Fazenda Forquilha, município de Rio das Flores, RJ
A origem da fazenda é da década de 1805, quando foi concedida, através do sistema de sesmarias, a João Rodrigues da Cruz
25/05/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 243
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A origem da
fazenda remete-se aos princípios do século XIX, mais precisamente à década de
1805, quando foi concedida, através do sistema de sesmarias, a João Rodrigues
da Cruz. Foi batizada com o nome de Oriente, embora durante anos fosse
popularmente conhecida por Forquilha, devido ao ribeirão do mesmo nome que
corta suas terras. Somente no século XX foi oficialmente registrada com o nome
com o qual hoje é conhecida. Cruz vendeu a sesmaria a José de Souza Freitas,
que, por sua vez, negociou-a com Antônio Joaquim Campos, genro de Cruz. Em
1813, Campos pediu a confirmação da sesmaria à Coroa portuguesa, o que só foi
deliberado em 1815.
Alguns anos
depois, a fazenda apareceu em nome de Jacintho Ferreira Paiva e de sua mulher,
D. Maria dos Anjos Sanches Paiva. Jacintho viveria até 1850 e, após sua morte,
D. Maria administraria a fazenda até ao final do século XIX. Pelo que podemos
constatar no inventário realizado no Rio de Janeiro em agosto de 1851, Paiva era
uma pessoa de muitas posses. Além da Forquilha, mantinha diversos imóveis na
Corte, incluindo a mansão onde residia na Rua dos Barbonos (atual Evaristo da
Veiga, centro do Rio de Janeiro) no valor de 42 contos de reis, quase o
quádruplo do valor das terras da fazenda.
No final do
século XIX, Forquilha passou por um processo de reforma geral em suas
instalações. O antigo sobrado foi substituído por majestoso chalé, com
requintados elementos decorativos internos e externos. Da antiga casa aproveitaram-se
alguns móveis e o belo retábulo da capela de Nossa Senhora da Glória. A casa foi
abastecida por água encanada e iluminada a gás. Os terreiros foram
macadamizados, o antigo engenho de pilões substituído por máquinas movidas por
roda d'água de ferro, além da instalação de um moderno alambique para fabricação
de aguardente.
Tudo leva a
crer que os proprietários não viviam no local. De fato, grande parte dos
documentos referentes à fazenda foi assinada por procuração ou pelo próprio
administrador. D. Maria praticamente não participava da vida social da região, fato
raro para quem estava entre os principais produtores de café do Vale. Ausente
ou não da administração direta de suas terras, D. Maria dos Anjos, após o
falecimento do marido, transformou Forquilha em uma das maiores produtoras de
café da antiga Freguesia de Santa Thereza de Valença (hoje Rio das Flores). A confirmação
de tal crescimento se dá através de dados comparativos colhidos nos inventários
de Jacintho, de 1851, e de Maria dos Anjos, de 1893. D. Maria dos Anjos
casou-se novamente, teve mais três filhos além dos quatro havidos do primeiro
matrimônio. Faleceu no dia 9 de março de 1885, na sua mansão na antiga Rua dos
Barbonos. Deixou para os seus filhos e netos uma fortuna no valor de Rs. 288:891$000
(duzentos e oitenta e oito contos e oitocentos e noventa e um mil réis).
Pelo que
consta, o filho Alexandre Ferreira Paiva e sua mulher, D. Maria José de
Carvalho Paiva, adquiriram dos outros herdeiros as partes de cada um na
fazenda. O período de Alexandre na propriedade foi marcado pela tentativa de
implantação de novas atividades, como por exemplo, a criação de ovelhas. Tais
investimentos não impediram que a fazenda fosse afetada pela crise da produção
cafeeira, obrigando Alexandre a hipotecá-la em 1899.
Tempos depois,
a fazenda foi adquirida por Sílvio dos Santos Paiva, membro da família
Rodrigues Barbosa, uma das mais tradicionais da região. Durante o período em
que a família Santos Paiva foi proprietária da Forquilha, a fazenda se firmou
como uma das maiores produtoras de leite e café. Paiva, que era político
influente em Santa Thereza de Valença, chegou a instalar em sua propriedade uma
linha telefônica, iniciativa pioneira naquela zona. Após a morte de Sílvio, a
fazenda foi herdada por seu filho Júlio dos Santos Paiva, casado com Silvina
Gonçalves de Lacerda, filha do Deputado Sebastião de Lacerda. Foi nessa época que
um sobrinho do casal, o menino Carlos Frederico Werneck de Lacerda, passou
férias na propriedade em companhia dos primos. Em sua obra editada em 1977 e
intitulada A Casa de meu Avô, o polêmico governador do antigo Estado da
Guanabara narra suas aventuras na Forquilha, incluindo a criação de um jornal
de circulação na fazenda, denominado O Forquilhense.
Atualmente, o
bloco que compõe a tulha-engenho está disposto em uma das laterais dos
terreiros de secagem do café, distribuídos à frente da casa-sede, em número de
três, em sequência e no mesmo nível, todos cobertos por um gramado. Não se sabe
a localização exata da antiga senzala, até porque não há indícios específicos no
local.
Forquilha
está localizada à margem da rodovia hoje asfaltada que liga Rio das Flores à
cidade de Paraíba do Sul. Da estrada, inclusive, pode-se avistar todo o
complexo que a compõe. O conjunto está implantado num vale largo e bem
arborizado cortado pelo ribeirão batizado com o mesmo nome da fazenda. Existem
dois acessos à vasta área da propriedade. O principal está paralelo à antiga
tulha e o outro conduz diretamente à casa-sede, passando pela antiga escola,
hoje desativada, e pela casa do administrador. À esquerda da casa principal
surge uma piscina desativada, à direita, e uma pequena residência térrea cuja
utilização não pôde ser determinada. Já pelos fundos, distanciada da casa
grande, ergue-se uma casa de colono com telheiro à frente.
Em 1940, os
vários herdeiros da família Paiva Lacerda venderam a fazenda a Vicente
Miggiolaro, permanecendo a propriedade nesta família até 1988, quando Osmar
Vicente Miggiolaro, filho de Vicente, vendeu-a para Levindo Batista de Almeida
e sua mulher, Emília Novaes de Almeida. Em 1995, faleceu Levindo e, em 1996,
sua viúva. Após a partilha,
Forquilha foi herdada pelas irmãs Ana Maria de Almeida Araújo e Maria Aparecida
de Almeida Santos, em cuja posse a fazenda permanece atualmente.