Nova Matriz de Santo Antônio da Estiva

As Igrejas Católicas na Ocupação do Vale do Paraíba

 05/05/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 136
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Após vinte anos de trabalhos eclesiásticos em Miguel Pereira, Frei José Kropf deu-se conta de que a tradicional Igreja de Santo Antônio não mais acolhia com conforto e tranquilidade os numerosos devotos que para ela afluíam durante as missas e ladainhas quase diárias. Refletindo sobre os novos tempos que se avizinhavam na serra, o pároco deslanchou uma corajosa campanha em todo o município objetivando reunir capital suficiente para erguer na cidade uma matriz que viesse condizer com seu notável crescimento demográfico. Dono de uma personalidade rígida e ciente da importância de seus propósitos, Frei José organizou rapidamente uma comissão de trabalho entre representantes das camadas sociais da cidade, responsabilizando-a pela venda de carnês e rifas,pela elaboração de festas populares e bingos e, principalmente, pelo recolhimento de doações junto às famílias mais abastadas de moradores e veranistas. Todo esse penoso processo de arrecadação de recursos arrastou-se por um tempo razoável, e a edificação do novo templo mostrou-se custosa, lenta e sacrificada, porém tomada de inabalável otimismo.

Nenhum empecilho demovia o vigário de seus propósitos, e sua perseverança fez surgir em Miguel Pereira um templo que muitas pessoas classificavam como uma obra megalomaníaca e inexequível. De concepção moderna, severa e retilínea, a Nova Matriz fugia totalmente do aspecto tradicional de antigas igrejas, transmutando-se assim em um símbolo da tenacidade e fé. Para tanto, firmou-se o contrato entre as Fundações Estaco Ltda., de Petrópolis, empreiteira responsável pelas obras da Nova Matriz de Miguel Pereira, e a Paróquia de Santo Antônio da Estiva, com um total de 16 cláusulas, entre elas o preço final de Cr$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil cruzeiros), dividido em 3 parcelas. Já em 30 de junho de 1980, a empresa iniciou a sondagem do terreno para a construção da Nova Matriz, espaço em que no dia 24 de outubro de 1981 Frei José Kropf oficiou uma solene missa campal de agradecimento pelo início das obras.

Com festas e diversas celebrações, a Nova Matriz de Santo Antônio foi enfim consagrada em 16 de abril de 1989. Nessa data, centenas de fiéis compuseram uma procissão acompanhada pela Sociedade Musical de Miguel Pereira em direção ao novo templo, com saída da antiga Igreja de Santo Antônio. Ali, então, celebrou-se em seguida a Missa Votiva de Consagração oficiada pelo Bispo Diocesano Dom Amaury Castanho, da Diocese de Valença, e por Frei José Kropf, além de diáconos e presbíteros. Presentes ao ato o Prefeito Roberto Daniel Campos de Almeida, o Vice Carlos Amaral, os vereadores Geúdece Lopes Ribeiro e Rubem de Jesus, o Secretário de Turismo Antônio Arantes Alves Filho, a Secretária de Educação, Cultura e Esportes professora Nádia Barros Felix, o Secretário de Saúde Dr. Wagner Portela Arbex e o Secretário de Obras e Serviços Públicos Estevão de Sant'Anna Monsores, além dos alemães visitantes Dr. Friedheim Hofmann (Cura da Catedral de Colônia, terra natal de Frei José), Mechhild Wurth, Antoinette Wasser, Kurt Wasser, Rainer Brüggen, Hildegard Schuneze-Spuntrop, Ana Groli e mais Frei Conrado Rosbach (de Avelar). No dia seguinte, em nome das comemorações de consagração da Nova Matriz, realizou-se uma concorrida Sessão Solene na Câmara Municipal às 16h30min presidida pelo vereador Manoel Gomes de Assumpção, durante a qual foram entregues títulos de Cidadão Miguelense aos benfeitores alemães presentes em Miguel Pereira.

Em seu aspecto arquitetônico, a Nova Matriz é dotada de dois grandes pavimentos. No térreo, a parte anterior da construção possui amplo salão de festividades ao lado da cozinha, despensa e sanitários, complexo destinado a acolher as festividades relativas ao padroeiro Santo Antônio e eventuais celebrações particulares. Já na parte central desse primeiro pavimento aninha-se a Capela de Nossa Senhora da Paz que abriga o Santíssimo Sacramento. Ela não possui grandes dimensões, mas oferece ao visitante cerca de cinquenta lugares confortáveis distribuídos em seus longos bancos de madeira. Contígua à Capela, funciona a Secretaria Geral da Matriz, havendo, junto a esta, uma saleta destinada à venda de lembranças e peças religiosas, como terços, imagens, bíblias, catecismos, livros de orações, chaveiros etc.

Já o piso superior abriga a nave propriamente dita. Em sua concepção, os projetistas optaram pela não inclusão de uma abside tradicional, criando assim em Miguel Pereira uma igreja que é basicamente constituída por um imenso salão onde seu altar-mor é representado simplesmente por uma área recuada para a parede posterior. Nesta existe apenas um crucifixo de dimensões razoáveis e, lateralmente, algumas imagens decorativas, entre as quais, naturalmente, figura com destaque a do Padroeiro Santo Antônio da Estiva.Tudo ali é destituído de luxo ou ostentação. De fato, a igreja de Miguel Pereira não mostra altares suntuosos protegidos pela abside tradicional vista em outras igrejas ou balcões laterais de filigranas douradas. A peça de maior impacto visual da matriz é o imenso e colorido vitral dedicado a Nossa Senhora, localizado junto à parede direita do altar. Sem dúvida, trata-se de uma peça de extremo bom gosto e refinado acabamento, capaz de filtrar a luz solar em extraordinárias nuances, especialmente quando admirado de encontro à luz do sol pela área interna da igreja Junto às portas principais de acesso à nave, existe o transepto sobre o qual se apoia o mezanino destinado às atividades do coral da Igreja.

Na próxima edição: Igreja de Governador Portela