Sem leme, sem mapa factível e sem comandante, as chances de bater no penhasco e explodir são imensas
A crise só não é pior em função das reservas cambiais construídas nos governos Lula e Dilma
16/06/2017
Opinião
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O mercado segurou o quanto pode. O boletim Focus, relatório de expectativas divulgado pelo BC, passou três semanas "congelado". Esta semana, foi obrigado a ceder, rebaixando o PIB deste ano para 0.41. São enormes as chances de “crescimento” negativo novamente, três anos consecutivos, uma tragédia econômica e social histórica.
O suspiro positivo do último trimestre deve-se à supersafra na agricultura, depois de um 2016 ruim. A indústria, estagnada no fundo do poço, só não fecha de vez porque o câmbio está favorecendo as exportações, lhe dando algum oxigênio.
Os serviços parados numa crise aguda, completam o quadro desalentador. A dívida pública deve continuar crescendo. O governo federal ainda não sabe como fechar o déficit de 140 bilhões da meta fiscal de 2017. Insinua aumento de impostos, difícil conseguir apoio político para tal.
A crise só não é pior em função das reservas cambiais construídas nos governos Lula e Dilma. Os investimentos estrangeiros, com poucas oportunidades pelo mundo e o câmbio convidativo, devem se concentrar basicamente na aquisição de ativos "já rentáveis".
Nada de risco ou investimento mais estratégico. O Brasil está barato, "hora de ir às compras!". Estamos passando por um razoável processo de desnacionalização, tanto no setor público quanto no setor privado. Fundos Canadenses, Norte-americanos e os Chineses estão com o apetite aguçado.
A inflação se aproxima dos 3% e começa a flertar com uma trágica deflação. A taxa de investimento público desabou. Como não consegue fechar as contas e está ancorado num “neoliberalismo tardio”, o governo se contenta apenas em fazer o básico.
É neste cenário, de tempestade perfeita, que se dará a batalha dos juros. No capitalismo existe lucro, o resto é papo furado. E não estou condenando, só não caio no conto do vigário. Não existe espírito animal dos empresários, "solidariedade fiscal-trabalhista" em momentos de crise e etc. O mercado é pragmático.
Os capitalistas brasileiros estão todos no mercado financeiro, obviamente. Se até a classe média está, com seus pequenos investimentos, imagine eles. Se a produção rende mais, desloca-se o dinheiro para produção. Se o mercado financeiro rende mais, deixa o dinheiro aplicado e vai tomar sol em Miami.
Venderam durante muito tempo a ilusão de que a economia voltaria a crescer. Com a consolidação da grave instabilidade política até 2018, um sonho cada vez mais distante.
Ora, se a economia não vai reagir, mesmo com os juros caindo, onde os donos do capital vão ganhar? Não é obra do acaso os sinais de que o BC irá reduzir o ritmo de queda dos juros. É indecente, com a inflação em queda e o país com 14 milhões de desempregados, manter taxas de juros extorsivas.
Temer estará entre dois caminhos. Se agarrar ao mercado sendo o condutor de uma catástrofe social, ou mudar a rota de sua política econômica para tentar reagir. Algum gesto, alguma flexão deve fazer pela premência das eleições, mas é pouco provável que seja adotado o segundo caminho.
A crise política criou um impasse. Os neoliberais tardios não têm força para avançar loteando os ativos e o orçamento federal entre os seus, como gostariam, e a esquerda não tem força para reverter a agenda e impor uma política desenvolvimentista.
O barco parado no mar revolto vai afundando, jogando milhões ao mar. Sem leme, sem mapa factível e sem comandante, as chances de bater no penhasco e explodir são imensas. Só um banho de democracia é capaz de restabelecer um rumo, seja ele qual for.