Nossa Senhora da Conceição

As Igrejas Católicas na Ocupação do Vale do Paraíba - Paty do Alferes

 02/06/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 140
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A Igreja da Vila de Nossa Senhora da Conceição de Serra Acima da Roça do Paty do Alferes originou-se da iniciativa do Alferes Francisco Tavares que, em 1730, construiu uma ermida em terras da Fazenda da Freguesia por ele fundada junto ao Caminho Novo. A propriedade foi o embrião do crescimento físico e demográfico de Paty, e na mesma década de 1730 D. Francisco de São Jerônimo, Bispo do Rio de Janeiro, autorizou oficialmente o culto público de fiéis na capela oferecida à Nossa Senhora da Conceição alocada naquela propriedade, ficando tal templo atrelado diretamente à Freguesia do Pilar, na Baixada Fluminense. Todavia, em breve espaço de tempo a população do povoado cresceu de maneira acentuada, e logo tais dependências mostraram-se insuficientes para abrigar todos os seus frequentadores. Por conseguinte, vários pedidos foram despachados para o Arcebispado do Rio de Janeiro pleiteando a rápida construção de uma igreja maior para a já chamada "Vila do Alferes". Assim, em 1736 o novo Bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe, ao passar pela vila em direção a Minas Gerais, achou por bem determinar um local mais adequado para a edificação da primeira matriz do lugar. A área escolhida situava-se em um outeiro nas proximidades da atual travessia da linha férrea em Arcozelo, na chamada Vila do Roseiral. Ali foi então levantada a igreja pioneira de Paty, benzida em 26 de abril de 1739 pelo Reverendo Padre Manuel da Costa, Capelão da Igreja de São Pedro e São Paulo da Paraíba do Sul.

Em 1820, o Capitão-Mor Manoel Francisco Xavier resolveu doar uma porção de suas terras no chamado Morro de São Paulo para a edificação de uma matriz mais ampla para o lugar. A igreja foi, a princípio, erguida em madeira, possuindo somente a nave principal, um altar-mor e um consistório lateral. Essa primitiva igreja já se encontrava em funcionamento em 1837, passando assim a Freguesia de Paty do Alferes a constituir um Vicariato graças ao Ofício Divino expedido no Rio de Janeiro pelo Reverendíssimo Senhor Bispo Diocesano Dom Francisco de São Jerônimo. Já em 30 de março de 1840, uma Lei Provincial assinada pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro criava em definitivo a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes.

Com a morte de Manoel Francisco Xavier, a viúva Francisca (Maria) Elisa Xavier tomou as rédeas de seus negócios. Rica e respeitada, ela herdou uma fortuna considerável que, em 1842, usou para comprar de Delfino da Silva o terreno que logo depois passou a representar todo o patrimônio imóvel da Igreja. Graças à sua iniciativa, novo templo foi redimensionado, recebendo um altar-mor mais amplo, corredores laterais, área para o coro num segundo pavimento e novas torres. Levantadas sobre imensas pedras de cantaria, suas paredes começaram então a se destacar na paisagem de Paty do Alferes, e já em 1844 a Igreja estava pronta para sua consagração, em seu estilo neoclássico elegante e sóbrio inspirado nas famosas igrejas de Minas Gerais.

Dez anos depois, um incêndio reduziu toda sua valiosa prataria a meros pedaços de metal negro, retorcido e inútil, e grande parte de suas paredes viu-se transformada em lamentáveis escombros. Entretanto, a tragédia não abateu o espirito da população patiense e menos ainda o ânimo de D. Francisca Xavier, que logo empreendeu um grande pacote de reformas concluídas antes da década de 1860.Encantada com a obra e sensibilizada pelo generoso coração de Maria Elisa, a população de Paty decidiu então homenageá-la, mandando pintar dois grandes quadros a óleo - um seu, outro do marido Manoel Francisco Xavier - hoje expostos em um dos corredores laterais da Igreja.       

À parte qualquer credo religioso que se professe, não se pode negar que a Matriz de Paty é, de fato, um dos mais belos monumentos históricos deixados na serra pelo bravo povo de Paty. O prédio possui, em sua frontaria, uma imensa porta dupla em madeira de lei, provavelmente talhada pelos escravos, sobre a qual se dispõe o transepto onde se abriga a área do coro, cuja iluminação natural é fornecida por cinco largas janelas em estilo neocolonial típicas dos anos setecentos. Dividindo o pavimento inferior do segundo piso, há uma linha simples de telharia francesa e por sobre as extremidades da área do coro elevam-se duas torres que resguardam os sinos, separadas entre si por um pequeno frontão triangular telhado, em cujo vértice apoiam-se seu cata-vento secular e a cruz principal do templo. Podemos ali observar o tradicional uso de duas torres utilizado na metade do século XVIII em matrizes e igrejas de irmandades nos anos setecentos. Assim,a nave principal é ampla, bem arejada e também em formato quadrangular, ladeada por dois longos corredores que conduzem à Sacristia e a algumas saletas destinadas à proteção de diversas imagens. Já a abside da Matriz compõe-se de duas colunatas laterais trabalhadas em florões, unidas na parte superior por um trono retangular decorado, em cujo interior aninha-se a imagem da Santa Padroeira em retáulo envidraçado sobre degraus belamente ornamentados. Em primeiro plano, nas paredes, projetam-se para o espaço principal da nave dois pequenos balcões, certamente destinados ao uso dos nobres da cidade durante a rica época cafeeira da Serra do Tinguá. Por sua vez,surgem, ao lado da abside, dois lindos altares laterais (capelas radiantes) emoldurados por pequenos capitéis encimados por volutas decoradas a fio de ouro, formando dois pontos de referência que fazem convergir o olhar do visitante diretamente para o altar principal. A estrutura geral da obra é bem típica do período pós-colonial da serra: madeira, estuque, adobe e pau-a-pique foram amplamente utilizados na construção.Os arquitetos da época procuraram deixar aparentes apenas seus cunhais, suas cimalhas e a guarnição de todos os seus vãos, atendendo assim às imposições arquitetônicas daqueles áureos tempos,

No interior da secular e admirável Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes, respira-se até hoje um autêntico ar de história, religiosidade e paz.  De fato, o templo transmite aos devotos uma profunda sensação de tranquilidade. Por entre seus bancos silentes, sente-se circular naquele ambiente diáfano o ar de uma liturgia milenar e quase imemorial, e das imagens silenciosas parece irradiar diariamente a luz divina dos tempos bíblicos, trazendo aos visitantes o alimento espiritual que revigora a mente e nutre a alma cansada e carente. Não podemos deixar de registrar, porém, que todo o arcabouço arquitetônico da igreja encontra-se bastante deteriorado, necessitando, assim, de imediatas e extensas obras de restauração.

Largo da Matriz, 145, Centro / Tel. (24) 2485-1037

Na próxima edição: Igreja de Avelar