Receitas culinárias adaptadas para pacientes com diabetes
Pesquisadoras da UFSC testam dietas com ervas e especiarias para substituir açúcar e sal no preparo de refeições para pessoas com diabetes mellitus tipo 2
06/12/2019
Planeta Colabora
Edição 271
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Foto 1 - Receitas culinárias
adaptadas para pacientes com diabetes: pesquisa testou substituição de alimentos
(Foto: Christine Sponchia/Pixabay)
Nicole Treevisol
Alimentação é saúde; ou não. As nossas escolhas nutricionais interferem
no comportamento do nosso corpo, seja de maneira positiva ou negativa. O estudo
de Camila Vieira Tiecher, realizado durante o mestrado no Programa de
Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob
orientação de Ana Carolina Fernandes, realizou a adaptação, o teste e a
avaliação de receitas culinárias voltadas a pessoas com diabetes mellitus tipo
2 (DM2).
A pesquisa "Adaptação e testes de receitas culinárias do Programa
Nutrição e Culinária (NCC) na Cozinha para indivíduos com diabetes mellitus
tipo 2" surgiu para dar continuidade ao programa desenvolvido pela professora
vinculada ao Departamento de Nutrição da UFSC e coorientadora de Camila, Greyce
Luci Bernardo, durante o doutorado.
As receitas adaptadas foram retiradas do NCC com o objetivo de auxiliar
os participantes no preparo de receitas culinárias que estimulem práticas
alimentares saudáveis. "No meu estudo, adaptamos as receitas que têm baixo
índice glicêmico e as testamos com indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, uma
doença com alto índice no Brasil e no mundo", diz Camila. Para a
pesquisadora, o tratamento de pessoas com essa doença pode passar pelo consumo
de alimentos com baixo índice glicêmico (IG).
"As receitas culinárias adaptadas
apresentaram baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica por porção da
receita e baixa carga glicêmica por refeição. Todas as receitas culinárias
degustadas pelos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 foram aprovadas, com
exceção do painço com salsinha. Os participantes destacaram o uso adequado de
ervas e especiarias em substituição ao sal nas preparações salgadas e ao açúcar
nas preparações doces" - Camila
Vieira Tiecher, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFSC
O índice glicêmico é um indicador que aponta a velocidade em que um
alimento com carboidrato eleva a glicose no sangue, ou seja, ele diferencia os
alimentos que, mesmo tendo a mesma quantidade de carboidrato, podem ter índices
glicêmicos diferentes (um mais alto que o outro). Esse processo está
diretamente associado com o nível de açúcar que circula no sangue. "Observamos
na literatura científica o potencial de dietas com baixo índice glicêmico no
tratamento de pessoas com DM2, por isso buscamos adaptar receitas culinárias
especialmente para esse público. Percebemos, após as buscas bibliográficas, a
ausência de metodologia de adaptação e desenvolvimento de receitas culinárias
para DM2", explica a pesquisadora.
Substituição de alimentos em 18 receitas
Na primeira etapa da pesquisa, foram identificados e substituídos os
ingredientes de alto e médio índice glicêmico (IG) das receitas culinárias do
NCC por ingredientes de baixo IG. Na etapa seguinte, as receitas culinárias
adaptadas foram testadas no Laboratório de Técnica Dietética da UFSC e
verificou-se sua adequação quanto ao preparo, por meio de oficina com
especialistas.
As receitas culinárias adaptadas foram degustadas e avaliadas
qualitativamente, por meio de grupos focais, com indivíduos com diabetes
mellitus tipo 2 que apresentaram opiniões e sugestões de melhorias sobre as
preparações culinárias.
Foram analisadas 32 receitas culinárias do Programa NCC e aquelas que
apresentaram alimentos de alto ou médio índice glicêmico foram adaptadas. Do
total, 18 receitas foram adaptadas, sendo que as principais alterações foram as
seguintes: substituição do arroz e do macarrão pela couve-flor picada cozida
com alho e a abobrinha em tira selada; e uso de frutas e especiarias para dar
sabor a sobremesas sem açúcar ou adoçantes. "As receitas culinárias
adaptadas apresentaram baixo índice glicêmico, baixa carga glicêmica (CG) por
porção da receita e baixa CG por refeição. Todas as receitas culinárias
degustadas pelos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 foram aprovadas, com
exceção do painço com salsinha, que foi excluído. Os participantes destacaram o
uso adequado de ervas e especiarias em substituição ao sal nas preparações
salgadas e ao açúcar nas preparações doces", elucida Camila.
Foto 2 - Receitas adaptadas para pessoas com diabetes tipo 2: elogio ao
uso de ervas, frutas e especiarias em substituição ao sal e ao açúcar (Foto:
Anna Pelzer/Unsplash)
De acordo com a pesquisadora, o programa de intervenção culinária busca
o desenvolvimento do autocuidado com a alimentação e de hábitos alimentares
mais saudáveis que contribuam para o controle glicêmico, bem como para a
elaboração e adesão às dietas prescritas por nutricionistas. "A pesquisa
demonstrou ser possível obter uma refeição completa, saudável e bem aceita por
indivíduos com DM2 utilizando apenas ingredientes de baixo índice glicêmico.
Assim, o objetivo das adaptações das receitas culinárias foi introduzir
alimentos de baixo IG, para dar alternativas de substituição", diz ela.
"As receitas culinárias adaptadas e
aprovadas para o público-alvo desenvolvidas nesse projeto visam auxiliar na
adesão às dietas prescritas por nutricionistas, além de poderem ser
incorporadas a programas de intervenção culinária para o desenvolvimento de
hábitos alimentares mais saudáveis, auxiliando na autonomia e no autocuidado" - Camila Vieira Tiecher, pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFSC
Mais de 16 milhões com diabetes
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, mais de 16,5 milhões de pessoas
no Brasil possuem a doença e a metade delas desconhece o diagnóstico. Dados
divulgados dia 14 de novembro de 2019 pela Federação Internacional de Diabetes
apontam um aumento mundial da doença de 55% até 2045.
Uma vida saudável é fundamental para prevenir doenças com a diabetes
mellitus tipo 2. As recomendações do Ministério da Saúde para prevenir a doença
são: praticar atividades físicas regularmente, evitar o consumo de álcool,
tabaco e outras drogas e manter uma alimentação saudável.
Camila aponta que o tratamento da diabetes mellitus tipo 2 baseia-se,
principalmente, na alimentação adequada e saudável. Porém, a literatura
científica demonstra haver dificuldades em adesão à dieta, bem como consumo
alimentar inadequado pela maioria dos indivíduos com DM2 em vários países
quando comparado com as recomendações específicas para esse público.
"Assim, as receitas culinárias adaptadas e aprovadas para o
público-alvo desenvolvidas nesse projeto visam auxiliar na adesão às dietas
prescritas por nutricionistas, além de poderem ser incorporadas a programas de
intervenção culinária para o desenvolvimento de hábitos alimentares mais
saudáveis, auxiliando na autonomia e no autocuidado desses indivíduos",
finaliza a pesquisadora.
Os próximos passos do grupo de estudo é incorporar as receitas
culinárias ao programa Nutrição e Culinária na Cozinha e realizar oficinas
culinárias na UFSC para esse público, tanto com a comunidade acadêmica como com
moradores da Grande Florianópolis.
*Agência de Comunicação da UFSC