Fazenda Pau D'Alho, Valença
Seu nome refere-se a um arbusto muito conhecido, cujas folhas exalam um forte cheiro de alho e que costumava ser plantado próximo às casas grandes para espantar as cobras.
09/08/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 254
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As origens da Fazenda Pau d'Alho, em Marquês de Valença, remetem-se às
pioneiras terras da Sesmaria de Cachoeira Grande concedida ao casal Joaquim
Marques da Silva/Faustina Angélica de Moura nos primórdios do século XIX. Em
razão de sua proximidade com a aldeia de Valença, a Pau d'Alho acabou por se
tornar uma das primeiras propriedades fazendárias a iniciar os trabalhos de
ocupação das glebas irrigadas pelo rio Preto. Seu nome refere-se a um arbusto
muito conhecido na época, cujas folhas exalam um forte cheiro de alho e que
costumava ser plantado próximo às casas grandes para espantar as cobras.
Verdade ou não, o fato é que muitas fazendas valiam-se desse expediente para
evitar a presença de tais animais em seus quintais.
Joaquim gerou numerosos filhos. Estes, por seu turno, mantiveram-se na
sesmaria do pai e nela constituíram família, com isso fazendo nascer outras
pequenas propriedades anexas à Pau d'Alho original. Após a morte do patriarca,
a mulher e os filhos desmembraram as terras da sesmaria da forma mais equânime
possível, vendendo em seguida grande parte delas para fazendeiros vizinhos. De
fato, no ano de 1835 D. Faustina repassou a fazenda ao comendador José da
Silveira Vargas, o mesmo que, tendo recebido a Comenda da Ordem da Rosa,
tornar-se-ia o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Valença, (o cargo de
presidente da Câmara equivale hoje ao cargo de prefeito municipal), e um dos
mais ativos fomentadores do progresso daquela vila. O comendador era um homem
eminentemente político e um capitalista por formação, tanto que àquela época já
ostentava a condição de um dos maiores acionistas do Banco do Brasil. Por
conseguinte, não se dedicou com tanta vontade ou perseverança às atividades da
Pau d'Alho. Após a morte de Vargas em 1861, a fazenda passou às mãos de D. Maria
Joaquina da Silveira, sua esposa, e de seus filhos Bárbara, Carolina,
Placidina, Custódio, Antônio e Alexandre, cabendo a este último assumir a
administração direta da propriedade. Por outro lado, com o falecimento da mãe
em 1866, a
Pau d'Alho foi repassada para Carolina, Placidina, Custódio e Alexandre, época
em que contava com 562 braças e meia por 1.500 braças de fundos. A fazenda
então constituía um autêntico e admirável celeiro para Valença, produzindo
feijão, arroz, mandioca, carne de porco, milho, madeira para construção, lã de
carneiro e algodão, além, obviamente, do precioso café.
A propriedade não deixou de sofrer as consequências da derrocada
econômica imposta pela queda da cafeicultura. Por essa razão, Luis Damasceno
Ferreira - filho de D. Placidina e do Comendador João Damasceno Ferreira -
abandonou seu curso de Medicina no Rio de Janeiro e se estabeleceu em Valença
com o intuito de administrar a fazenda, cujas atividades já se encontravam
bastante precárias. Autor da bela "História
de Valença", Luís gerenciou a propriedade até 1897, quando aceitou uma
oferta de compra por parte do rico comerciante italiano Vito Pentagna, dono da
vizinha fazenda Santa Rosa.
Em 10 de março de 1912, Vito valeu-se do represamento do rio das Flores,
que cortava sua fazenda, para ali construir uma usina hidrelétrica, com cuja
energia pretendia instalar mais uma indústria em sua querida Valença. Seu sonho
tornou-se realidade em 7 de setembro de 1913, data em que era fundada a
Companhia Fiação e Tecidos Santa Rosa. No entanto, no ano de 1914, a poucos meses de ver
inteiramente concluído seu belo empreendimento, Vito morreu vitimado por um
infarto. Como seria natural, a fazenda passou a ser administrada pela sua
esposa, D. Urbana de Castro Pentagna, sendo herdada por seu filho - o Dr.
Savério Pentagna - quando do falecimento da mãe em 1940. Em 1953, Pau d'Alho
passou às mãos de Humberto Vito Ribecco Pentagna, filho do Dr. Savério, que para
corresponder às necessidades técnicas exigidas pelo uso racional das suas
terras, buscou uma formação profissional adequada, diplomando-se rapidamente em
agronomia.
O quadrilátero de edificações forma o conjunto de dependências
funcionais da fazenda, detalhe que é uma peculiaridade da Pau d'Alho, visto que
não era usual a disposição arquitetônica em que a frontaria da casa se mostrava
voltada para o terreiro. Sua construção possui um volume bastante compacto, com
o casarão coberto por imenso telhado que difere substancialmente dos demais
prédios tão típicos das fazendas daquele período. Suas janelas e portas
enfileiradas marcam com elegância a arquitetura rural, na qual o interior
recupera com belos detalhes o passado glorioso da área de Rio das Flores.
A parte íntima da fazenda é surpreendente: seu porão foi transformado em
uma agradável sala de estar bastante rústica, nela se realçando paredes em
pedra e adobe, sofá de concreto com almofadas coloridas e mesa confeccionada
com troncos. Já outro espaço foi reservado para a montagem de uma saleta
destinada a refeições ligeiras, com destaque para uma mesa de quatro cadeiras e
um refinado guarda-louças entalhado com tampo de mármore e vidros bisoté que resguarda uma preciosa
coleção de xícaras de porcelana. Para complementar o aconchego de tal espaço,
sobressaem-se lindos azulejos portugueses na parede lateral e uma cortina
inglesa que completa o refinamento do estilo colonial dos móveis. Por seu
turno, o salão principal, com paredes pintadas em suave tom rosa, remete o
visitante ao notável período agrícola da fazenda, convidando-o para alguns
momentos de relaxamento e lazer em seus móveis austeros e centenários, dentre
os quais se destacam um jogo de sofá com encosto em medalhão, cadeiras em
palhinha e a vitrine que protege a coleção de cristais. Quanto à sala de
jantar, seu brilho advém de uma enorme mesa de rodízios em vinhático, com 5 metros e rodeada por 18
cadeiras com assento em palhinha e encosto de couro, tudo protegido por
robustas vigas de jacarandá distribuídas no teto do salão.
Fonte Principal: Inventário
das Fazendas do Vale do Paraíba
Na próxima edição: São
Fernando de Massambará (Vassouras)