O Desengano - Barão de Juparanã

O povoado foi o refúgio e a última morada de uma das mais conhecidas figuras da História do Brasil - Duque de Caxias.

 30/12/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 118
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     Do povoado de Desengano, os desbravadores da região vassourense transferiram-se para a margem direita do Rio Paraíba, até atingir o chamado rio das Mortes (nas proximidades da hoje desativada estação ferroviária de Barão de Vassouras). A travessia, a princípio, era feita em canoas toscas, mas depois de 1821 tornou-se confortável e segura com a bela ponte construída com recursos cedidos por Custódio Ferreira Leite, o Barão de Ayuruóca. Mais tarde, tal ponte serviria de base para a colocação dos trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II. A propósito, a ponte ferroviária foi inaugurada pelo Imperador em 17 de dezembro de 1865, à frente de grande comitiva de nobres e políticos.

     O topônimo Desengano foi pejorativamente dado pela família do barão do Rio Bonito (Joaquim José Pereira de Faro, que desejava a estrada de ferro implantada em Barra do Piraí, seu grande campo de ação) em contraposição às pretensões do barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite, que pleiteava a ferrovia em suas propriedades). Após bom tempo de disputas, prevaleceu o desejo do barão do Rio Bonito, que então ironizou os vassourenses alegando que eles "(...) haviam tido um belo Desengano".

      O modesto povoado foi ainda o refúgio e a última morada de uma das mais conhecidas figuras da História do Brasil. De fato, ali passou seus dias finais Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, hospedado na Fazenda Santa Mônica, então propriedade de seu genro Francisco Nicolau Carneiro Nogueira da Costa Gama, o barão de Santa Mônica, irmão de Manuel Jacinto Carneiro Nogueira da Costa Gama, já então nomeado Barão de Juparanã, título que serviu pra designar o logradouro conhecido como Desengano. O Barão de Juparanã foi proprietário do belíssimo casarão conhecido como Monte Scylene, presenteado ao Duque de Caxias em 1876, que, por seu turno, repassou-o ao casal Conde d'Eu/Princesa Isabel que, num gesto magnânimo, transformou-o na sede da Associação da Infância Desamparada, um asilo local para crianças órfãs, cujas atividades encerraram-se após o advento da República em 1889. Hoje, o casarão abriga uma clínica médica para dependentes químicos.

     O barão de Juparanã foi titulado com Grandeza em 21 de maio de 1874. Nasceu no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1830 e faleceu solteiro em Valença em 25 de junho de 1876, sendo filho do marquês de Baependi (Dr. Manoel Jacinto Nogueira da Gama) e irmão do conde de Baependi (Braz Carneiro Nogueira da Costa Gama) e do barão de Santa Mônica (Francisco Nicolau Carneiro da Costa Gama). Foi um rico fazendeiro no município de Valença, Deputado Provincial pelo Rio de Janeiro em 1858 e Presidente da Câmara Municipal da mesma Valença - entre 1869 e 1872 - ocupando na cidade o cargo de Comandante Superior da Guarda Nacional. Também exerceu o cargo de Veador de Sua Majestade, a Imperatriz. Era ainda donoda Comenda da Imperial Ordem da Rosa.

Barão de Juparanã

     Eloy de Andrade ressalta o refinamento de sua educação, a afetuosidade no trato com as pessoas, os saraus e as palestras inteligentes que promovia em sua fazenda, quando então vinha à tona sua ampla erudição. Nele destacavam-se ainda as feições aristocráticas, muito embora as mesmas se vissem prejudicadas pelo seu longo nariz, o qual lhe valeu entre a população valenciana a alcunha de Tucano do Paraíba.

    Em 16 de agosto de 1876 procedeu-se à avaliação do seu avultado espólio de Rs. 473 contos de réis, correndo seu inventário pelo Fórum de Valença.

     Possuía o Barão de Juparanã Sesmaria e Meia de terras à margem do rio Paraíba, em Desengano, a 120 quilômetros do Rio de Janeiro, com cerca de 340 alqueires geométricos, ou seja, cerca de 1.660 hectares, avaliados em Rs. 45:000$000 (quarenta e cinco contos de réis) ou Rs. 132$000 (cento e trinta e dois mil réis) o alqueire. Além das terras cansadas, possuía 208 alqueires em mata virgem, que foram avaliados em Rs. Rs. 55:466$528, pouco mais ou menos de Rs. 200$000 o alqueire, ou seja, o dobro do valor das terras cansadas, isto é, esgotadas pelas atividades agrícolas. Possuía ainda o barão, em Santa Mônica, metade de um cafezal de 380.000 pés, avaliados em  Rs. 61:200$000 e 116 mil pés em Sant'Anna. Assim, tinha um cafezal de 500.000 pés, pois ainda administrava 10.000 cafeeiros no pequeno sítio chamado "Papagaio". Santa Mônica contava com 256 escravos e 29 ingênuos, que não entravam na avaliação. Esses escravos foram computados em Rs. 221:800$000, o que dava, por cabeça, cerca de Rs. 866$000. Metade de Santa Mônica pertencia a seu irmão, o Barão de Santa Mônica.

    Do seu testamento, escrito em 8 de abril de 1876, consta ainda uma interessante cláusula que bem lembra seu espírito benfazejo, a qual cita "(...) Também declaro que fica de nenhum efeito qualquer documento que prove alguém dever-me, considerando-se, portanto, quite para comigo."

    Seu Título de Nobreza acabou eternizado no simpático povoado anteriormente menosprezado como Desengano, hoje importante ponto de passagem entre Vassouras e Valença.

Na próxima edição: São João Marcos