Usina Força e Luz Vera Cruz - Sítios Históricos do Sul Fluminense - 17

A chegada de energia elétrica ao vale do rio Santana ocorreu somente em 1926, graças ao nascimento da empresa Bernardes, Lagrotta & Cia, fundada em 13 de dezembro daquele ano

 20/01/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 121
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     A chegada de energia elétrica ao vale do rio Santana ocorreu somente em 1926, graças ao nascimento da empresa Bernardes, Lagrotta & Cia, fundada em 13 de dezembro daquele ano pelos amigos Ângelo Lagrotta e Edmundo Peralta Bernardes. Após os estatutos devidamente publicados no Diário Oficial do Estado, instalou-se em Paty do Alferes a Sociedade Anônima Força e Luz Vera Cruz - Concessionária de Iluminação Pública e Particular.

     O nome da companhia era bastante modesto, mas os benefícios que ela trouxe para a região foram incalculáveis. Afinal, podemos imaginar quanto os povos da Serra sofriam com a falta de energia elétrica em suas casas, vendo-se obrigados a se valer de velas e lamparinas malcheirosas em suas casas e de lampiões de carbureto pelas ruelas de suas cidadezinhas. Ter um grande rádio de válvulas RCA Victor para ouvir música ou notícias do Rio de Janeiro, dispor de um refrigerador nos bares ou simplesmente ir a uma ladainha nas igrejas à luz de lâmpadas constituíram um luxo e uma enorme alegria para patienses, portelenses e miguelenses, sendo que tais benesses apenas se tornaram possíveis em razão do espírito empreendedor e solidário de Lagrotta e Edmundo Peralta Bernardes.

      As pioneiras instalações da usina foram montadas na chamada cachoeira de Manga Larga de Cima, já que a topografia do local e seu entorno prestavam-se muito bem à construção pretendida, com acesso fácil ao centro de Paty e com uma vazão de água bastante razoável para a movimentação de seus geradores e dínamos. Os trabalhos correram sem maiores contratempos. Por conseguinte, as autoridades públicas alocadas em Vassouras (então cabeça de município) e o povo serrano puderam acompanhar, com grande júbilo a inauguração das dependências da Companhia Força e Luz Vera Cruz no ano de 1926, talvez o fator de maior prosperidade para Paty e Miguel Pereira depois do advento da Estrada de Ferro.

     Cerca de dois anos depois, entusiasmados pelo sucesso da companhia, seus diretores partiram para Vera Cruz, lá erguendo junto ao rio Santana uma usina de maior capacidade equipada com geradores mais potentes e modernos. Com efeito, foi a partir de Vera Cruz que a empresa alcançou expressivo progresso, ampliando a oferta de energia de forma tão significativa que em pouco tempo ela passava a ser fornecida tanto para nossa região como um todo (indo também para Arcozelo, Avelar e Conrado) quanto para a área da Baixada Fluminense, atendendo parte de Queimados, Vila da Cava e Nova Iguaçu.

    Posteriormente, com a entrada em operação das casas de retransmissão em Santa Branca, um grande fluxo de energia passou a ser vendido para Petrópolis, o que bem dá uma ideia da importância da Usina de Vera Cruz para a serra em geral. Depois da grande enchente de 1945 - que destruiu tanto a Manga Larga quanto a Usina de Vera Cruz - a empresa não logrou retomar seu sucesso anterior. Por consequência, em 1960 a companhia foi encampada pela Light que já monopolizava o fornecimento de energia para grande parte do Estado do Rio de Janeiro após a inauguração de suas instalações em Ribeirão das Lajes.

    Em Vera Cruz, hoje, permanecem tão-somente as ruínas de um dos mais ousados empreendimentos humanos de nossa terra, a lembrar da fibra e a visão de futuro de homens muito especiais que realmente lutaram pelo crescimento social e econômico da Serra do Tinguá, entre os quais Ângelo Lagrotta, Edmundo Peralta Bernardes, Antônio Ramos da Silva (Antoniquinho), Lauro de Barros, Henrique d'Ávila, Raul Machado Bitencourt, Clemente José Monteiro, Luís Vianna, Abílio Casa Nova, Wilson Brasil e os funcionários dos seus últimos tempos, como Ernesto, Dario, Cecílio, Humberto "Corcunda", Nelson, Geninho, Gervásio, Benjamim, Mello, Geny, Osmarina e Lígia Bernardes.

    No logradouro de Vera Cruz, atualmente restam apenas dois símbolos da pioneira companhia elétrica: parte da chamada casa de força, no interior da qual localizavam-se dínamos, geradores e outros aparelhos de controle e comando de sua produção energética, e o grande dique que retinha as turbulentas águas do rio Santana. Por sua vez, em Santa Branca já funciona uma nova usina (nas recuperadas instalações da antiga subsidiária de Vera Cruz) que opera com duas potentes turbinas alemãs. Mais conhecida como Central Geradora Hidrelétrica (CGH), esta nova unidade deverá produzir cerca de 15% da energia necessária a Miguel Pereira, com previsão de 7.000 MWh/ano.       

Na próxima edição: Fazenda Santa Mônica