Fazenda Santa Mônica
Essa propriedade constituiu um dos maiores latifúndios da antiga Província do Rio de Janeiro, contando, na época áurea da cafeicultura, com 580 alqueires de terras
27/01/2017
Historiador Sebastião Deister
Edição 122
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Essa propriedade constituiu
um dos maiores latifúndios da antiga Província do Rio de Janeiro, contando, na
época áurea da cafeicultura, com 580 alqueires de terras, ou seja, mais da
metade da área da Vila de Desengano (hoje Barão de Juparanã), bem à margem
esquerda do rio Paraíba. A propriedade resultou da fusão das sesmarias de São
Jacintho, Santa Mónica (concedidas em 1814) e São Braz do Paraíso (legada em
1792), sendo esta a mais antiga do município de Valença, todas outorgadas por
D. João VI a Manuel Jacinto Nogueira da Costa Gama, o marquês de Baependy.
Em seu apogeu, a
fazenda abrigava 256 escravos e 29 ingênuos (negros menores de idade), que não
entravam na avaliação final. Tais cativos foram computados por Rs. 221:800$000
(duzentos e vinte e um contos e oitocentos mil réis), o que dava, por cabeça,
cerca de Rs. 866$000 (oitocentos e sessenta e seis mil réis), quantia das mais
expressivas em meados do século XIX. Metade das terras pertencia ao Barão de
Juparanã (Manoel Jacinto Carneiro Nogueira da Costa Gama), sócio e irmão do
Barão de Santa Mônica (Francisco Nicolau Carneiro Nogueira da Costa Gama).
A grande casa fora obra
do pai de ambos (o citado Marquês de Baependy), que a batizou de Mônica em
homenagem à esposa, Francisca Mônica Carneiro Nogueira da Costa Gama. A
propriedade possuía vultosas benfeitorias, como o enorme prédio com sobrado e
capela, sendo esta última avaliada então em Rs. 17:000$000 (dezessete contos de
réis), além das dependências para enfermaria e botica (farmácia) avaliadas no
conjunto em cerca de Rs. 4:000$000 (quatro contos de réis). Santa Mônica ainda
dispunha de engenhos de café, de cana, de arroz e d farinha, ao lado de
alambiques, tulhas (para depósito das colheitas), serraria e moinho. Sua
senzala era imensa, com 40 lances para os negros. Quanto ao gado, a fazenda pastoreava
rebanhos ovinos e bovinos e dedicava parte de seu trabalho à criação de suínos.
A fazenda chegou a produzir safras de 3.600 arrobas (ou 54 toneladas) de café,
calculadas então no belíssimo valor de Rs. 8:400$000 (oito contos e
quatrocentos mil réis).
Como curiosidade,
podemos lembrar que em Santa Mônica viveu, protegida pela família Nogueira da
Gama, a preta Izabel Congo, que amamentou o barão de Juparanã. Segundo Leoni
Iório, em sua História de Valença, "(...) depois de 1885, Izabel Congo vivia
pelos cantos das senzalas da fazenda Sant'Anna, abandonada, cheia de bichos e
quase cega (...) A preta escrava Afonsina era outra protegida dos barões, para
cuja liberdade foi negada a concessão, sendo preciso o caso vir para o Juízo de
Valença."
Iório ainda registra
que:
"(...) Havia na Fazenda
Santa Mônica uma rapaziada afidalgada, cujas mães, pertencentes ao Serralho, se
chamavam:
- Manoela, crioula
retinta, bonitona e que teve 4 filhos.
- Floriana, bem fula,
que teve 10 filhos.
- Semiana, que teve 3
filhos.
- Emília, meio fula,
que teve 5 filhos.
- Geralda, cabocla
dançadeira e espevitada, levando vida folgada, que teve 2 filhos."
Servia ainda na Santa
Mônica a fula Amélia Mateus da Costa, filha natural do marquês de Baependy com
a preta velha Maria da Conceição, uma de suas amásias.
A Santa Mônica tem o
aspecto clássico das velhas fazendas fluminenses. Viveu tempos áureos,
principalmente quando recebia o Presidente Wenceslau Braz nos seus frequentes
veraneios pelo lugar. O patronato agrícola que funcionou na fazenda, já desaparecido,
deixou as salas vazias, e nos cantos o entulho das carteiras e das camas
quebradas. Os cômodos que o duque de Caxias ocupou nos últimos dias de vida nada
mais dizem ao visitante na sua nudez e solidão.
Seria interessante
registrar que o barão de Santa Mônica casou-se com sua prima Luiza de Loreto
Viana de Lima e 8llva, filha do duque de Caxias (Luiz Alves de Lima e Silva). A
propósito, o duque, ao adoecer e já anquilosado a uma cadeira de rodas,
hospedou-se na fazenda do genro, ali falecendo em 7 de maio de 1880. Por sua
vez, o coronel de engenharia José Joaquim de Lima e Silva, titulado conde de
Tocantins e irmão do duque de Caxias, estabeleceu os planos para a construção
da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, no chamado povoado de Desengano, em terreno
vizinho ao Solar Monte Scylene, também propriedade do barão de Santa Mônica e
de seu irmão barão de Juparanã.
A Fazenda Santa Mônica
localiza-se a apenas 2 km da localidade de Barão de Juparanã, com acesso pela
Rodovia RJ-115, que liga este 2º distrito valenciano à cidade de Vassouras.
Atualmente abriga um polo de pesquisa agropecuária administrado pela EMBRAPA.
Na próxima
edição: Santuário de Bom Jesus de Matosinhos