Fazenda Loanda

Em terras concedidas através do sistema de sesmaria no ano de 1812

 20/09/2019     Historiador Sebastião Deister      Edição 260
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A Fazenda Loanda tem cravadas suas origens em terras concedidas através do sistema de sesmaria ao cessionário João Pedro Maynard d'Affonseca e Sá e à mulher Joana Edwiges de Meneses e Souza no ano de 1812. Coube a Maynard proceder à abertura da fazenda, batizando-a inicialmente como Barra das Flores, titulação remetida ao ribeirão das Flores que banha a propriedade e faz sua barra no rio Preto.

Maynard, que iniciou as atividades agrícolas na fazenda através do cultivo do café, não tinha grande inclinação para os negócios da lavoura. Administrador de poucas iniciativas e de imaginação ainda pior para o cultivo do campo, sua fama ruim corria pela região, porém era dono das melhores terras daquela área. Além da Barra das Flores, era senhor também da sesmaria vizinha que, anos depois, daria origem à grandiosa Fazenda Flores do Paraíso e à propriedade denominada Santa Rosa. Pouco depois de seu falecimento, sua viúva vendeu todas as valiosas propriedades por valores consideráveis para a época. Barra das Flores e Paraíso foram adquiridas por volta de 1842 pelo mineiro e negociante de gado Domingos Custódio Guimarães, senhor de grandes ideias e dono de profunda visão empresarial. O intermediário do negócio foi seu sobrinho e proprietário da fazenda da Conceição, Joaquim Cândido Guimarães.

Em pouco tempo, depois de estabelecido na fazenda, Domingos Custódio Guimarães ampliou os cafezais, aumentou a escravaria e tornou-se um dos maiores produtores agrícolas de café da região do Vale do Rio Preto, com mais de um milhão de pés de café em plena produção.

Mas Domingos Custódio Guimarães queria mais. Assim, idealizou uma fazenda que fosse perfeita e que atendesse a todas as necessidades da produção cafeeira da época. Fundou e construiu a importante Fazenda Flores do Paraíso, cuja obra, segundo estudiosos, foi iniciada em 1848, ou seja, seis anos depois de adquirida a Fazenda Barra das Flores.

Em 1853, Flores do Paraíso ficou pronta e para lá Domingos mudou-se com a família, ficando Barra das Flores como sua segunda mais importante fazenda, num total de nove propriedades, todas com unidades de produção cafeeira.

Tamanha foi a projeção social alcançada pelo então tenente-coronel Domingos Custódio Guimarães que, em 1854, foi agraciado pelo Imperador D. Pedro II com o título de barão do Rio Preto, e, em 1867, com o de visconde, com grandeza.

Com a súbita morte do visconde, ocorrida no dia sete de setembro de 1868, em pleno baile que oferecia em sua fazenda para comemoração do seu aniversário e da inauguração do ramal da Estrada União-Indústria, a fazenda Barra das Flores ficou em posse da viúva, a viscondessa do Rio Preto (Maria das Dores de Carvalho).

Em 1873, faleceu a viscondessa do Rio Preto vítima de um acidente a cavalo, sendo seus bens divididos entre seus dois herdeiros. A Fazenda Barra das Flores, com seus 186 mil pés de café e todas as benfeitorias e escravos, coube à filha, D. Maria Amélia Guimarães d'Azevedo, esposa do comendador Domingos Theodoro d'Azevedo Júnior.

Domingos Theodoro não residiu na Barra das Flores, pois possuía, a alguns quilômetros dali, a grandiosa fazenda de Santa Genoveva. Nesta ocasião, Barra das Flores foi absorvida pela Companhia Alto Paraíba, do mesmo Domingos Theodoro, cuja empresa agrícola reunia diversas propriedades da família.

Chegando às últimas décadas do século XIX, a produção cafeeira na região estava em franca decadência, causada pelo esgotamento do solo e tendo, por consequência, o endividamento dos fazendeiros. A situação piorou com a intensificação da campanha abolicionista culminada com a Abolição assinada em 13 de maio de 1888, em pleno mês do café maduro. Numa tentativa de substituir a decadente lavoura cafeeira, o comendador Domingos Theodoro implantou na fazenda a criação do gado zebu, introduzindo cerca de 300 cabeças, fazendo da Barra das Flores uma das pioneiras na criação dessa espécie na região. O clima de instabilidade política causada pela instalação do regime republicano em 1889, tendo como consequência uma política econômica também instável, acarretou, nesta ocasião, a falência da Companhia Alto Paraíba. Decidiu então o comendador Domingos Theodoro vender, no ano de 1897, a Fazenda Barra das Flores aos sobrinhos, o tenente-coronel Domingos Custódio Guimarães (Dominguinhos) e seu irmão, Carlos Alberto de Araújo Guimarães. Nesta época, foi mudado o nome da fazenda para Loanda, cujo apelido vem de muito tempo, quando uma plêiade de africanos escravizados, oriundos de Angola, assim a apelidaram.

Na virada do século XX, a fazenda foi vendida pelos irmãos Guimarães ao coronel português José da Costa Pereira Maldonado, e influente fazendeiro na região de Taboas, mas que não ficou muito tempo em posse da fazenda. Em 2 de março de 1912, em sociedade, o coronel Victor Garcia e o Dr. Oscar Vidal Barbosa Lage adquiriram esta fazenda do coronel Maldonado. Na ocasião, parte da secular sede da fazenda foi demolida, para que o material retirado (portas, janelas e telhas) servisse para a construção de uma segunda sede. Em 1919, com a morte do de Oscar Vidal, o coronel Victor Garcia adquiriu a outra parte da fazenda, tornando-se seu único proprietário.

Da união do coronel Victor com a esposa Guiomar nasceram os seguintes filhos: Lafaiete, casado com Diva Garcia; José Carlos, casado com Marina Soares; Dr. Alexandre, casado com Célia Vernes; Celso, casado com Yeda Soares, irmã de Marina; Olívia, casada com Dr. Moacir Figueiredo Ramos; Maria Violeta, casada com Dr. Cassilandro Vernes; Dr. Victor, casado com Ilma Maggari e Odete, casada e posteriormente divorciada de Hamilton Novaes. Victor morreu na década de 1930, deixando viúva D. Guiomar Belfort Garcia (Birroca). Atualmente a fazenda encontra-se toda fracionada, com parte das suas terras ainda em posse da Família Belfort Garcia.

 

Fonte Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba