A Casa da Hera - Sítios Históricos do Sul Fluminense - 20

Não se conhece com exatidão o período de construção da belíssima casa onde viveu Eufrásia Teixeira Leite, embora uma planta da cidade de Vassouras, datada de 1836

 10/02/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 124
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Não se conhece com exatidão o período de construção da belíssima casa onde viveu Eufrásia Teixeira Leite, embora uma planta da cidade de Vassouras, datada de 1836, a situe pela metade do século XIX. No documento, a propriedade já aparece ao lado dos primeiros prédios da então Vila de Nossa Senhora da Conceição de Vassouras, cujo crescimento acentuava-se, cada vez mais, em função do entusiasmo dos seus moradores e do amplo trabalho de urbanização comandado pelos fazendeiros de café e por membros das famílias Corrêa e Castro e Teixeira Leite.

Para melhor definição da magnífica Casa da Hera, tomamos a licença de aqui reproduzir o texto inserido no opúsculo "MUSEU DA CASA DA HERA", editado pela 6ª Coordenação Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN sob os auspícios do Ministério da Cultura: 

"Situada no alto de uma colina e edificada em centro de chácara, tem em seu jeito despojado a simplicidade das casas mineiras. Assentadas sobre beldrames de pedra, as paredes de pau-a-pique e adobe vão delineando os cômodos, onde 62 janelas, com vidraças em guilhotina, vão se abrir para a chácara e o pátio interno. É ele que servirá de divisor para a simetria das alas que irão definir o universo familiar: uma ala para os negócios, outra para  a intimidade e uma terceira voltada para o social. É com Joaquim José Teixeira Leite, seu morador a partir da década de 1840, e um dos personagens centrais da história do café em terras fluminenses, que a casa passa a sofrer alterações que acompanham a ascensão político-financeira de seu proprietário.

Joaquim José Teixeira Leite, irmão do Barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite), teve com a esposa D. Ana Esméria Corrêa e Castro apenas duas filhas: Francisca Bernardina (nascida em 1845) e Eufrásia (vinda à luz em 1850).

É na chácara da família - a futura Casa da Hera - que a família viveu a riquíssima época do café, de pronto participando da sofisticada aristocracia criada por aqueles que plantavam e comercializavam tão notável produto agrícola, então o maior destaque de exportação do país. Como consequência natural do prestígio e da riqueza de Joaquim José e Francisco José, seu irmão, a chácara transformou-se em ponto de encontro de lavradores, fazendeiros, barões, banqueiros, políticos e outros ilustres e poderosos personagens da sociedade brasileira, tendo D. Ana Esméria como anfitriã dedicada, polida e sempre atenta aos menores desejos do marido...

Eufrásia Teixeira Leite veio a falecer em um apartamento na Ladeira da Glória, no Rio de Janeiro, no dia 13 de setembro de 1930, aos 80 anos, e seu testamento, embora provocasse algumas polêmicas, iria eternizá-la em Vassouras.

De fato, sendo ela a única herdeira de Joaquim José e ainda proprietária de outros bens deixados pelo avô Laureano Corrêa e Castro (o barão de Campo Belo), instituiu em seu legado um vultoso patrimônio a construção da Santa Casa de Misericórdia, recursos aproveitados para a construção do Hospital Eufrásia Teixeira Leite, moderníssimo para os anos trinta em Vassouras. Nomeou ainda, como segundo herdeiro seu, a Congregação das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus, com elas deixando recursos suficientes para a construção de um instituto educacional exclusivamente feminino - o Instituto Dr. Joaquim Teixeira Leite (hoje Colégio Regina Coeli) - tendo as irmãs a obrigação de manter, no mínimo, 50 meninas carentes no Instituto e ao mesmo tempo preservar a "(...) casa dos meus pais (...)",atualmente Museu da Casa da Hera. Ainda preocupada com a infância e em especial com as crianças carentes que, vez por outra, tinham-na abordado nas ruas pedindo-lhe esmolas ou comida, Eufrásia também canalizou parte de suas vasta fortuna para a aquisição de um colégio voltado aos meninos de Vassouras, uma edificação que nos dias de hoje abriga o SENAI daquela cidade, bem pertinho da Casa da Hera.     

Na década de cinquenta, o conjunto arquitetônico já chamado Casa da Hera passou a constar da lista dos bens culturais e artísticos tombados no país, e o IPHAN acabou por assumi-lo em 1965, por assinatura de convênio de caráter permanente entre as herdeiras - as irmãs diretoras do Colégio Regina Coeli - e o referido órgão público federal.

Sempre orientadas por guias experientes, as visitas à Casa da Hera são uma verdadeira viagem ao passado de luxo e ostentação da antiga Vassouras.

Na próxima edição: A Capela dos Escravos em Miguel Pereira