Fazenda União - Rio das Flores
"(...) a sede da Fazenda União é um exemplar de propriedade rural do ciclo cafeeiro. Na opulência do meio produtivo rural, as casas tinham um porte avantajado"... Segundo a pesquisadora Ana Helena Ribeiro Telles Santos
04/10/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 262
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Segundo a pesquisadora Ana Helena Ribeiro
Telles Santos,
"(...) a sede da Fazenda União é um exemplar de
propriedade rural do ciclo cafeeiro. Na opulência do meio produtivo rural, as
casas tinham um porte avantajado, dotadas de importância arquitetônica e muitos
cômodos, de volume e imponência maior do que se imagina para uma residência
apenas familiar. Podemos encontrar outras casas grandes do gênero ao longo do
vale do Paraíba, apontando claramente para certa tendência à excentricidade e
por vezes até ao exibicionismo dos então barões do Café".
A história da Fazenda União,
em Rio das Flores, remete-se a 1802, ano em que José do Amaral recebeu a
sesmaria do Paraíso. Na verdade, José passou cerca de onze anos sem promover
qualquer tipo de exploração da terra, e assim, em 1813, acabou por aceitar a
oferta de compra por parte de João Pereira Nunes. Este também não se interessou
pelo trabalho agrícola, não beneficiando ou plantando absolutamente nada em
suas glebas e vendendo-as no ano seguinte ao Capitão Bernardo Vieira, casado
com D. Escolástica Maria de Jesus. O casal, então, deu à fazenda o nome de
Paraíso, ali iniciando alguns trabalhos de aproveitamento racional do solo.
O Capitão Bernardo
faleceu em 1838, e através de seu inventário as terras da Paraíso viram-se
retalhadas em sete partes, surgindo dessa forma as fazendas União, Esperança,
Sapucaia, São Luís, São Policarpo, Divisa e Sossego. Dessa ampla partilha entre
os herdeiros do casal, passaram às mãos de José Vieira Machado e de sua esposa
Lina Laudegária Vieira e Souza as terras onde atualmente encontra-se alojada a
Fazenda União. Já em 5 de setembro de 1853, a propriedade foi vendida para Antônio
Pereira da Fonseca Junior, que na mesma época comprou também a Fazenda
Esperança. Como curiosidade, o novo proprietário recebeu uma escritura onde
constava não o nome Fazenda União, mas sim Fazenda Saudades do Rio,
desconhecendo-se as razões pelas quais tal título fora a ela conferido.
O barão e visconde do
Rio Preto (Domingos Custódio Guimarães) apôs na propriedade o antigo nome
União, ao assumi-la em 18 de setembro de 1859. Em virtude de sua esplêndida
localização, junto aos caminhos que se infletiam para as bandas das Minas
Gerais, a fazenda transformou-se em pouso obrigatório para os viandantes, logo
se tornando conhecida e bastante frequentada dentro dos limites da jovem
Freguesia de Santa Teresa de Valença (hoje Rio das Flores). Após a morte do barão,
seu herdeiro Domingos Custódio Guimarães Filho recebeu a fazenda em 1867 como
dote de casamento, dela se tornando proprietário ao lado da esposa Maria Balbina
de Araújo. Já em 1873, o médico Camilo Bernardino Fraga e sua esposa Luíza
Vieira da Cunha Fraga tornaram-se donos da União. Contudo, a Abolição da
Escravatura - a exemplo do ocorrido em todas as demais fazendas de café -
acelerou o nefasto processo de decadência da União, deixando-a com dívidas e
com sérios problemas estruturais a resolver.
A viúva D. Luíza, em virtude das
gravíssimas dificuldades financeiras da fazenda, obrigou-se a vendê-la para
João Alves Montes em 1901. Entretanto, no ano de 1918 o senhor Melchiades
Augusto de Mourão Matos - que abandonara o hábito de padre para se casar com D.
Olga Morgante Ferreira - adquiriu a fazenda de João Alves, repassando-a em 1922
para José Rodrigues de Almeida, casado com D. Prudência de Almeida.
Esse último casal decidiu-se então por
diversificar as tarefas da fazenda, deixando de lado os trabalhos agrícolas que
até ali a caracterizavam. Assim, sua atividade produtiva voltou-se para a
pecuária, calcando seus serviços na criação de gado leiteiro, uma ação
econômico-financeira que já se espalhara com sucesso pelo vale do Paraíba.
A União ficou em posse dos herdeiros de
Rodrigues e Prudência até 1972, quando foi vendida para Vicente Crispin de
Oliveira e D. Filomena Faria de Oliveira. Comprada vinte anos depois por João
Manoel dos Reis Filho, a centenária construção foi totalmente revitalizada,
recebendo os confortos de uma moderna residência, sendo então recuperados os
telhados, as paredes de pau-a-pique, os pisos e toda estrutura de madeira, inclusive
aquela encontrada nos seus antigos porões. Por sua vez, as áreas externas
receberam um carinho especial dos proprietários, nelas se implantando um
projeto paisagístico com o qual se preservou tanto suas árvores multitudinárias
quanto outras espécies botânicas oriundas dos jardins ali traçados no período
imperial.
Casando-se tempos
depois com Rosalina Monteiro dos Reis, João Manoel buscou divulgar os costumes
e as belezas do período cafeeiro, transformando a Fazenda União em um belo
espaço de cultura e lazer.
A casa-sede apresenta características de casarão de um pavimento com
porão habitável em um trecho paralelo à fachada frontal. À frente e à esquerda,
existe uma construção constituída por um bloco retangular coberto por um
telhado de quatro águas e alpendre, provavelmente um remanescente da antiga
senzala onde circularam anteriormente mais de duas centenas de escravizados. Em
frente a essa edificação, existia o terreiro de secagem do café, hoje coberto
por um gramado com detalhe de piso em pedra. Assim, baseado nessas observações,
não se pode afirmar que tipo de ocupação predominante tenha sido adotado como
modelo, já que a casa-sede fechava um
dos lados de um grande espaço quadrangular em torno do qual agrupavam-se também
dependências como senzala, tulha, engenho e oficinas.
A principal característica dessa categoria, com exceção da
horizontalidade, é a existência, ao centro da fachada principal, de uma
escadaria de um ou dois lances levando a um patamar coberto por um copiar.
Hoje, o que existe é uma escadaria de três lances levando a um vestíbulo de
entrada, e devido às suas peculiaridades e localização, provavelmente se trata
de uma intervenção posterior. Se em algum momento da história dessa fazenda
existiu essa característica, não podemos afirmar. Não existe nenhum indício no
local ou dados históricos sobre o assunto.
O acesso ao seu interior se
dá através de cinco entradas distribuídas em vários cômodos. As duas entradas
principais estão localizadas nas fachadas frontal e lateral direita.
Fonte
Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba