Professor Mário Lopes Rêgo
Nos primeiros anos da década de quarenta, Mário e a esposa vieram morar em Miguel Pereira, uma estância famosa pelo clima então decantado como excelente para doenças pulmonares.
25/03/2019
Historiador Sebastião Deister
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Filho do comandante da Marinha Arthur Lopes Rêgo e de D.
Lucila Vasconcelos Lopes Rêgo, Mário Vasconcelos Lopes Rêgo nasceu em Maceió,
Alagoas, no dia 7 de setembro de 1917.
Vindo estudar no Rio de Janeiro, o jovem Mário concluiu
com brilhantismo o segundo grau e logo ingressou na Faculdade de Medicina, seu
mais caro sonho de vida. Cursava o 5º ano e fazia estágio em enfermagem quando
a tuberculose o surpreendeu, bloqueando seus estudos. Aconselhado pela família
e pelos médicos, Mário internou-se em uma clínica especializada em Campos do
Jordão, onde, por ironia, acabou por conhecer uma paciente de nome Cenyra, que
lá também se tratava, e que tempos depois seria sua devotada esposa.
Nos primeiros anos da década de quarenta, Mário e a
esposa vieram morar em Miguel Pereira, uma estância famosa pelo clima então decantado
como excelente para doenças pulmonares. Incentivado pelo Dr. Arthur da Senna
Wangler, o casal fixou residência na cidade e Mário, para sustentar a família
que começava a aumentar com o nascimento dos filhos, passou a administrar aulas
particulares em uma salinha de sua humilde casa.
Sua fama de educador logo se espalhou pela pequenina cidade.
Em 1950, encorajado por Cornélio Fernandes Neto - que fora seu professor no Rio
de Janeiro e à época prestes a ocupar o cargo de prefeito em Vassouras - Mário
seguiu para Nova Friburgo, onde completou um Curso de Especialização em
História e Geografia. Assim, se a medicina perdia um médico, a educação em
Miguel Pereira ganhava um professor inigualável que, nos anos seguintes, muito
faria pelos jovens da cidade.
Retornando de Friburgo, Mário passou a trabalhar no hoje
extinto Ginásio Barão de Paty do Alferes, ao lado de outras personalidades do
magistério da época, como George Jacob Abdue, Darcy Jacob de Mattos, tenente
Haroldo de Armando, capitão Zenóbio da Costa, Alcebíades Laudelino Balthar e outros
mais. Graças às suas inatas qualidades de educador e à notável capacidade de
disciplinador de que era dotado, em poucos meses aquele professor de fala
segura, energia inesgotável e personalidade marcante impôs um rígido,
responsável e competente estilo de ensino naquele colégio famoso.
Apesar do temor
que por vezes impunha aos alunos, Mário era um homem cordial, compreensivo,
sensível e honesto em seus propósitos, cuja paixão pelo que fazia não lhe
permitia jamais negar uma aula extra para os mais necessitados, um gesto
benevolente para os faltosos ou uma palavra de orientação para os professores
mais jovens e inexperientes que o procuravam em busca de conselhos
profissionais. Em sala, repetia à exaustão um capítulo não assimilado pelos
alunos, corrigia seus defeitos de fala e ortografia, a todos mostrava o valor
da cultura geral e, fora dos horários normais de aula, ensinava, dialogava,
debatia e procurava orientar e formar com paternalismo e persuasão o caráter de
um ou outro discípulo mais renitente ou problemático.
Dominando com perfeição e técnica as matérias que
lecionava, era exigente nas avaliações e imparcial em suas notas. Preocupado
com a formação da juventude de Miguel Pereira - que precisava deslocar-se para
Paty ou Portela para concluir o antigo curso ginasial - logo incorporou-se a um
grupo de amigos e professores objetivando fundar um ginásio em Miguel Pereira,
sonho concretizado em 1957 com a implantação de um Curso de Admissão, origem do
Ginásio Miguel Couto, hoje Colégio Cenecista Professor Miguel Pereira.
Aliando-se ao professor Cornélio (quer se mudara para Paty do Alferes),
implantou também no colégio um Curso de 2º Grau - o Colégio Comercial Miguel
Pereira - dirigido por aquele amigo e ex-mestre.
Nos anos setenta, Mário iniciou uma campanha visando à
construção de prédio próprio da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
(CNEC), mantenedora do Ginásio e do Curso Comercial. Mobilizando outras
importantes figuras da cidade, conseguiu arregimentar professores, pais,
alunos, empresários, simpatizantes e autoridades municipais em torno de seu
projeto, desencadeando na cidade um movimento irresistível, cujo resultado foi
o aparecimento do belíssimo e moderno prédio da CNEC, cuja direção, aliás,
esteve em suas mãos por vários e proveitosos anos.
Pai extremado e respeitável, Mário deixou em Miguel
Pereira quatro descendentes: Mário Sérgio, Sônia Marina, Luiz Arthur e Sandra.
Dos quatro, Sônia seguiu seus passos e também abraçou o magistério, tendo
lecionado na CNEC, por vários anos, as mesmas matérias do velho e querido
mestre Mário Lopes Rêgo.
Depois de mais de trinta anos de inteira
dedicação ao ensino em nossa terra, o professor Mário passou a lutar contra as
complicações provocadas por um diabetes renitente, tendo falecido em consequência
desta moléstia no dia 17 de novembro de 1987 em Miguel Pereira,
coincidentemente na data de aniversário de seu pai, o Comandante Lopes Rêgo.
Professor Sebastião Deister
deisterprof@hotmail.com
Publicado na edição de 27.11.2015