Fazenda do Governo, hoje Fazenda Maravilha (Paraíba Do Sul)
Em 22 de março de 1723, Jorge Pedroso de Souza, coronel do Regimento de Ordenanças da Vila de Paraty, obteve uma sesmaria no Sertão da Parahyba
19/04/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 238
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Antônio José da Costa Barbosa tornou-se, então, dono de toda a Fazenda
do Governo. Depois de seu falecimento, a propriedade passou para as duas filhas,
cabendo uma seção de terras a Pulicena Augusta, casada com o espanhol José
Antônio Linhares. Esta parte, que compreendia a sede da fazenda, mais tarde
passou a se chamar Fazenda do Governo Velho. O outro quinhão foi passado à
filha Francisca Cândida, casada com o Dr. Luís Nicolau Favre, casal que
construiu então o prédio da Fazenda do Eremitório, em cujo interior se
destacava uma rica capela que recebia regularmente missas e outros rituais
católicos sempre assistidos por escravos e vizinhos da propriedade. O Dr. Luís
Nicolau Favre era um suíço formado em ciências físicas e naturais. Depois de
sua morte, a viúva Francisca Cândida esposou o Dr. Joaquim Antônio Pereira da
Cunha em 4 de outubro de 1847, advogado e inventariante do espólio, o qual se
tornou, assim, o décimo proprietário da Fazenda do Governo. Acredita-se que
eles conferiram à fazenda o seu aspecto atual, com destaque para muitos elementos
do século XVIII. Por essa época, a grande fazenda foi visitada por viajantes
ilustres, entre eles Charles de Ribeyrolles, memorialista e político francês, e
o Conselheiro José Saldanha da Gama, da Escola Politécnica. Por lá também
passou Auguste François Marie Glaziou, botânico francês responsável por significativos
trabalhos no Brasil, entre eles a modernização paisagística do Passeio Público
do Rio de Janeiro e a implantação de belos jardins em algumas fazendas de café.
O Dr. Joaquim também se envolveu com a política, sendo vereador em várias
legislaturas. Mais tarde, porém, teve de vender a tradicional fazenda para
pagar uma dívida hipotecária aos herdeiros do barão de Diamantina, Francisco
José de Vasconcelos Lessa.
O casal não deixou descendentes. Francisca Cândida faleceu em 22 de
agosto de 1863. Ainda no período em que a fazenda pertencia ao Dr. Joaquim
Antônio Pereira da Cunha, mais precisamente em fevereiro de 1848, durante a
excursão de D. Pedro II à região, a Fazenda do Governo recebeu o Imperador para
almoçar. Prosseguindo viagem, D. Pedro II pernoitou na vila de Paraíba do Sul,
na Fazenda da Boa Vista, do coronel João Gomes Ribeiro de Avelar. Por outro
lado, Governo foi retratada em 1858 pelo francês Victor Frond, o primeiro estudioso
do Vale a registrar a vida dos escravos no Brasil através da fotografia.
Matias Bernardino Alexandre foi o undécimo proprietário da Fazenda do
Governo. Ali desenvolveu grande atividade, aumentando significativamente seu
pecúlio e tornando-se protetor de todos os seus vizinhos. Graças a seu
prestígio, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo em 1873. Depois de
sua morte a fazenda passou a pertencer a seus sobrinhos, naturais da Polônia.
Esses foram os duodécimos proprietários da Fazenda do Governo, mas por apenas
dois anos (de 1879 a 1880).
O Dr. José Gonçalves Viriato de Medeiros foi o décimo terceiro
proprietário da Governo, entre 1880 a 1896. Casado com Sara Blackall, o cearense José
Gonçalves mudou o nome da fazenda para Sobral, cidade onde nascera. Do
matrimônio vieram ao mundo três filhos: Eugênia (casada com o Dr. Antônio José
Miranda Carvalho), Armando e Ester. Antônio José de Miranda Carvalho era um médico
sul-paraibano de origem mineira, tendo sido também presidente da Câmara de
Paraíba do Sul. Com sua morte, ocorrida em 1940, ele passou a Fazenda do
Eremitório a seus filhos, que por seu turno, venderam-na em 23 de março de 1954
a Milton de Souza Carvalho. Este, então, dividiu a área em mais de cem sítios e
lotes com áreas prontas para qualquer construção, batizando tal loteamento como
Parque Maravilha.
Um dos sítios do loteamento foi vendido, em 26 de fevereiro de 1957, a
José Ramos Carlos, que o negociou, em 5 de maio de 1961, com Antônio Esteves
dos Reis, mesmo tendo prometido vendê-las a Moacyr Nogueira Pereira. Segundo a
tradição oral da região, Moacyr Nogueira Pereira, por se considerar legítimo
possuidor, transferiu sua posse a Antônio Nogueira, no período entre 1959 e
1960. Antônio Nogueira devastou centenas de árvores para vender madeira e
demoliu o prédio do antigo engenho de açúcar, razão pela qual seu nome é
pessimamente lembrado na região paraibana.
Antônio Esteves dos Reis vendeu seu sítio, em 16 de janeiro de 1960, a
Altamiro Figueira, sua mulher Anair Gabriel Figueira e a três filhas casadas,
cabendo a cada uma a quarta parte da propriedade. Altamiro Figueira e sua
mulher já haviam adquirido do espólio de Milton de Souza Carvalho a parte
restante da propriedade - na realidade, a maior parte - com 1.923.570 m2,
resultado da aglutinação de vários sítios.
Por escritura de 3 de janeiro de 1975, Altamiro Figueira e sua mulher
venderam o sítio com a sede para a atual proprietária. A usina de força
hidráulica, ainda existente e funcionando, foi construída por Milton de Souza
Carvalho e filhos, na década de 1950, quando loteou a propriedade,
aparentemente com o objetivo de suprir todo o loteamento com energia constante.
No Brasil colônia, um velho casarão local talvez tivesse sido sede da
Fiscalização da Pesagem de Ouro (Paraíba do Sul era um ponto estratégico para a
saída de ouro de Minas Gerais). Miranda Carvalho transformou o pavilhão em
colégio, mas Altamiro montou ali um curral. O referido pavilhão foi restaurado pela
atual proprietária (Maria Beltrão), visando a restabelecer o seu provável
aspecto original. A Fazenda do Governo hoje é conhecida pelo nome de Fazenda
Maravilha.
Na
próxima edição: Bela Aliança (Barra do Piraí)