Plantio de maconha mobiliza empresas no Brasil

Americana Knox Medical espera movimentar R$ 2 bilhões por ano somente com fitoterápicos para o tratamento da dor; e a Entourage Phytolab investiu US$ 4 milhões para desenvolver uma estrutura para a produção de medicamentos

 06/07/2018     Cannabis medicinal      Edição 197
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São Paulo - A previsão de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária regulamentar o plantio de maconha para pesquisa e uso medicinal já começa a movimentar o mercado brasileiro. Pelo menos duas empresas foram criadas no país nos últimos anos com objetivo de ingressar no setor que, garantem, é muito promissor.

O plantio de maconha para pesquisa e preparo de medicamentos já é permitido em lei. Mas, para que isso se concretize, é necessário que haja regulamentação: regras que determinem quem, como e onde o cultivo pode ser realizado. É justamente isso que a Anvisa deve começar a discutir neste mês. Entre os pontos que serão definidos estão se o plantio será em estufas, em locais abertos, e como será a segurança.

"Somente com fitoterápicos usados para o tratamento da dor, o cálculo é de que possamos movimentar R$ 2 bilhões por ano", afirma Mário Grieco, diretor da Knox Medical, empresa americana especializada na produção e na venda de Cannabis sativa (o nome científico da maconha) medicinal.

A Knox iniciou suas operações em fevereiro e busca no Sudeste a área ideal para construir uma fábrica. Em Valinhos (SP), foi montada a Entourage Phytolab, uma empresa que já investiu US$ 4 milhões (cerca de R$ 15,6 milhões) para pesquisas e desenvolvimento de uma estrutura que abra caminho para a produção de medicamentos à base de Cannabis no Brasil.

As duas empresas têm como meta inicial produzir um medicamento para epilepsia refratária - forma da doença que não responde às drogas no mercado. Mas a lista de novas drogas potenciais é significativa. A Entourage, por exemplo, concluiu há pouco a formulação do primeiro medicamento. Além disso, já tem outras quatro composições na fila, que deverão também ser desenvolvidas

"Listagem feita por autoridades sanitárias canadenses traz 39 doenças que poderiam ter como indicação medicamentos feitos com Cannabis", diz Caio Abreu, diretor da Entourage. Há estudos que indicam melhora para pacientes com Alzheimer, Parkinson, glaucoma, fibromialgia e Doença de Crohn.

O nome da empresa dirigida por Abreu é uma referência ao efeito combinado dos vários componentes da Cannabis. A planta tem cerca de 80 canabinoides. Os mais conhecidos são canabidiol e o THC (tetraidrocanabinol) entre outros 400 componentes. Alguns estudos indicam que o uso combinado de seus componentes pode ser mais eficaz e seguro que substâncias isoladas. "Essas combinações podem ter ação mais abrangente e reduzir também efeitos adversos", diz Abreu.

 

Custos

 

Hoje, para fazer pesquisas com Cannabis é preciso importar o produto. Cada grama, diz Abreu, custa em torno de US$4 (R$ 15). "Se fizéssemos o próprio cultivo, os custos poderiam ser um quinto disso." A Entourage já tem pronto o projeto para o galpão onde o plantio poderia ser feito. As obras, porém, terão início só quando a discussão estiver mais definida.

A liberação do plantio é só um dos aspectos acompanhados pelos empresários. Há também expectativa sobre como será a regulação. Em alguns países, como Holanda, Canadá e Israel, o uso de produtos terapêuticos derivados da maconha foi feito com dispensa de todo ritual que norteia a liberação de remédios, como pesquisas clínicas.

Não se sabe ainda se no país tal estratégia, chamada de mercado de acesso, será repetida. Por isso, a Entourage tem dois planos. Se a pesquisa clínica for dispensada dentre as exigências para registro do produto, investirá no desenvolvimento de outras combinações. Caso contrário, já tem pronto um modelo de pesquisa com pacientes para a formulação desenvolvida para epilepsia refratária. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

NOTA DA REDAÇÃO

O Jornal Regional vem publicando uma série de matérias sobre a polêmica da liberação do comércio e do uso da maconha. O Jornal não tem uma opinião formada, mas entende que a informação seja fundamental para que cheguemos a uma opinião balizada e após profundas reflexões. Esse é um dos grandes problemas da humanidade, principalmente dos países capitalistas, que afeta nossas cidades, e por isso, merece atenção de nossa editoria.

O uso e a legalização dividem opiniões no Brasil. O combate ao tráfico já dura mais de 30 anos no Rio de Janeiro, e segundo os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio, só no ano passado, na capital e Baixada Fluminense, quase mil pessoas já foram mortas na luta contra as drogas.

Para o delegado da Polícia Civil, Orlando Zaccone, a questão das drogas não pode ser vista como uma questão policial. Debater a legalização é muito importante?, opina o delegado. Por isso o Jornal vem trazendo uma série de reportagem de acontecimentos e experiencias, no Brasil e no mundo, e convida o leitor à essa reflexão.