Fazenda São Fidélis, Paraíba do Sul
Em tempo relativamente curto já era dono de uma das maiores fortunas daquelas áreas, abrigando em suas vastas plantações de café mais de 1.500 escravos. Apenas como parâmetro, um escravo valia o equivalente a um quilo de ouro.
30/08/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 257
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As
obras da fazenda São Fidélis tiveram início no ano de 1812, quando João
Francisco Pimentel requereu e obteve do governo português a sesmaria que deu
origem à grande propriedade, uma das mais antigas inseridas pela região do rio
Preto. Tempos depois foi comprada pelo Comendador Manoel do Vale Amado ao lado
da esposa Bernardina Cerqueira Vale.
Em
1839, Vale Amado repassou a fazenda e todas as suas terras para Jacinto Alves
Barbosa, o 1º barão de Santa Justa, que lá se instalou com toda a família. Lembremos
que Jacinto Alves Barbosa era um homem muito simples, porém dotado de imensa
capacidade de trabalho, que começou a vida como tropeiro nas precárias estradas
de ligação entre Paraíba do Sul, Rio das Flores e Valença. Em tempo
relativamente curto já era dono de uma das maiores fortunas daquelas áreas,
abrigando em suas vastas plantações de café mais de 1.500 escravos. Apenas como
parâmetro, um escravo valia o equivalente a um quilo de ouro.
A inauguração do grandioso casarão da São Fidélis
ocorreu em 1847, tendo o rio Preto a emoldurá-la logo ao lado. Homem rico e de
bom gosto, Jacinto decorou o grande solar com requinte e até mesmo ostentação,
mandando vir da França a maioria dos móveis em estilo Luís Felipe. Com o passar
dos anos e em função das necessidades de espaço e trabalho na fazenda, suas
dependências de serviço foram multiplicadas, mas mesmo assim a grande produção
de café da propriedade exigiu outras expansões arquitetônicas.
Em
1866, Alves Barbosa adquiriu as fazendas vizinhas de Santana (de João Vieira de
Carvalho, o conde de Lages) e a Santa Justa, esta dos herdeiros do falecido
Brás Carneiro Bellens. Nesse mesmo ano, Jacinto Alves Barbosa viu-se titulado
como barão de Santa Justa.
Morto
em 1872 aos 80 anos, Jacinto legou à família uma considerável fortuna tanto
para a viúva quanto para seus onze filhos, entre eles dois também agraciados
como 2º barão (Francisco Alves Barbosa) e 3º barão (José Alves da Silveira
Barbosa).
A
fazenda São Fidélis foi herdada pela filha Maria Jacinta Barbosa, esposa do
médico Dr. Balduíno Joaquim de Menezes, o barão de Menezes. Nos anos iniciais
do século XX, a monocultura do café foi abandonada e substituída pela criação
de gado leiteiro. Nos anos quarenta, Jackson Machado Fonseca e seu sogro Inimá
César Valle uniram-se ao amigo Oswaldo Fonseca e adquiriram a fazenda, mas tal
sociedade durou pouco tempo. Por conseguinte, Jackson comprou as partes dos
ex-sócios e tornou-se seu único dono.
A fazenda São Fidélis localiza-se às margens da RJ-151,
em uma área conhecida como Engenheiro Carvalhaes. A rodovia liga o pequeno
distrito de Monte Serrat (distante cerca de 20 quilômetros) a Valença. Curiosamente,
a propriedade, embora pertença a Paraíba do Sul, está bem mais próxima dos
centros dos municípios de Comendador Levy Gasparian e de Três Rios.
São Fidélis ocupa uma exígua área plana entre morros do
tipo meia laranja, na margem direita do rio Preto, já na divisa com Minas
Gerais. As margens do rio Preto (que muito mais à frente irá desaguar no
Paraibuna) guardam fragmentos de uma mata ciliar em recuperação e abrigam
alguns belos exemplares de antigas fazendas de café, tanto em terras
fluminenses quanto no lado mineiro, todas visíveis ao viajante que circular
pela RJ-151.
O grande solar, implantado em terreno de aclive suave,
destaca-se na paisagem por sua volumetria de grandes dimensões, podendo ser
facilmente admirado da estrada antes mesmo da chegada ao pórtico que marca o
acesso à fazenda. Tal estrutura é formada por um muro curvo de cantaria de
pedra que sustenta o gradil e o portão principal, dali se alcançando o jardim
que antecede a casa, espaço sombreado por palmeiras, jabuticabeiras e um longo pinheiro.
O jardim possui ainda um antigo chafariz, em mau estado de conservação, além de
uma piscina de construção bem recente e que nada tem a ver com as antigas
origens da fazenda.
Outro portal, situado à direita da casa-sede e alinhado
com a fachada frontal, indica o acesso de veículos ao conjunto de galpões e
demais construções ligadas à atual produção de leite. Ao fundo, no morro,
poucas árvores se destacam junto à pequena represa que integra o sistema de
abastecimento de água da fazenda.
Os pastos tomam conta da paisagem e apenas o fundo do
vale ainda apresenta resquícios da mata original. À direita deste conjunto
edificado corre sereno, paralelo à sede, o riacho São Fidélis, que passa sob a
estrada e deságua no rio Preto.
A casa grande configura um bloco assobradado de dois
pavimentos, com cerca de 1.300 m². Sua conformação em L formava originalmente
dois lados do quadrilátero funcional típico das antigas fazendas de café. No
primeiro piso estão localizados alguns depósitos e outros cômodos destinados às
atividades e serviços de produção, como escritório e local de guarda de
ferramentas.
O andar superior aninha a moradia da família. Ali estão
dispostos os setores de convivência social e pouso de visitantes ilustres, a
capela, os aposentos destinados à vida íntima familiar e os serviços de
cozinha, copa e despensa. No corpo frontal, uma escada em cantaria em forma de
semicírculo marca, junto com a porta de entrada, o eixo central de simetria,
que orienta a fachada principal composta por dez janelas no primeiro pavimento,
dispostas cinco de cada lado da portada, e outras 11 janelas no segundo
pavimento, alinhadas aos vãos do pavimento inferior.
Todos os vãos apresentam vergas e sobrevergas retas, sem
ornamentação, e esquadrias em madeira com abertura em duas folhas. No térreo,
as janelas possuem folhas lisas e, no segundo pavimento, venezianas
complementadas internamente por esquadrias de vidro em guilhotina.
Fonte Principal: Inventário das Fazendas do
Vale do Paraíba