A Estrada da Polícia

Em 1822, ficara pronta a Estrada do Comércio que começava na vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguassu e cruzava Vassouras e Valença até atingir o porto de Ubá (atual distrito de Andrade Pinto), às margens do Rio Paraíba do Sul...

 07/04/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 132
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Essa estrada nascia no atual bairro da Pavuna, atravessava Iguassu e galgava também as montanhas do Tinguá. Era, praticamente, um caminho paralelo à Estrada do Comércio, porém mais extenso e com a vantagem de cruzar as terras de outras freguesias nascentes, como Sacra Família do Tinguá e Rodeio (origem da atual cidade de Engenheiro Paulo de Frontin), ao contrário da outra, que se desviava pela periferia de tais centros populacionais. Assim, a Estrada da Polícia, partindo de Iguassu, cortava o povoado de Rodeio, atravessava terras periféricas de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá e marchava para Vassouras, indo logo à frente cruzar o rio Paraíba do Sul para alcançar o atual distrito de Juparanã (antigamente chamada Desengano), de onde se estendia até Nossa Senhora da Glória de Valença. Um dos seus ramos, para oeste, passou a atender também o arraial de São Sebastião dos Ferreiros, cobrindo assim boa parte da serra dos Matacães.

Vejamos a razão pela qual tal caminho ganhou a denominação de Estrada da Polícia.

Já sabemos que ao longo dos séculos de colonização do nosso território, todos os fidalgos e privilegiados da Corte eram constantemente agraciados com a posse de terras na Província do Rio de Janeiro, nelas implantando as famosas casas-grandes que acabaram por se transformar nas fabulosas fazendas do Vale do Paraíba. Um desses beneficiados pelo Governo chamava-se Paulo Fernandes Viana e ostentava o respeitável título de "Intendente de Polícia da Corte".

Sabe-se que Paulo Fernandes colaborara ativamente na construção de uma das várias estradas que então uniam o Sul de Minas à Corte, atravessando as áreas de Valença e Vassouras. Com isso, ela não só cortava as terras que ele já possuía na região como ainda beneficiava as propriedades contíguas de Braz Carneiro Nogueira da Costa Gama, o futuro Visconde de Baependi, e pai dos Barões de Santa Mônica e de Juparanã, grandes latifundiários em terras periféricas de Valença. Acrescente-se ainda que, sendo "empregado do tesouro", um escrivão do Real Erário e um dos responsáveis pela política econômica seguida por D. João VI, não lhe foi difícil conseguir acesso a grande quantidade de terras em São João Marcos e Valença.  Portanto, pela sua interferência e graças ao peso de seu nome e de sua fortuna, a estrada aberta pelo Intendente Paulo Fernandes Viana viria a ser consagrada como Estrada da Polícia.

Importante registrar que para a conclusão dessa estrada houve a fundamental participação do barão de Aiuruóca (Custódio Ferreira Leite), homem de enorme prestígio e grande fortuna nos territórios de Vassouras e Barra Mansa. Ao lado de seus sobrinhos (entre eles o barão de Vassouras, Francisco José Teixeira Leite), Custódio investiu recursos e tempo nesse trabalho, colaborando dessa maneira para o término da estrada.

Aproveitando uma das encostas da Serra finalmente dominada, os exploradores comandados por Viana rasgaram uma variante da Estrada do Comércio, a qual, partindo de Rodeio, acabou por alcançar o lugar denominado Macacos (hoje Paracambi). Isso permitiu a criação de um entroncamento de caminhos importantes, pois daí ficou mais fácil alcançar Itaguaí, naquela época já um alentado entreposto comercial, tanto por via terrestre quanto pelo trânsito de embarcações que sulcavam o oceano dali até o Rio de Janeiro e Parati.

Dispondo de tais vias, as tropas e caravanas que chegavam pelas estradas da Polícia e do Comércio podiam percorrer a chamada Estrada Presidente Pedreira em direção a Macacos, seguindo depois pela Baixada Fluminense até Santa Cruz, de onde então seguiam facilmente até a capital. 

Em 1822, ficara pronta a Estrada do Comércio que começava na vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguassu e cruzava Vassouras e Valença até atingir o porto de Ubá (atual distrito de Andrade Pinto), às margens do Rio Paraíba do Sul, para dali seguir para Minas Gerais e Goiás. Assim, a Estrada da Polícia acabou se agregando à Estrada do Comércio tendo como fulcro o território de Iguassu Velho. Ela possibilitou a abertura, quase em sequência, de diversos outros caminhos de menor porte, beneficiando de pronto algumas lavouras, vários arraiais e dezenas de populações que já se destacavam em localidades como Mato Dentro, Massambará, Ferreiros, Vargem do Manejo, São José das Rolinhas, Vera Cruz, Pirauí, Santa Rosa e, mais tarde, um humilde e desconhecido lugarejo chamado Barreiros, este o embrião de Miguel Pereira. 

 

Na próxima edição: O Caminho do Azevedo