Prejuízo provocado por crise climática é de US$ 1 trilhão
Estudo será apresentado na Semana do Clima, em Salvador. O encontro é preparatório para a COP-25, que acontecerá no Chile
23/08/2019
Planeta Colabora
Edição 256
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Foto 1 - A China está entre os sete países do mundo que já anunciaram a
proibição, para os próximos anos, da circulação de carros com motores a
combustão (Foto: Ding dong/Imaginechina)
Os impactos mapeados da crise climática podem causar prejuízos da ordem
US$ 1 trilhão a um conjunto de 215 empresas globais nos próximos cinco anos.
Juntas, essas companhias faturam US$ 17 trilhões. Diante dos crescentes riscos
climáticos, 72% das empresas incorporaram o passivo nas suas estratégias de
negócios. As empresas europeias lideraram essa proatividade, enquanto em países
como o Brasil e os Estados Unidos, o índice é abaixo da média mundial: 56% e
65%, respectivamente. Os dados fazem parte de um estudo da ONG Carbon
Disclosure Project (CDP, na sigla em inglês) e será apresentado hoje em
Salvador.
Durante toda essa semana, representantes da sociedade civil, como
empresas, academia e organizações não governamentais, como o CDP, se reúnem na
capital baiana para a Semana do Clima da América Latina e Caribe 2019. O evento
faz parte do calendário das Nações Unidas (ONU) e é uma das três reuniões
preparatórias da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a
COP-25, que ocorrerá no Chile em dezembro. Os dois outros encontros serão na
Tailândia e em Gana - tradicionalmente, essa reunião ocorria apenas em Nova
Iorque, mas, este ano, atendendo a uma reivindicação das regiões
latino-americana, asiática e africana, o encontro se espalhou pelos três
continentes.
Se não fosse a justificativa dada pelo presidente Jair Bolsonaro de que
a conferência custa muito caro - algo como R$ 500 milhões -, o Brasil iria
sediar a COP-25 este ano. Em sete meses na presidência, o mundo todo já sabe
que a área ambiental não é uma prioridade do governo. Aos fatos: o desmonte dos
mecanismos de monitoramento estão com força total, fazendeiros e garimpeiros já
sabem que a floresta é uma fronteira a ser explorada, o presidente diz que
apenas "veganos que só comem vegetais" se importam com a questão ambiental e,
por fim, o chanceler Ernesto Araújo já questionou a veracidade do aquecimento
global.
"No lugar de criar apatia entre os setores da
sociedade civil, o ativismo anti-clima do atual governo está suscitando mais
engajamento do setor privado" - Rebeca Lima, gerente sênior de Corporações e
Cadeias de Suprimento do CDP
"No lugar de criar apatia entre os setores da sociedade civil, o
ativismo anti-clima do atual governo está suscitando mais engajamento do setor
privado", avalia Rebeca Lima, gerente sênior de Corporações e Cadeias de
Suprimento do CDP. E o motivo, diz ela, é econômico: o valor potencial gerado
por negócios sustentáveis e de baixa emissão de carbono é sete vezes maior do
que manter a lógica de produção inalterada. Segundo o estudo, das 215 empresas
mapeadas, 80% delas alegaram temer impactos de alto risco nos negócios e
citaram como exemplos os estragos provocados por mudanças climáticas extremas.
Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), o impacto da crise climática nos negócios vem exigindo
ações concretas das empresas, que investem em novas tecnologias e em eficiência
energética para mitigação de gases de efeito estufa. A entidade apresentou
recentemente ao novo governo um conjunto de dez propostas para acelerar o ritmo
da transição para uma economia de baixo carbono, das quais seis delas estão
relacionadas à energia. O Instituto Arapyaú, por sua vez, vai apresentar no
encontro em Salvador exemplos de sucesso relacionados às principais metas
brasileiras nesta agenda. A Coalizão Clima Floresta e Sociedade, que tem se
dedicado a apoiar a agenda de implementação do Acordo de Paris e o
desenvolvimento de uma economia agroambiental de baixo carbono no país, vai
analisar a posição do governo brasileiro e dos demais atores da agenda de
clima, florestas e agricultura.
Foto 2 - Vista aérea de Salvador (Foto: Juan Mabromata/AFP)
Não à toa que Salvador foi
escolhido para ser palco das discussões climáticas. A capital baiana foi a
primeira cidade da América Latina a assumir os compromissos com o Pacto Global
de Prefeitos pelo Clima e Energia, uma coalizão de prefeituras para implementar
políticas para redução das emissões e adaptação das cidades aos efeitos das
mudanças climáticas.
O Aterro Metropolitano Centro, que recebe, diariamente, 3 mil toneladas
de lixo, passou a gerar crédito de carbono. De
2004 até 2017, deixaram de ser emitidos 6,8 milhões de toneladas de gás
carbônico (CO2). "Essa quantidade de carbono corresponde ao volume emitido por
um automóvel em 1 milhão e 700 mil voltas em torno da Terra", contabilizou
Roberta Costa, engenheira do GrupoSolvi, a empresa que opera o aterro de
Salvador.
O projeto da Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos (BATTRE)
evoluiu para uma termoelétrica, a Termoverde Salvador - a primeira usina
termelétrica movida a biogás de aterro sanitário do Nordeste. A Termoverde Salvador
gera em média 10 mil MWh/mês, energia suficiente para abastecer a demanda de
cerca de 200 mil habitantes.