Nove perguntas sobre o surto de sarampo
Com 633 casos da doença confirmados em São Paulo e o Rio de Janeiro em estado de alerta, infectologista explica mais sobre a doença, que estava erradicada no Brasil em 2016
09/08/2019
Saúde
Edição 254
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Foto 1 - Campanha de vacinação contra sarampo em 2018: todas as pessoas
até 29 anos precisam ter 2 doses da vacina (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A volta do sarampo ao Brasil trouxe também muitas dúvidas. Dos sintomas
à prevenção ou às formas de transmissão, novas gerações pouco sabem sobre a
doença, considerada erradicada em 2016. O Brasil perdeu o certificado de
erradicação da doença concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)
em fevereiro deste ano, depois de ter registrado mais de 10 mil casos em 2018.
Só nos primeiros três meses deste ano, em comparação ao mesmo período no
ano passado, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de
sarampo aumentaram 300% no Brasil. O estado do Rio entrou, nesta quinta-feira (1/08),
em estado de alerta devido à proximidade com São Paulo, que lidera o ranking de
infecções. Foram 633 casos neste ano, informou a Secretaria estadual de Saúde
de São Paulo nesta semana. Desde 10 de junho, 799 mil pessoas entre 15 e 29
anos foram vacinadas.
Foto 2 - Para responder às perguntas mais comuns sobre sarampo, o #Colabora ouviu
a médica Maria ngela Wanderley Rocha, do Departamento Científico de
Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
1 - O que é o sarampo? Pode matar?
É uma doença viral, contagiosa, que pode
causar pneumonia e outros problemas no sistema respiratório, podendo matar caso
não seja tratado.
2 - Sarampo deixa sequelas?
Não. Só em casos muito graves e raros, quando
afeta o cérebro, causando encefalite, que é uma inflamação ou infecção no
cérebro.
3 - Quais os sintomas?
O sarampo começa com febre, tosse irritativa,
que depois de uns três dias começa a ficar mais cheia, nariz e olhos vermelhos,
muita coriza, manchas pelo corpo, moleza, sensação de mal-estar e falta de
apetite. Parece uma gripe nos primeiros dias.
4 - Como pode ser transmitido?
Via respiratória. É um vírus altamente
contagioso que pode passar para outra pessoa de forma simples, só pela
respiração. Por exemplo, se tem uma pessoa com sarampo e outra que nunca teve
sarampo e não está vacinada, pode acontecer o contágio com facilidade.
Foto 3 - A cobertura vacinal de sarampo caiu no Brasil nos últimos anos,
uma possível razão para o surto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
5 - Por que a doença voltou ao Brasil?
Uma das coisas mais importantes é manter a
cobertura vacinal. Entre 2000 e 2017, a vacinação contra o sarampo resultou em
uma queda de 80% no número de mortes no mundo. Com isso, o vírus deixou de
circular pelo Brasil e a população começou a deixar de lado. Em outros países,
outros lugares, essas vacinas também não são feitas regularmente. Então, sem
cobertura, o sarampo voltou. Se aqui no Brasil a gente tivesse mantido nossa
cobertura vacinal em dia, não haveria surto da doença que, como é de alta
contagiosidade, se prolifera facilmente.
6 - Como prevenir?
A melhor maneira, mais eficaz e mais segura,
é a vacinação. Lógico que cuidados pessoais, como higiene e observar sintomas,
também podem prevenir.
7 - Como tratar?
Não há tratamento específico para o sarampo.
É preciso controlar a febre, ter uma hidratação boa e prestar atenção no
sistema respiratório para que não entre bactéria e a doença passe de viral para
bacteriana, isto é, quando o corpo fica com o sistema imunológico sensível, é
mais fácil para as bactérias se instalarem. Alimentar-se bem para aumentar o
sistema imunológico e ficar em repouso também são dicas.
8 - Quem precisa se vacinar? E quem não precisa?
Todo mundo precisa se vacinar. Crianças a
partir de um ano já podem ter sua primeira dose. Todo mundo precisa ter, pelo
menos, duas doses da vacina até 29 anos (a campanha de vacinação está voltada
para jovens de 15 a 29 anos). Quem já teve sarampo desenvolve uma resistência à
doença. No entanto, o Ministério da Saúde orienta, em casos de surto, a pessoa a
se vacinar de novo. Quem faz quimioterapia, radioterapia ou é portador de HIV
tem que ser avaliado pelo médico antes de tomar a vacina.
9 - Há grupos suscetíveis à doença?
Sim. Crianças com menos de um ano, porque não
podem tomar a vacina, idosos, por terem o sistema imunológico mais fragilizado,
pessoas com imunidade baixa e portadores de HIV.