, os proprietários do Sítio - Marques e Barata - fizeram uma doação, através de escritura, de 42 braças de terras de testada com fundos de 46 braças para a imediata construção da Matriz. Todavia, tais medidas logo ganharam uma sensível ampliação, visto que, ao iniciar os trabalhos, os doadores verificaram a necessidade de erigir também uma vivenda (ou Casa Paroquial) para o Vigário da Freguesia e um abrigo adequado para o descanso das montarias que o transportavam desde Vassouras. Uma vez edificada a nova Matriz, a Lei Provincial nº 108 expedida pela Diocese determinou que a Freguesia de Vassouras fosse dividida em duas, ficando por Matriz de uma delas a Igreja recém-construída de Sacra Família do Tinguá, e de outra a Matriz de Rio Bonito e Vassouras, ambas consagradas a Nossa Senhora da Conceição, fato que explica a coincidência de esta santa ser a mesma padroeira das duas cidades.

     Os trabalhos da nova matriz foram iniciados em 8 de janeiro de 1828, e já nos primórdios de 1829 a Capela-Mor encontrava-se em condições de abrigar diversos cultos Apesar de sua solene consagração no ano de 1837, é certo que a Igreja já se encontrava de pé em 1820, pois no 4º Volume de suas "Memórias Históricas do Rio de Janeiro", Monsenhor Pizarro assegura que nesse ano a Matriz estava concluída e pronta para receber todos os tipos de celebrações católicas.

     Também citando Monsenhor Pizarro, sabe-se que Sacra Família somente fora elevada à categoria de Vila em 12 de janeiro de 1775, quando então já proliferavam os ricos cafezais das terras fluminenses.

     Em 1820, a população da Freguesia de Sacra Família do Caminho Novo do Tínguá alcançava 1.000 adultos que habitavam 130 casas, havendo na vila duas fábricas de açúcar e quatro de aguardente, além da produção das famosas salsichas mencionadas pelo viajante Charles de Ribeyrolles em seus escritos de época. Já em 1872 a população subira para 4.501 habitantes ao lado de 6.143 negros escravos, 1.202 agricultores, 93 negociantes, 4 médicos e 2 advogados. Era tão grande a importância e o prestígio dos profissionais de Sacra Família nas terras contíguas a Vassouras, que na metade do século XIX lá trabalhavam 7 carpinteiros responsáveis pela fabricação dos grandes móveis de jacarandá destinados a decorar as fazendas e solares dos nobres senhores produtores de café.

     Atualmente, Sacra Família do Tinguá configura um distrito do município de Engenheiro Paulo de Frontin, abrangendo ainda a localidade de Morro Azul do Tinguá e pequenos logradouros a ela periféricos.

Na próxima edição: O Desengano (Barão de Juparanã)