Em busca do smartphone sustentável
Com alta emissão de carbono na fabricação e produção imensa de lixo eletrônico, celulares são um desafio para empresas
25/10/2019
Planeta Colabora
Edição 265
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Existem hoje no mundo 5,18 bilhões de
celulares. Destes, pelo menos 2,7 bilhões são smartphones - ou seja, 35% da
população mundial têm um deles. São aparelhos que consomem pouca energia em sua
operação, e 85% de suas emissões de gases de carbono vêm de sua produção. A
maior parte da energia consumida no processo se deve à mineração de metais
preciosos colocados em seus chips e placas-mães. Estes são extraídos em muitas
zonas de conflito. Só a compra de um celular envolve dez vezes mais energia que
o uso de um por dez anos.
São máquinas de conserto caro e...
Mas
esta é apenas parte do problema. São máquinas de conserto caro e, com sua
obsolescência, duram pouco, causando um enorme desperdício de materiais e uma
quantidade imensa de lixo eletrônico - que vai parar aos milhões em cidades de
países como a Índia e China, onde seu desmanche custa vidas por conta do grau
tóxico de seus componentes.
Um telefone ético
Assim, fabricar um smartphone que dura muito
pode ser uma saída. É a proposta da empresa holandesa Fairphone, que lançou mês
passado o terceiro modelo do que chama de um telefone ético - porque cinco de
seus materiais (estanho, plástico, cobre, ouro e tungstênio) têm origem em
processos sustentáveis. Os três
primeiros são 50% reciclados. Além deles, a empresa agora busca a exploração
limpa de cobalto, lítio e um metal raro chamado neodímio. A ideia é ter até o
final do ano 40% de todos eles de fontes sustentáveis ou reciclados.
"Desenvolvemos nosso terceiro modelo para ser
uma alternativa sustentável real no mercado, o que é um grande passo para uma
mudança duradoura. Ao criar um mercado para produtos éticos, queremos motivar
toda a indústria a agir com maior responsabilidade, já que não podemos fazer
isso sozinhos. Pensamos em uma economia onde a consideração pelas pessoas e o
planeta seja um modo natural de fazer negócios" - Ewa
Gouens, CEO da Fairphone
Não é
muito, mas é um bom começo. São apenas oito materiais, mas um smartphone tem em
geral 40 deles diferentes, que se integram de modos diversos como componentes.
Cada um deles tem sua complexa rede de fornecimento. Pode haver cinco empresas
diferentes entre a fabricação e sua origem. O que a Fairphone planeja é focar
em redes onde a empresa acredita que sua pesquisa pode ter o maior impacto.
Ouro certificado
Para ilustrar a dificuldade de rastrear
fornecedores, a gerente de rede Laura Gerritsen conta que começou pelo ouro,
que tem o maior peso na placa de circuito, e falou com os fornecedores do
minério para saber exatamente sua procedência. Então seguiu todos os subfornecedores
até descobrir as minas de extração, agora pronta para convencê-los a buscar
minas certificadas por sua companhia, para garantir padrões de segurança aos
trabalhadores, direitos das mulheres e transparência, entre outros critérios.
Apenas este processo durou dois anos.
Cobalto
Outro exemplo é o do cobalto utilizado nas
baterias. A empresa está recolhendo lixo eletrônico de países como Gana e
Nigéria na tentativa de salvá-los. O cobalto ainda não é utilizado nos
telefones de agora, mas o cofundador Miquel Ballester disse que a companhia
está fazendo testes com esta meta em vista. Ele acredita que ações assim
ajudarão a educar o consumidor a insistir em materiais éticos na hora da
compra.
Um mercado para produtos éticos
A CEO da Fairphone, Eva Gouwens, explicou o
novo modelo. "Desenvolvemos nosso terceiro modelo para ser uma alternativa
sustentável real no mercado, o que é um grande passo para uma mudança
duradoura. Ao criar um mercado para produtos éticos, queremos motivar toda a
indústria a agir com maior responsabilidade, já que não podemos fazer isso
sozinhos. Pensamos em uma economia onde a consideração pelas pessoas e o
planeta seja um modo natural de fazer negócios".
Uma iniciativa ambiciosa
É uma iniciativa ambiciosa a de gerar um
clima que empurre os setores de eletrônica e de consumo em direção a um futuro
circular - com condições mais justas de trabalhos em todas as duas redes e
redução de lixo e uso de recursos -, além do foco na longevidade do produto com
modelos mais fáceis de consertar e na reutilização de componentes.
Um
grande problema, conta o fundador da empresa Bas van Abel, é que quanto mais fundo
se mergulha na malha de fornecimento, mais confusão se encontra e pior fica.
Mas, na ponta da fabricação as coisas são mais controladas.
Seus
trabalhadores ganham bônus por desempenho
O Fairphone é montado em uma fábrica parceira
em Taiwan, a Arima. Seus trabalhadores ganham bônus por desempenho com base em
metas sociais, em vez de adotar uma atitude que é praxe no mercado: a de punir
fabricantes que não conseguem cumprir metas exageradas de entrega.
Foto 1 - Lançamento em Berlin
do Fairphone 3: Eva Gouwens, CEO da empresa holandesa,
explica que novo celular conta com cinco materiais que têm origem em processos
sustentáveis (Foto: Bernd von Jutrczenka/DPA)