Os smartphones e os pequenos agricultores na África
Revolução digital atinge vários países do continente e multiplica os resultados da agricultura
19/05/2018
Planeta Colabora
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Foto 1 - Produtores de tomate na Etiópia. Falta
de infraestrutura e treinamento impediam o crescimento da produção. Foto Banco
Mundial
Preços mais baixos de smartphones estão levando
a uma revolução digital na África, permitindo que usuários usem a internet e
aplicativos em um nível sem precedentes. Um dos setores mais beneficiados por
esta transformação é a agricultura. Até 2025, metade da população da África, de
um bilhão de pessoas, terá acesso à internet, e haverá 360 milhões de
smartphones no continente, de acordo com a empresa de consultoria McKinsey.
Isto poderá levar o setor de agricultura a uma receita de US$ 3 bilhões por
ano.
?Os aplicativos para a agricultura já são
muitos, incluindo diagnoses veterinárias, técnicas de plantio e mercados
virtuais. O momento é apropriado. A produção mundial de alimentos terá de
aumentar 70 por cento até 2050 para atender a demanda, e a África tem mais da
metade das terras não utilizadas globalmente, segundo as Nações Unidas?
O crescimento no uso de dados ocorre apesar de
problemas como os custos de acesso e a falta de cultura digital em alguns
lugares da África. Quênia, Egito, Nigéria e África do Sul são os países mais
adiantados, e outros, como Argélia, Camarões e República Democrática do Congo
já começam a entrar na nova era com tecnologia 3G. No geral, os serviços móveis
geram atualmente 6.7 por cento do PIB continental, em um total de cerca de U$
150 bilhões em valor econômico.
Os aplicativos para a agricultura já são
muitos, incluindo diagnoses veterinárias, técnicas de plantio e mercados
virtuais. O momento é apropriado. A produção mundial de alimentos terá de
aumentar 70 por cento até 2050 para atender a demanda, e a África tem mais da
metade das terras não utilizadas globalmente, segundo as Nações Unidas.
Foto 2 - Produtor de abacaxi no Benin. O país
já é um dos maiores exportadores da fruta no continente. Foto Yanick Folly/AFP
Até bem pouco tempo, os pequenos agricultores
africanos não conseguiam se aproveitar da situação por falta de infraestrutura,
treinamento, capital e avanços tecnológicos. Sua produção girava em torno de
uma tonelada métrica por hectare, comparada a sete toneladas em mercados
desenvolvidos.
?A África é a chave para a oferta mundial de
alimentos, e é essencial usarmos este potencial?, diz Mark Davies, diretor da
Esopo. Sua empresa dá aconselhamento e liga agricultores a compradores no
mercado virtual. Seus usuários pagam um dólar por mês pelo serviço e faturam
com ele até US$ 20 mil anualmente.
Outros aplicativos lançados recentemente na
África incluem monitoramento de gado no Quênia (iCow) e mercado online M-Farm,
que tem participação da Samsung e ajuda agricultores quenianos a acessar o
mercado para precificar seus produtos. Agrega pedidos de implementos agrícolas
para diminuir custos e vende os produtos no atacado, reduzindo custos de
marketing relacionados. E os usuários podem ainda utilizar serviços
financeiros.
Em Botswana, a start-up Modisar monitora gado e
dá aconselhamento sobre alimentos, vacinas e finanças via mensagem de texto. A
Mewanko Farm, em Camarões, criou um mercado online para agricultores para a
venda de produtos em um esquema que, espera-se, irá melhorar a renda de 13
milhões de pessoas. A Safaricom, do Quênia, que em 2011 fez uma parceria com a
chinesa Huawei para a fabricação de um smartphone Android de US$100, oferece
novos serviços como aplicativos que ajudam no enfrentamento de desafios sociais
de pequenas comunidades.
O app WeFarm auxilia a resolver problemas de
tecnologia partilhando informações; o serviço informa sobre sementes mais
resistentes à secas. O EZFarm é um projeto da IBM sendo testado no Nairobi e no
Quênia, e envolve a implantação de sensores que coletam e transmitem dados para
a nuvem da empresa e atualiza as informações a cada minuto. O Agtag é uma
revista eletrônica que fornece artigos, notícias de todo o mundo, com tópicos
que vão de safras, equipamentos, gado e água ao agroprocessamento. As
informações podem ser partilhadas com outras plataformas.
No médio prazo, todos estes recursos irão
minimizar alguns dos fatores que impedem o desenvolvimento da agricultura na
África ? como baixo uso de insumos modernos, desorganização de mercados, acesso
a crédito, baixa produtividade, secas e sazonalidade das safras.
Por:
José Eduardo Mendonça